Obama e as Crianças Sírias por Geraldo Galindo (*)
Tive a oportunidade de assistir ao vivo na TV o discurso do presidente norte-americano para justificar o bombardeio à Síria. Argumentou ser inaceitável a uso de armas quimicas contra o povo, especialmente quando se atinge crianças.
Na reunião do G-20, mais uma vez, ao falar para o mundo, reiterou seu compromisso em defesa das crianças da Síria. E desde então, a cantilena vem se repetindo em todas as falas dele. A insistência nessa linha de proteção aos indefesos tem o objetivo de sensibilizar a opinião pública interna, até o momento, em sua maioria, contra mais uma aventura de guerra.
Cabe lembrar aqui que quando George Bush decidiu invadir o Iraque, o governo mostrou “cenas” captadas por satélites de caminhões transportando as tais armas químicas que nunca apareceram. Fora uma fraude grotesca e novamente se usa o mesmo argumento, mas tendo como “provas”, apenas a garantia da “inteligência” dos EUA. É muito difícil imaginar que um dirigente de um país ameaçado por inimigos poderosos aceite receber inspetores da ONU para um dia antes da chegada deles espalhar gás químico num bairro próximo de onde a delegação iria se hospedar, e sabendo que o líder da principal potência militar do mundo tinha colocado como “linha vermelha” que não poderia ser ultrapassada a utilização dos tais gases.
Mas voltemos às crianças. Não faz muito tempo, o soldado norte-americano Bradley Manning foi condenado a 35 anos de prisão nos EUA. Seu crime principal foi repassar um vídeo ao WikiLeaks com cenas reais da força aérea norte-americana jogando bombas sobre a população civil do Iraque, incluindo crianças, uma prática comum do país dos “direitos humanos” para aterrorizar a população dos países que invade. Em outros documentos divulgados é comprovada a prática de tortura pelo exército norte-americano na prisão de Guantânamo, que o “democrata” Obama prometera fechar quando candidato.
E também não faz muito tempo, poucos dias antes do ataque terrorista à maratona de Boston, os soldados norte-americanos lançaram bombas sobre um vilarejo no Afeganistão, matando os civis, especialmente crianças, idosos e mulheres, prática que se repete com frequência – parece até ser uma diversão das tropas de Obama.
Então, fica claro que o presidente dos EUA não tem nenhuma compaixão pelas crianças que jura proteger, pois se necessário for, elas recebem as bombas para a política de pilhagem dos povos pela “maior democracia do mundo”. Se calcula a morte de cerca de 100 mil pessoas na guerra civil da Síria. Muito provavelmente, se os mercenários e terroristas não fossem armados e financiados pelos EUA e seus fantoches na Europa, esse conflito já teria acabado, mas a política de derrubar governos que não se submetem aos interesses imperialistas fala mais alto. Destes 100 mil, quantas crianças são calculadas?
Se o governo dos EUA dizem que morreram 1.400 pessoas pelas armas químicas, morreram outros 98.600 habitantes sírios por outros tipos de armas. Aqui constatamos uma situação complexa. Estamos chegando à conclusão macabra, a de que dezenas de milhares podem morrer atacadas por “armas convencionais”, mas 1.400 não podem ser por armas químicas. Se quisermos ser honestos, essas quase 100 mil pessoas que morreram, são de responsabilidade dos que estão a “defender” as crianças, pois são suas armas, bombas e muito dinheiro que patrocinam a violência num país que tem o direito e a obrigação de defender seu território e seu povo de invasores.
Barack Obama poderia em sua luta em defesa da vida das crianças pedir desculpas ao povo japonês pelas duas bombas atõmicas despejadas sobre a população civil que deixou mais de 200 mil mortos ( e é triste e deprimente ver um país vítima da bestialidade humana defender o bombadeio na Síria por quem lhe atacou covardemente); poderia pedir desculpas ao povo argentino que teve uma ditadura militar que assassinou cerca de 30 mil pessoas apoiada e sustentada pelos EUA, onde as crianças eram sequestradas por militares treinados pela CIA; poderia também suspender o apoio financeiro, diplomático e militar a Israel, um estado terrorista que sequestra, tortura e mata crianças na Palestina desde 1948 – a propósito, em determinado período, o alvo dos tiros dos soldados israelenses contra a população civil da Palestina eram os órgãos sexuais, exatamente para que o povo não pudesse ter mais filhos (crianças). Obama nunca se dará ao luxo de perder tempo para especular quantas crianças palestinas foram trucidadas pela mais cruel máquina de guerra existente no mundo, a aliança EUA/Israel. Para eles, essas crianças seriam “terroristas” no futuro e é melhor que sejam logo eliminadas.
As forças armadas norte-americanas são disparadamente os responsáveis pela maior quantidade de morte na nossa história recente, incluindo as criancinhas que Obama tanto cita. Elas se envolveram em guerras, bombardeios e invasões variados (Coreia, Vietnan, Camboja, Laos, Granada, Panamá, Iraque, Bósnia, Afeganistão, Libia etc.) Em todas essas incursões povos foram massacrados impiedosamente por conta da cobiça de governos que ignoram completamente o direito à soberania das nações.
As centenas de milhares ou talvez milhões de pessoas que morreram – incluindo as crianças – foram alvo de um país que sempre usou artifícios cínicos para sustentar invasões que tem como objetivo central saquear as riquezas e subjugar governos, os tornando vassalos, como ocorre atualmente no Afeganistão, onde se calcula a morte de 40 mil pessoas depois do país ser invadido por tropas ianques. A intenção de Obama agora é a mesma de todos os presidentes anteriores, curvar a Síria aos seus interesses. Na sequência, sitiaria o Irã e se tornaria absoluto naquela região riquíssima em petróleo. Crianças, para o prêmio nóbel da paz responsável direto pela mortandade de civis afegãos, que despejou bombas sobre o povo da Líbia e agora quer promover carnificina na Síria, nada significam, são apenas escudos para esconder os verdadeiros interesses de quem quer dominar e saquear o mundo.
O presidente da Síria Bashar al-Assad tem dito que não promoveu aquela insanidade contra seus inimigos políticos e não há prova alguma de que tenha sido.Obama jura ter as provas, mas não as mostra. Se o presidente dos EUA, a expressão política formal da indústria armamentista e petrolífera e dos bancos norte-americanos decidir pelos ataques “limitados” (90 dias), provavelmente teremos de novo milhares de civis mortos – como sempre ocorreu nos bombardeiros “cirúrgicos” vindos do “xerife” do mundo. E Barack Obama estará repetindo a crueldade de assassinar crianças, prática corriqueira da maior potência imperialista do planeta. Pra encerrar, sejamos sinceros e convenhamos, a tese de Bush de ter ouvido um pedido de Deus para invadir o Iraque é bem mais original que o diversionismo infantil daquele que foi a esperança para os ingênuos de que alguma coisa mudaria no EUA .
(*) – Geraldo Galindo é presidente do PCdoB em Salvador