Para fazer uma mobilização de 100 mil pessoas por Wilson Gomes
Comece com os ativistas de organizações sociais (AOS), que passam a vida em manifestações de obstrução (fechamento de vias) e ocupações, por meio do qual distribuem incômodo e coletam antipatia social…..
INGREDIENTES
2,5 unidades de ativistas semiprofissionais e profissionais de organizações sociais;
0,5 unidade de militantes Ferrabrás;
3,5 unidades de garotos cartolina+guache+instagram;
1,5 unidades de tiozinhos de passeata;
1 unidade de militantes de partidos políticos;
1 unidade de manifestantes da nova direita e de antipetistas;
PROCEDIMENTO
Comece com os ativistas de organizações sociais (AOS), que passam a vida em manifestações de obstrução (fechamento de vias) e ocupações, por meio do qual distribuem incômodo e coletam antipatia social. Dispostos em condições adequadas e com uma pauta atraente, entretanto, eles às vezes podem disparar processos aglutinadores que ajudam a engrossar o caldo. Para isso, é muito importante que eles digam o tempo todo que não pertencem a partidos políticos e a movimentos sociais muito caracterizados, para não serem confundidos com os militantes de partidos, que têm uma textura muito desagradável.
Reserve os militantes Ferrabrás (MF). Devem ser usados com parcimônia, porque embora deem aquele peculiar sabor picante à mistura, podem espantar paladares muito delicados. Salpique um pouquinho à massa e vá ajustando a gosto até formar um bom caldo de hooligans de passeata. Cuidado que eles reagem com militantes, com a nova direita e com antipetistas e podem escapar ao controle, destruindo completamente o sabor dos garotos cartolina &guache, que é o que dá o charme da mistura.
Nos primeiros 2 ou 3 dias, misture bem os AOS e os MF, lembrando de começar com os primeiros e deixar os outros para mais tarde da noite. Espere o batalhão de choque reagir com a sua peculiar sutileza e, então, acrescente doses generosas de garotos guache&cartolina (GCI) e espere que os tiozinhos de passeata (TP) se juntarão sozinhos. Eles começarão a reagir imediatamente produzindo uma “sauce” divina conhecida como “romantismo político”. Recolha este caldo, tempere com um pouco com a noção neo-rousseauísta de que os jovens são pureza e generosidade até ficaram velhos e egoístas, e regue generosamente toda a massa até que este seja o sabor dominante. Você vai sentir que pouco a pouco o gosto de antipatia social que a mistura de AOS e MF provoca será substituído pelo sabor adocicado da estima coletiva que vem dos garotos.
Você também não precisa acrescentar militantes de partidos, nova direita e antipetistas. Eles se acrescentarão sozinhos. No começo, o gosto deles ficará disfarçado pela predominância de GCIs e TPs, mas se a manifestação durar um pouco mais eles serão cada vez mais visíveis. Eles darão mais consistência política à massa, mas não necessariamente mais sabor e charme. Controle a sua visibilidade o máximo possível e, sobretudo, não deixem que eles se toquem ou se misturem porque a reação química das substâncias que produzem pode por tudo a perder.
Desfrute sem moderação, porque só se consegue um prato desses a cada 20 anos.
Amanhã ensinarei como é que essas receitas começam a desandar. Não percam.