Quem te viu, quem te vê! Por Walter Takemoto
Para quem já teve Paulo Freire na educação, ter que ouvir Ney Campelo é o fim do caminho! Paulo Freire foi secretário da educação da cidade de São Paulo na gestão do PT quando a prefeita foi Luiza Erundina. E após sua saída a secretaria foi assumida por Mário Sérgio Cortella e Lisete Arelaro.
Hoje o jornal A Tarde publica uma entrevista com o Ney Campello falando pela secretaria estadual de educação do governo da Bahia tentando rechaçar que está em curso na Bahia um processo de militarização da escola pública, seja transformando em CPM ou “implantando a filosofia e a metodologia militar”, que Ney agora diz que é responsabilidade da PM e dos municípios.
Entre Paulo Freire, Mário Sérgio Cortella e Lisete Arelaro que assumiram a secretaria de educação de SP em 1988 e essa entrevista do Ney Campello em 2018, existe uma diferença de 30 anos.
Mas as diferenças que separam os três educadores e o Ney Campello são inimagináveis, é impossível se comparar o conhecimento e o comprometimento com a escola pública, seus profissionais e estudantes.
Diz Ney Campello na entrevista:
“O que eu não tenho é o preconceito com aprendermos com a experiência. Do mesmo jeito que temos experiência de escolas quilombolas, escolas indígenas, o CPM também é uma experiência. Disciplina nada tem a ver com autoritarismio. Não confundo as duas coisas. Precisamos desmilitarizar o preconceito, acabar com esse patrulhamento das experiências.”
Para informar ao Ney Campello:
– Colégio militar não é uma experiência, o primeiro foi criado em 1889 e na Bahia o primeiro CPM foi criado por decreto de 1957
– Escolas quilombolas e indígenas possuem políticas nacionais, resoluções do Conselho Nacional de Educação e uma vasta legislação e produção acadêmica e pedagógica que fundamentam desde a construção das escolas, a formação de seus profissionais, a organização e o desenvolvimento curricular, a elaboração dos materiais e a relação do ensino com o contexto histórico e cultural
E se o Ney Campello a frente da secretaria pretende fazer experiência, tem todo o direito de fazer consigo mesmo ou com seus filhos, mas como gestor de uma secretaria não pode e nem deve fazer experiência com os filhos dos trabalhadores que estudam nas escolas públicas baianas.
Ou então pode se candidatar a ser gestor de biotério.
Ney para não precisar enfrentar o debate sobre a militarização das escolas públicas, que encontra resistência nas universidades, escolas e entre aqueles que defendem uma sociedade radicalmente democrática, recorre ao velho jargão do “patrulhamento”.
Ney recorreu ao Cacá e ao Caetano para tentar se omitir do debate ou se blindar contra críticas.
Só que Ney Campello não é Cacá Diegues ou Caetano Veloso, e muito menos Ney Matogrosso.
Ney Campello é gestor de uma secretaria de educação, tem sob sua responsabilidade escolas públicas, profissionais da educação e estudantes. É responsável pela formação dos mesmos, assim como com recursos públicos pagos pela população pobre.
Portanto, se Ney pretende estar acima de críticas (ou patrulhamento como chama) é simples: volte para casa!
E tenho uma certeza absoluta: ao contrário de Paulo Freire, Mário Sérgio Cortella e Lisete Arelaro, o Ney Campello assim que deixar o cargo que ocupa será esquecido.
E será esquecido pois precisa do cargo para ser notado.
Por fim Ney Campello, profissionais da educação e as crianças, adolescentes e jovens das escolas públicas não precisam de “experimentadores”, necessitam urgentemente de quem valorize a escola pública, invistam de forma consistente em políticas de qualidade de longo alcance, construam um sistema de escolas gerido de forma democrática e participativa com todos os que nela ensinam e aprendem.
Disso eu sei que você não entende.
Walter Takemoto é educador