Repúdio a campanha veiculada em outdoor pelo Cremeb com prática de racismo estrutural
Após realização da IV Reunião Ampliada nesta quarta-feira (05.04), o Conselho Estadual de Saúde da Bahia demonstrou o seu repúdio à Campanha veiculada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) em Outdoor que demonstra a prática de racismo estrutural.
Na campanha a frase apresentada no outdoor do Cremeb diz: “O Cremeb é da Dra. Lívia e do seu Caio”, ao mesmo tempo em que representa através da imagem a Dra. Lívia como uma mulher branca, médica e o seu Caio como um homem negro que é o paciente.
O presidente do CES-BA, Marcos Sampaio, afirma que é necessário que sejam tomadas medidas cabíveis para que ações como essa não se repitam. “É inadmissível que em pleno 2023 ainda tenhamos que pontuar questões como essa. Além da retirada do outdoor é necessário que o Cremeb assuma o compromisso de ter uma política de combate ao racismo, e desenvolva atividades de conscientização”.
O racismo estrutural acontece quando alguém privilegia um grupo de certa etnia ou cor em detrimento de outro, percebido como subalterno. Diz respeito a um processo histórico em que condições de desvantagens e privilégios a determinados grupos étnico-raciais são reproduzidos nos âmbitos políticos, econômicos, culturais e até mesmo nas relações cotidianas.
Historicamente neste segmento há uma predominância de profissionais brancos, e apesar do aumento gradativo de pessoas pretas nos cursos de medicina ainda existe uma invisibilização destes profissionais que vai desde o processo de inserção nas universidades, até no exercício da prática do trabalho.
Na Bahia, só em março deste ano dois supostos casos de racismo praticados por médicos foram denunciados. O primeiro caso aconteceu em Vitória da Conquista, onde a suspeita teria chamado trabalhador de “macaco” após ser informada que não poderia deixar carro em estacionamento, que já estava lotado. Já o segundo caso, aconteceu em Feira de Santana. Uma médica está sendo investigada pelo crime de racismo contra uma paciente de 3 anos. De acordo com a denúncia, a profissional de saúde, que é ultrassonografista, perguntou se a vítima era “filhote de urubu ou de macaco”.
O CES-BA pontua ser necessário que Associação Bahiana de Medicina (ABM) se posicione no que se refere a essa ação, e que tomem medidas para investigar e solucionar esse problema garantindo que o Cremeb, Associações Médicas e Sociedades de Especialidade cumpram com o seu papel de proteger e promover a saúde de todos os cidadãos, independentemente de sua raça ou etnia.
Também considera que mesmo sendo uma campanha que possa não ter a intenção privilegiar uma classe ou cor, acaba trazendo como resultado final questões que não podem ser anuladas, uma vez que racismo é crime em suas diversas formas e precisa ser alertado.
“Sabemos da importância dos profissionais médicos que são responsáveis por cuidar da saúde de todos nós, e justamente por esse motivo que é necessário que tenhamos a garantia de acesso e respeito a todos que queiram integrar essa área”, afirma Marcos Sampaio.
O Conselho Estadual de Saúde da Bahia enviará um ofício ao Cremeb solicitando a retirada do outdoor e da campanha das redes sociais, assim como enviará um ofício à ABM para que práticas como esta não aconteçam em nenhuma instituição de saúde.