Aldeia Nagô
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Retornar às raízes ou ceder à direita, eis a questão. Por Moisés Mendes

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Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

Se juntassem num mesmo espaço analógico, e não na internet, nesses dias pós-eleição, um grupo variado de militantes de esquerda, incluindo dirigentes, quadros intermediários com capacidade de intervenção em falas e ações políticas e mais a base histórica e recente dos partidos, teríamos uma babel pré-PT, do tempo dos DCEs, das Libelus e dos MR-8.

De um lado, ficariam os que desejam radicalizar discurso e ação, num esforço para compensar até a data da eleição do segundo turno, daqui a duas semanas, o que não foi feito cotidianamente durante anos.

Do outro lado, estariam os que entendem que a base política formada em nome da governabilidade deve ser ampliada com a ajuda de Kassab e Arthur Lira, sempre pensando em 2026, ou a vaca, o boi e os bezerros vão pro brejo, levando todas as emendas PIX.

A primeira turma, a da volta às raízes, acredita ser possível retomar a conversa com o povo e as periferias sobre os valores envolvidos na defesa dos trabalhadores, mesmo que esses tenham sido cooptados como futuros mensageiros de Deus ou da prosperidade de Pablo Marçal.

Na mesma linha, intensifica-se o apelo para que o PT e as esquerdas reconquistem as almas coletivas da classe média, que também estão na origem do partido e do lulismo, apesar de dispersas e cada vez mais infiéis.

Os defensores da volta às raízes estão incomodados com os que se agarram à salvação pelo alargamento da base de sustentação de Lula. Porque essa base seria expandida, é claro, pela direita.

O PT se fragilizou nas grandes e médias cidades, os trabalhadores do século 20 não existem mais com as mesmas feições, os estudantes e os professores se distraíram e os sindicalistas foram aniquilados pela competência das reformas dos que agora venceram a eleição. Não há mais a UNE de tempos idos e nem padres progressistas existem mais.

Nas bordas dessa conversa em que existem mais do que diferenças, com alguns conflitos profundos sobre a compreensão do que aconteceu e sobre as possíveis saídas, apresenta-se ainda a controvérsia sobre o avanço da militância e das candidaturas identitárias, que teriam desfigurado a pregação classista histórica das esquerdas.

Com uma ressalva: se não fossem as candidaturas identitárias, algumas cidades teriam anunciado o fim das esquerdas locais. O que talvez empurre o debate para outra abordagem possível, a de que o problema não é dos identitarismos, mas da fragilidade dos ‘outros’ mais antigos que não os compreendem, que perderam terreno e ficaram para trás.

O que temos é quase uma guerra de versões sobre o retrato do cenário pós-eleição, com muitos desencontros sobre as estratégias do que e como fazer para reconstruir raízes e atacar, ou criar uma frente ampla com a direita de centro e conviver numa boa e moderar. 

Como 2026 fica depois da esquina, logo saberemos o que prevaleceu, o que deu certo e o que deu errado. Se é que teremos forças e liberdade para o debate, depois de 2026, se tudo der errado.

Artigo publicado no Brasil 247

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