Aldeia Nagô
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Santo Amargo da Purificação. Por J. Velloso

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Sou santamarense e venho aqui pedir desculpas a todos que acreditam na educação como um mecanismo essencial para o crescimento de uma sociedade.

Sinto vergonha pela minha cidade diante dos professores, alunos e funcionários da UFRB, ao ver tanta estupidez maquiavélica, ao quererem tomar o terreno destinado ao campus universitário para dar lugar a um supermercado. Parece surreal, mas seguimos trocando ouro por bugigangas.

Ainda mais vergonhoso é o argumento de que a cidade será “beneficiada” com quinhentos empregos diretos, empregos esses que, certamente, serão subempregos, perpetuando a triste tradição do “escravo de ganho”.

Mas, entre todas as asneiras proferidas, a mais absurda é a de que a “universidade em Santo Amaro não gera lucro”. A cidade, que foi palco de grandes pensadores que influenciaram positivamente a história do Brasil, tornou-se uma “máquina de loucos”, dominada por comerciantes medíocres, que, com antolhos, se vendem agora por vantagens rasteiras, destruindo a alma histórica de Santo Amaro.

Educar não é ensinar a ganhar dinheiro — isso se aprende até vendendo pão ou prego. Ter conhecimento é a possibilidade de almejar a liberdade, e a liberdade é a maior riqueza que podemos conquistar. 

O que direi aos amigos que não são santamarenses sobre o que está acontecendo? Aqueles que amam e admiram “O céu de Santo Amaro” por tudo o que ela já foi, mas que, infelizmente, está deixando de ser. 

O mais preocupante, no entanto, é o êxodo dos conterrâneos da sede para o distrito de Pedras ou para Salvador, o que é um sintoma claro de que a cidade já vive seus estertores.

Não conseguimos “mandar os malditos embora”, eles se multiplicam e espalham o “horror do progresso vazio”, enquanto “ri-se a orquestra irônica, estridente”.

Escrevo também para parabenizar aqueles que não se deixaram afundar junto aos escombros que a cidade está se tornando. E digo que, mesmo nessa tristeza, me sinto aliviado por não compactuar com essa onda e por poder recordar de tantos apaixonados por nossa terra que já partiram e que, felizmente, não presenciam o que se passa com ela.

Este é o “Santo Amargo da Purificação”.

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