Aldeia Nagô
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Sobre judeus e banqueiros, por Luis Nassif

5 - 6 minutos de leituraModo Leitura
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Explodiu uma baita discussão no Twitter, devido a um trecho da entrevista que eu e Pedro Costa Júnio fizemos com o economista Paulo Nogueira Jr.

Em determinado trecho, Paulo critica a indicação de Ilan Goldfajn para o BID, menciona a influência da comunidade financeira judia nos organismos financeiros internacionais e diz que Ilan nem nascido no Brasil é.

A frase suscitou protestos de entidades judias. O Instituto Brasil-Israel soltou um comunicado ainda mais feroz do que os protestos quando Michele Bolsonaro quis confundir o judaísmo com o bolsonarismo. O movimento Judeus Pela Democracia, que reúne bravos combatentes da democracia, contra o bolsonarismo da Hebraica, também se manifestou.

No rastro, veio a previsível movimento de onda de linchamento, do qual se aproveitaram até judeus bolsonaristas, sem nenhuma ligação com o JPD.

Vamos por partes.

Peça 1 – existe uma comunidade financeira judia

É fato inegável que existe uma forte comunidade financeira judia. Da mesma maneira que existe uma forte comunidade de doleiros libaneses no Brasil.

É uma comunidade que atua solidariamente. Na biografia que escrevi de Walther Moreira Salles, um dos capítulos é sobre a compra do Banco Safra, nas vésperas de 1964, e sua posterior revenda para os Safra. O movimento da revenda foram informações obtidas por Moreira Salles, de que Joseph Safra era muito influente junto à comunidade financeira judia, e poderia criar intrigas que atrapalham outros negócios do grupo.

A tradição judia nas finanças é antiga. Passa pelos Rothschild. Depois, pelos judeus húngaros que, após o Acordo de Bretton Woods, passam a dominar o mercado internacional de títulos e moedas. Conto isso em um capítulo da biografia de Moreira Salles.

Paulo Nogueira Batista Jr. não é anti-semita. Pelo contrário, seu Nogueira é de um portugues que fugiu da inquisição portuguesa e foi parar em Belém do Pará, onde participou das cabanadas. Na conversa, ele se referia ao grupo de influência de banqueiros, não aos judeus como um todo.

Seria o mesmo que mencionar os doleiros libaneses.

Em uma conversa fechada, entre economistas e jornalistas, a referência à comunidade financeira judia seria normal, e não seria interpretada como anti-semitismo.

Peça 2 – existe um estereótipo

Onde erramos? No fato de ser um programa público e haver um enorme estereótipo sobre o judeu, presente desde “Os Protocolos dos Sábios de Sião” – sobre a suposta conspiração financeira judaica  internacional – até na própria música popular brasileira.

Houve meu erro de não ter alertado o público de que a menção a banqueiro judeu não se referia a uma raça que produziu alguns dos maiores cientistas e artistas da história da humanidade

A partir daí, abre-se espaço para uma boa discussão. Como se referir à comunidade financeira judaica, sem levantar os estereótipos que cercam os judeus como um todo? Ao mesmo tempo, como entender o humanismo dos grupos progressistas judeus, quando confrontados com a questão palestina e da Faixa de Gaza?

É evidente que o selvagem Netanyahu está para Israel como Bolsonaro está para o Brasil. Mas tem sido conduzido seguidamente ao poder, em Israel, por uma população eminentemente de direita.

Deve-se criticar esse modelo, sem incorrer em generalizações, nem esquecer os bravos judeus progressistas, que levam através da história a bandeira humanista de seus antepassados.

É uma discussão rica, e que precisa ser discutida.

Peça 3 – o linchamento

Em vez disso, fui alvo de uma violenta lacração pelo Twitter. Adversários meus e do Paulo aproveitaram para tirar sua lasquinha. Ao levar o tema para o campo do linchamento, as bravas entidades representativas de judeus democratas abriram espaço para isso:

Quando reclamei do linchamento, uma das respostas é que os judeus progressistas também são alvo de linchadores bolsonaristas, logo… logo…

Peça 4 – a discussão

Por outro lado, recebi uma nota da StandWithUs, uma resposta civilizada, que ajuda a enriquecer o debate:

“StandWithUs Brasil repudia falas antissemitas do economista Paulo Nogueira. || Ao ser entrevistado pelo jornalista Luis Nassif e Pedro Costa Jr, cientista político, em 16 de dezembro,  no canal do YouTube TV GGN, o economista Paulo Nogueira  desferiu diversos comentários antissemitas contra o também economista  Ilan Goldfajn.

Nogueira fez conexão entre as relações de Ilan com o  mercado financeiro e com a comunidade judaica, como se houvesse uma simbiose entre essas duas esferas. Por um lado, o comentário ignora a diversidade – e humanidade – da colônia judaica dos EUA, a maior fora de Israel e composta por todos os tipos de sujeitos sociais. Por outro, ainda pior, lança mão de dois estereótipos usados pelo regime nazista, mas não restritos a ele: a ideia do “judeu rico” e a falácia de uma “conspiração judaica mundial”.

Originado na Idade Média, o estereótipo do judeu rico é um mito persistente e alimenta o discurso de ódio em diversas camadas. Segundo a Anti Defamation League, organização norte-americana que monitora a expressão de antissemitismo no mundo, “um dos estereótipos mais proeminentes e persistentes sobre os judeus é que eles são gananciosos e avarentos (…). Acredita-se que eles exerçam controle sobre os sistemas financeiros mundiais, mas também são acusados ??de enganar regularmente amigos e vizinhos em troca de um dinheirinho”.

Quando reclamei do linchamento, uma das respostas é que os judeus progressistas também são alvo de linchadores bolsonaristas, logo… logo…

Peça 4 – a discussão

Por outro lado, recebi uma nota da StandWithUs, uma resposta civilizada, que ajuda a enriquecer o debate:

“StandWithUs Brasil repudia falas antissemitas do economista Paulo Nogueira. || Ao ser entrevistado pelo jornalista Luis Nassif e Pedro Costa Jr, cientista político, em 16 de dezembro,  no canal do YouTube TV GGN, o economista Paulo Nogueira  desferiu diversos comentários antissemitas contra o também economista  Ilan Goldfajn.

Nogueira fez conexão entre as relações de Ilan com o  mercado financeiro e com a comunidade judaica, como se houvesse uma simbiose entre essas duas esferas. Por um lado, o comentário ignora a diversidade – e humanidade – da colônia judaica dos EUA, a maior fora de Israel e composta por todos os tipos de sujeitos sociais. Por outro, ainda pior, lança mão de dois estereótipos usados pelo regime nazista, mas não restritos a ele: a ideia do “judeu rico” e a falácia de uma “conspiração judaica mundial”.

Originado na Idade Média, o estereótipo do judeu rico é um mito persistente e alimenta o discurso de ódio em diversas camadas. Segundo a Anti Defamation League, organização norte-americana que monitora a expressão de antissemitismo no mundo, “um dos estereótipos mais proeminentes e persistentes sobre os judeus é que eles são gananciosos e avarentos (…). Acredita-se que eles exerçam controle sobre os sistemas financeiros mundiais, mas também são acusados ??de enganar regularmente amigos e vizinhos em troca de um dinheirinho”.

Artigo publicado originalmente em  https://jornalggn.com.br/xadrez-2/sobre-judeus-e-banqueiros-por-luis-nassif/

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