Tá tão difícil fingir que tá fácil! Por Rosana Braga
Outro dia, fizemos uma confraternização entre o pessoal da editora para a qual faço alguns trabalhos. Era um daqueles dias lindos, onde todos se disponibilizam para o riso e os abraços. Estávamos num sítio e os homens e meninos resolveram jogar bola, enquanto as mulheres assistiam e riam da falta de preparo físico deles…
Claro
que o objetivo era a diversão e tudo acontecia assim. Num determinado momento,
aproximei-me das grades da quadra, perto da trave. Para a minha surpresa, veio
um deles, agarrou-se na grade e confessou, exausto, suando, como quem pede
socorro: "Ai, tá tão difícil fingir que tá fácil!"
A
confissão foi tão espontânea e inesperada que comecei a rir, mas imediatamente
tive um insight, "caiu uma ficha", como dizem. Pensei comigo mesma: é realmente
muito difícil, em alguns momentos de nossa vida, fingir que tá fácil, mas ainda
assim a gente insiste em fingir, sem se dar conta de que isso só aumenta mais a
dificuldade, tanto a física, quanto a mental e, principalmente, a
emocional.
Fica
fazendo cara de feliz e até sorrindo feito bobo, só pra disfarçar a dor que
lateja por dentro, a tristeza que machuca sem parar, a mágoa por algo que
aconteceu e não sabemos o que fazer com a realidade.
Talvez
um emprego que perdemos ou nem conseguimos conquistar; um amor que acabou ou que
nem começou; um amigo ou irmão com quem brigamos e não sabemos como fazer as
pazes; uma raiva absurda que toma conta da gente por causa de uma situação em
que nos sentimos contrariados, diminuídos,
humilhados…
Enfim,
muitas vezes, vivemos situações que nos provocam o desejo de xingar, gritar,
esbravejar, argumentar e chorar feito criança, sem se importar com as caretas,
as lágrimas, o barulho… só chorar, chorar e chorar até pegar no sono… Mas
não! Não nos permitimos amolecer. Permanecemos durões, engolindo a dor a seco,
sentindo a tristeza passar pela garganta como se fosse espinha de peixe
enroscada… arranhando, incomodando, doendo mais. E lá estamos nós… fingindo
que está fácil!
Pois
bem, não sei quanto a você, mas estou decidida, cada vez mais, a mostrar o que
sinto, mesmo sabendo e confessando que também não é nada fácil. No entanto, é
bem mais fácil se expor e mostrar os sentimentos, tentando digeri-los e
transformá-los em aprendizado, do que fingir, camuflar, parecer sem ser, viver
sem se aprofundar, amar sem ser intenso, sentir sem se
entregar.
Não
estou, de forma alguma, sugerindo que você alimente sentimentos como raiva,
tristeza e desesperança. Muito pelo contrário: estou sugerindo que você os
assuma, sinta-os e, assim, possibilite o fim de cada um deles. Porque enquanto a
gente finge que não está sentindo, eles continuam lá, enroscados. Mas quando a
gente se assume e os expõe, eles passam, acabam, vão embora. Claro que,
sobretudo, este tem de ser o nosso objetivo!
Aproveito,
então, para sugerir: pare de fingir. Pare de sustentar um ego que só te faz ser
quem você não é (ou seja, ninguém!) e te distancia de sua verdadeira essência.
Pare de se importar tanto com o que vão pensar sobre você e se concentre mais na
sua humanidade, na sua vontade de crescer e se tornar melhor, lembrando sempre
de que a gente só consegue sair de um lugar e chegar a outro quando tem
consciência de onde está e, sobretudo, para onde deseja
ir.
Que
você vá além e ultrapasse qualquer caminho que não seja o seu. Saia do
fingimento e vá para o autêntico, porque só assim é que a vida vale a pena e é
só aí que o amor encontra espaço!