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Aldeia Nagô
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Teatro profissional: entre o ofício e a urgência da estrutura. Por Zeca de Abreu

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

“O que é teatro profissional? ”A pergunta veio seca, direta, no meio de uma reunião. Gordo Neto, amigo, ator e diretor teatral lançou no ar — e ninguém respondeu. Nem eu.

Mas a pergunta ficou. Foi crescendo em silêncio, ganhando corpo. Comecei a perguntar a outras pessoas. Comecei a me perguntar também. E percebi que talvez a ausência de resposta seja justamente o ponto de partida. Porque a resposta não está pronta. Está em construção.

Historicamente, ser profissional no teatro era ter o trabalho reconhecido formalmente: carteira assinada, sindicato, nota fiscal, cachê. Era poder dizer: “Eu vivo disso.” Mas a verdade é que, mesmo hoje, a maioria das pessoas que fazem teatro no Brasil não conseguem viver só de teatro. Isso não é acaso — é estrutura. E precisa ser dito.

Profissionalizar não é só fazer bem feito. É garantir que o fazer seja possível. Que tenha continuidade, dignidade, permanência. Eu posso estar com o corpo pronto, texto na boca, pesquisa em dia — mas sem estrutura, meu trabalho vira resistência solitária. E eu não quero mais romantizar isso.

Pra mim, o teatro profissional começa na escuta. Na relação com o território, com o outro, com o tempo. É uma ética. Uma linguagem que exige presença. Mas que, sem estrutura, não se sustenta.

E aí vem a pergunta que não cala: Como manter um ofício que o país insiste em tratar como favor? Como viver de arte se o sistema nega as condições mínimas de existência?

Foi nessa busca que percebi: não existe uma definição única, definitiva, consensual do que é teatro profissional. E isso expõe um vazio histórico e conceitual. O termo aparece em leis, editais, políticas, sindicatos. Mas poucos pensadores do teatro se detiveram para pensá-lo com profundidade.

Ainda assim, muita gente deixou pistas.

Abujamra dizia que o teatro não era pra entreter, mas pra incomodar. Zé Celso via o teatro como uma “máquina de guerra amorosa”, um ritual de vida e fúria. Fernanda Montenegro se chamou, com orgulho, de operária da cena. Augusto Boal ensinou que teatro é prática coletiva, corpo pedagógico, transformação. Cacá Carvalho lembra: teatro exige tempo — tempo para escutar, maturar, permanecer.

Essas falas, essas trajetórias, não entregam uma definição pronta. Mas nos apontam caminhos. E com base nessa escuta, arrisco uma tentativa:

⸻Uma definição possível — a partir da prática:

Teatro profissional é o fazer teatral exercido como trabalho contínuo, com responsabilidade estética, ética e política, sustentado por estrutura, reconhecimento institucional, política pública, tempo, território e presença.

⸻Isso não é conclusão. É tentativa. Porque teatro profissional:

– não é só técnica — é processo.– não é só diploma — é prática contínua.– não é só palco — é bastidor, planejamento, persistência.– não é só individual — é coletivo, território, rede.

E o que precisa mudar?

Política pública continuada. Não dá mais pra viver de edital em edital. O teatro precisa de permanência, de políticas que respeitem o tempo da criação e dos grupos.

Reconhecimento de que teatro é trabalho. Não é dom. Não é milagre. É ofício. Exige remuneração digna, contratos, assistência, previdência.

Espaços acessíveis e permanência nos territórios. Sem lugar, não há processo. O teatro precisa estar nos bairros, nas comunidades, nos equipamentos públicos — vivos e ocupados.

Formação e qualificação constante. Estudar também é trabalho. E o artista precisa continuar estudando para permanecer atuando.

Visibilidade, crítica e memória. A produção local precisa ser vista, registrada, debatida. Sem isso, desaparece. E com ela, parte da nossa história.

Você que está lendo isso: quantas vezes viu um espetáculo de teatro esse ano? Sabia que, pra aquela peça chegar até você, foram meses de ensaio, transporte pago do próprio bolso, sala improvisada, cachê incerto?

Agradeço a Gordo Neto pelas instigações. Foi assim que eu comecei a entender o que é, pra mim, o teatro profissional.

Teatro profissional é o que começa na escuta — mas só sobrevive com estrutura.

Zeca de Abreu é atriz, diretora teatral, educadora e produtora

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