Vestido de Prata. Por Jorge Alfredo Guimarães
Eu compus Vestido de Prata em junho de 1979, no Rio de Janeiro, e meu primeiro LP “Quem Fica é quem traz o sol “ já estava em processo de finalização em São Paulo.
Incrível como a gravação do meu primeiro LP injetou em mim uma energia criativa, talvez a maior de toda a minha vida. Compus muitas canções e cristalizou-se um estilo próprio de me expressar. O certo é que compus Reggae da Independência, Rasta Pé, Dazibao, Música Alegre e Vestido de Prata antes do meu LP chegar às lojas. Minha casa na Vila Madalena era uma usina de criação!
Certo dia, no estúdio durante a mixagem, mostrei pros produtores uma música nova, Vestido de Prata, que encantou a todos. Falou-se até em incluí-la no disco, mas eu aproveitei a oportunidade e sugeri a Luiz Mocarzel e Antônio Carlos, da Copacabana Discos, lançarem o Reggae da Independência, com Chico Evangelista, Vestido de Prata, com Era Encarnação e Nessa Altura dos Acontecimentos, com Marcio Marinho. Dito e feito: foram lançados 3 compactos com meus amigos parceiros de palco.
Toni Costa fez o arranjo caribenho de estudio pra Vestido de Prata. Ficou muito bonita a gravação, mas praticamente só tocou nas rádios baianas.
Paulinho Boca de Cantor a regravou no ano seguinte no seu 2º LP solo “Valeu”, com a participação especial de Chico Evangelista no violão Ovation. Dessa vez, tocou também no Sudoeste e no Brasil, em geral.
Anos depois, Margareth Menezes convida Caetano Veloso pra cantar Vestido de Prata com ela, e gravam juntos! Haja emoção!!!
Também, Jauperi e Pierre Onasis gravam. A dupla se desfaz e Jau grava mais duas vezes, ao vivo e no estúdio. Jau trouxe pra Vestido de Prata um swingue irresistível com sua “voz de tambor”.
Aí, Paulinho Boca grava novamente com a participação de Davi Moraes. Surge a gravação do Curumim, que atinge um público novo do Sudeste e dá sobrevida a minha música e Ana Mametto grava com muito swingue , e Marilda Santanna também numa versão clássica de samba. Também tem a versão bossa nova de Mauriçola!
Eu sei que devo estar esquecendo de algumas outras gravações… E também não estou citando outras lindas interpretações em shows e locais públicos!!!
Deus sabe como fiquei algumas vezes sensibilizado ao ouvir minha música sendo tocada e cantada. Certa vez eu estava passando em frente à televisão e o que vejo; Moreno Veloso cantando no Pelourinho junto com Alexandre Leão Vestido de Prata!
Interessante é que eu nunca tive a oportunidade de gravar Vestido de Prata! Agora, quatro décadas depois, já com 71 anos de idade, em meio a essa pandemia louca, fiquei com medo de morrer e não deixar registrada por mim mesmo essa minha canção. Interessante é que muita gente acha que a música é em parceria ou que nem é de minha autoria!
Pra mim, apesar de tê-la registrado como reggae, acho que está mais pra um samba reggae. Só que em 1979 essa denominação ainda não existia. E também quando a compus eu tocava diferente de hoje, parecido com Música Alegre, que por sinal foi composta por mim na mesma semana. Surgiram juntas, eu no Rio de Janeiro com saudade de Suki que tinha voltado pra Bahia.
E fico feliz que mesmo numa gravação caseira no iPhone, algumas pessoas já visualizoram e curtiram. E eu continuo vivinho da Silva.
Valeu!
Jorge Alfredo Guimarães é cantor, compositor e cineasta baiano
Todas são pérolas!
Frutos de muitos talentos. Arte pura!
Valeu Jorge!