16ª edição do IC Encontro de Artes celebra a diferença e pergunta: “Que monstra sou eu?”
Entre o “normal” e o “anormal”, a vida real acontece. Celebrando a diversidade de existências, a 16ª edição do IC Encontro de Artes se liberta de conservadorismos, escancara as portas para as diferenças e pergunta: “Que monstra sou eu?”.
De 21 a 24 de agosto, em variados espaços de Salvador, o festival apresenta artistas e espetáculos dissidentes, que rompem com morais opressoras sobre seus corpos, identidades e escolhas.
Estão na agenda as peças “King Kong Fran”, de Rafaela Azevedo (RJ), “Monga”, de Jéssica Teixeira (CE), “Cavalas”, de Alana Falcão e Ana Brandão (BA), “Ancés”, de Tieta Macau (MA/CE), e “Confabulações”, da Cia Buffa de Teatro (BA), junto com o show “Letrux como mulher girafa”, de Letrux (RJ).
Também haverá o ponto de encontro “Covil”, de performances e festa com uma trupe de Salvador: RADIxCAOS, Malayka SN, Milita Sattiva, Latty e Karmaleoa. Para completar, tem residência artística conduzida pelas artistas Felícia de Castro, Lais Machado e Larissa Lacerda, além de oficina infantil ministrada por Maria Tuti Luisão. Informações e ingressos estão disponíveis em www.icencontrodeartes.com.br.
Desde 2006, quando foi criado, o IC, que é realizado pela Conexões Criativas em parceria com a Dimenti Produções Culturais, tem suas edições orientadas por um lema: uma questão simbólica, que representa inquietações artísticas e sociais da atualidade, compondo assim a curadoria da programação.
Ao pautar as monstruosidades, Ellen Mello, Jorge Alencar, Larissa Lacerda e Neto Machado, que compõem o coletivo curador, trazem à tona um histórico movimento artístico, em que os termos “monstra”, “monstro” e suas variações são reapropriados para antecipar e subverter julgamentos de rejeição.
“Nas artes e, mais amplamente, na sociedade, que monstra performamos individual e coletivamente? O que reconhecemos como monstruosidades? Do que temos medo na existência de outras pessoas e na nossa própria?”, questiona o quarteto.
As monstruosidades se posicionam, então, na contramão de normas autoritárias, tantas vezes violentas e excludentes, que tentam determinar o que pessoas são ou deveriam ser. Também renegam binaridades, como masculino x feminino, natureza x cultura, animal x humano.
Assim, destituem estigmas, se alimentam da estranheza e afirmam com orgulho suas diferenças para combater as estruturas sociais que sustentam a misoginia, a LGBTQIAPN+fobia, o racismo, o capacitismo, o classismo e outras formas de preconceito.
“Quando uma pessoa artista se afirma como ‘monstra’, ‘bizarra’, ‘aberração’ ou mesmo como um animal não humano, entra em cena uma prática de reapropriação de designações destinadas, em grande parte, a excluir corpos ‘não familiares’ e considerados ‘não naturais’, alvos da cruzada moral e das ditas pautas de costume”, completa o coletivo de curadoria.
O IC Encontro de Artes tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia. Conta com apoio cultural da Bicicleta Produtora, Casa Preta Espaço de Cultura, Casa Rosa, Cervejaria ArtMalte, Rádio Educadora FM, TVE Bahia, Boca de Brasa e Teatro Gregório de Mattos.
DOBRADINHA KING KONG FRAN & LETRUX – O IC Encontro de Artes traz pela primeira vez a Salvador o badalado espetáculo “King Kong Fran”, protagonizado pela personagem Fran, vivida pela atriz e palhaça carioca Rafaela Azevedo, sucesso de crítica e bilheteria no teatro brasileiro.
A montagem será apresentada no último dia do IC, 24 de agosto (sábado), no Teatro Sesc-Senac Pelourinho, com direito a dobradinha: às 18h e às 20h – uma sessão extra, também já esgotada, foi aberta após ingressos do primeiro horário terem terminado em menos de duas horas. Na apresentação das 18h, haverá audiodescrição e interpretação em Libras.
“King Kong Fran” promove uma irreverente e debochada reflexão sobre machismo, assédio, abuso, consentimento e violência de gênero. Numa fusão das linguagens de circo e teatro, o solo convida o público a conhecer o avesso dos estereótipos do feminino disseminados na sociedade. Partindo de referências como a atração circense Monga, A Mulher Gorila, e King Kong, o gorila gigante do cinema, Rafaela questiona a sexualidade e a distinção de gênero na construção social.
A direção musical de “King Kong Fran” é assinada pela também carioca Letrux, que se junta à programação do IC com show de seu terceiro disco solo, “Letrux como mulher girafa”, em que mais uma vez mostra como está disposta a sair das jaulas e padrões do mercado da música e da sociedade. A artista encerra a grade do festival no Largo Tereza Batista, no Pelourinho, também em duas sessões, às 19h e às 21h. “Faço arte de forma independente porque é carma, é sina, é destino. Meu bicho não segue manadas, embora consiga admirar a beleza dos coletivos: bando, cardume, matilha”, declara Letrux.
MAIS QUATRO ESPETÁCULOS IMPERDÍVEIS – O espetáculo de abertura do 16º IC Encontro de Artes é uma pré-estreia: “Monga”, da cearense Jéssica Teixeira, uma das artistas mais provocativas das artes cênicas brasileiras contemporâneas. A apresentação será no dia 21 de agosto (quarta-feira), às 19h, no Teatro Cambará da Casa Rosa (Rio Vermelho), numa sessão plenamente acessível a pessoas com deficiência: o espaço tem acessibilidade arquitetônica e a obra terá audiodescrição e interpretação em Libras. A sinopse é em primeira pessoa: “Não tenho medo do meu corpo. Se eu tivesse, vocês ficariam mais à vontade? Se uma pessoa sente medo da outra, ela se torna uma pessoa capaz de fazer qualquer coisa com essa outra. De onde vem esse medo? Já pensou até onde isso pode levar?”.
Na quinta-feira, 22 de agosto, às 19h, no Teatro Gregório de Mattos (Praça Castro Alves), é vez de conferir o trabalho de duas artistas da dança de Salvador: Alana Falcão e Ana Brandão protagonizam “Cavalas”, que tem dramaturgia assinada por Lais Machado. A obra investiga a borda tênue entre semelhança e diferença a partir de práticas de improvisação e autoficção. Neste paradoxo, convivem o desejo de liberdade do animal e a disciplina da equitação. Uma brincadeira de meninas furiosas, que querem inventar-se a si mesmas, e cujo resultado pode ser um assombroso espelhamento.
Tieta Macau (MA/CE) chega com “Ancés” no dia 23 de agosto (sexta-feira), às 19h, na Casa Preta Espaço de Cultura (Dois de Julho). Na ação, é traçado um percurso entre a presença e a ausência, em busca de ativar memórias não codificadas em instâncias dizíveis ou lineares. O espetáculo se desdobra em curvas e espirais, numa tentativa de traçar a genealogia de uma corpa negre que dança, que se desenterra, que tenta desfazer o trajeto feito e que questiona o trajeto imposto.
Já no sábado, 24 de agosto, às 15h, o IC leva ao Espaço Cultural Boca de Brasa Céu de Valéria uma sessão gratuita de “Confabulações”, da baiana Cia Buffa de Teatro. Com dramaturgia e encenação de Joice Aglae, a montagem elege a bufonaria como linguagem para tratar sobre violências e imposições sofridas por mulheres. Quatro bufonas, representadas por Diana Ramos, Leila Kissia, Luíza Senna e Milena Pitombo, usam diferentes formas do riso, da alegoria e do grotesco para discutir a questão. “Ninguém melhor que a Bufona, uma máscara que tem a potência de revelar, que fala o que é sério de maneira risível, brinca com o poder e relativiza as estruturas sociais, para falar sobre as violências sofridas por nós, inclusive aquelas já naturalizadas”, explica a diretora, que fundou a companhia em 1998.
COVIL: O AFTER DO IC – De quarta a sexta-feira, 21 a 23 de agosto, depois de assistir às peças, o público é convidado para um ponto de encontro com feras de Salvador, que apresentam performances e fazem a festa de cada noite. Com início às 20h30, o “Covil” se instala no pub da Cervejaria ArtMalte (Rio Vermelho) e tem entrada gratuita.
No dia 21 de agosto, RADIxCAOS corteja pelas ruas com a instalação-experiência “Elefante Branco”, uma performance onde o objeto é o próprio corpo encarnado em criatura. No som, Malayka SN multiplica possibilidades cênicas como DJ a partir da linguagem drag queen/queer: inclusão, diversidade e muita atitude na pista. A drag queen Milita Sattiva, também conhecida como “Realeza Macabra”, e DJ Latty, que mistura techno e ritmos eletrônicos com o funk produzido nas periferias do Brasil, fazem a dobradinha no dia 22 de agosto. No último dia de “Covil”, 23 de agosto, a multiartista, cantora, drag queen e DJ Karmaleoa comanda a cena e o “Monstraokê”: o tradicional karaokê com microfone aberto para cantoria e diversão monstras.
RESIDÊNCIA ARTÍSTICA – A residência artística “Que Monstra Sou Eu?”, sob a condução das artistas Felícia de Castro, Lais Machado e Larissa Lacerda, deseja mergulhar na pergunta-chave da curadoria da 16ª edição do IC Encontro de Artes. A atividade gratuita será realizada com oito participantes que participaram de uma seleção aberta pelo evento, convidando performers, artistas do corpo e das artes cênicas a explorarem, através de estudos e exercícios cênicos, as múltiplas camadas de identidades, subjetividades e corporeidades que desafiam as normatividades socioculturais, por meio de uma ética monstra. A residência terá 20 horas de carga horária, nos dias 15, 16, 17, 19 e 20 de agosto, das 9h às 13h, na Casa Arte Dá Trabalho (Rio Vermelho), e culminará num compartilhamento público, o “DeMonster Day”, dentro da programação do festival, com serviço a ser divulgado.
OFICINA MONSTRAS, MONSTRINHES E MONSTRONAS – Voltada para crianças de 8 a 12 anos, a oficina “Monstras, monstrinhes e monstronas: laboratório indisciplinado de criações e invenções de si” será orientada pela artista, pesquisadora e arte-educadora Maria Tuti Luisão, graduada em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Brasília (UnB), mestra em Dança e doutoranda em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Com 10 vagas gratuitas ocupadas por ordem de inscrição no site www.icencontrodeartes.com.br, a atividade é um espaço de investigação do próprio corpo. Elementos da dança, performance, palhaçaria e arte drag são transformados em jogos e brincadeiras pensados de modo que as crianças possam experimentar suas próprias narrativas, criando sua forma de estar e se relacionar com o mundo. Perucas, desentupidor de pia, óculos escuros, luvas, bigode de gatinho, cuscuzeira, plástico bolha e fantasias estão disponíveis para brincar de inventar possibilidades de corpo, desmontando e recombinando imaginários. O encontro será no dia 24 de agosto (sábado), das 10h às 12h, na Casa Arte Dá Trabalho (Rio Vermelho).
IC ENCONTRO DE ARTES – 16ª edição
Que monstra sou eu?
21 a 24 de agosto – Salvador | Bahia | Brasil
Informações e vendas: www.icencontrodeartes.com.br
Instagram, Facebook e YouTube: @icencontrodeartes
PROGRAMAÇÃO
= “Monga”, de Jéssica Teixeira (CE)
21 de agosto, 19h | Casa Rosa (Rio Vermelho)
R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia) | Classificação indicativa: 18 anos
= “Covil”, com RADIxCAOS + DJ Malayka SN (BA)
21 de agosto, 20h30 | Cervejaria ArtMalte (Rio Vermelho)
Gratuito | Classificação indicativa: 18 anos
= “Cavalas”, de Alana Falcão e Ana Brandão (BA)
22 de agosto, 19h | Teatro Gregório de Mattos (Praça Castro Alves)
R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia) | Classificação indicativa: 10 anos
= “Covil”, com Milita Sattiva + DJ Latty (BA)
22 de agosto, 20h30 | Cervejaria ArtMalte (Rio Vermelho)
Gratuito | Classificação indicativa: 18 anos
= “Ancés”, de Tieta Macau (MA/CE)
23 de agosto, 19h | Casa Preta Espaço de Cultura (Dois de Julho)
R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia) | Classificação indicativa: 12 anos
= “Covil”, com Karmaleoa + “Monstraokê” (BA)
23 de agosto, 20h30 | Cervejaria ArtMalte (Rio Vermelho)
Gratuito | Classificação indicativa: 18 anos
= Oficina “Monstras, monstrinhes e monstronas: laboratório indisciplinado de criações e invenções de si”, com Maria Tuti Luisão (BA)
24 de agosto, 10h às 12h | Casa Arte Dá Trabalho (Rio Vermelho)
Gratuito (necessária inscrição prévia) | Para crianças de 8 a 12 anos
= “Confabulações”, da Cia Buffa de Teatro (BA)
24 de agosto, 15h | Espaço Cultural Boca de Brasa Céu de Valéria (Valéria)
Gratuito | Classificação indicativa: 16 anos
= “King Kong Fran”, de Rafaela Azevedo (RJ)
24 de agosto, 18h e 20h | Teatro Sesc-Senac Pelourinho (Pelourinho)
R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia) | Classificação indicativa: 18 anos
= “Letrux como mulher girafa”, de Letrux (RJ)
24 de agosto, 19h e 21h | Largo Tereza Batista (Pelourinho)
Ingresso brinde adicionado na compra do passaporte IC16 | Classificação indicativa: 18 anos
= “DeMonster Day”, atividade resultante da residência artística “Que Monstra Sou Eu?”, sob a condução das artistas Felícia de Castro, Lais Machado e Larissa Lacerda
Data, horário e local a serem divulgados
Realização: Conexões Criativas
Parceria: Dimenti Produções Culturais
Apoio cultural: Bicicleta Produtora, Casa Preta Espaço de Cultura, Casa Rosa, Cervejaria ArtMalte, Rádio Educadora FM, TVE Bahia, Boca de Brasa e Teatro Gregório de Mattos
Apoio financeiro: Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Secretaria de Cultura, Governo do Estado da Bahia