2011: o ano em que a velha mídia naufragou por Eduardo Ramos
Se eu fosse batizar esse ano, não citaria o primeiro ano de uma
presidenta no Brasil, nem o Privataria Tucana, nem vaticinaria a morte
do PSDB. O que mais me marcou em 2011 foi o fim definitivo da coerência e da dignidade da grande mídia no Brasil!
Ora, poderia alguém contestar, isso já se deu há muito tempo, desde
que Daniel Dantas e/ou outras forças corromperam de vez a mídia, e junto
com José Serra deu as cartas nas redações nos últimos anos. Discordo:
esse foi "o processo da morte em si", mas foi nesse ano que, aos meus
olhos, "o fato se consumou".
Lembro bem do dia exato em que tive essa sensação.
Foi num momento até tolo, quase insignificante. Um dos jornais da Globo
News, naquela parte em que o apresentador faz uma triangulação entre um
dos jornalistas e um convidado, no telão. O jornalista era o George
Vidor, e o convidado, um economista careca, pedante, creio que o tal
Alexandre, (esqueci o sobrenome) que o Nassif debocha chamando de "o
economista de deus". De fato, é estarrecedor o que o rapaz é capaz de
dizer, o ar de sapiência absoluta, enquanto desfia asneiras de doer.
O coitado do Vidor chegou a ficar sem graça, quando questionou – e
fez auto-crítica… – o fato de vários economistas e colunistas de
jornais terem metido o pau no Tombini quando o BC iniciou esse movimento
de baixa dos juros, antecipando o agravamento da crise na Europa.
O Alexandre "de deus" não se deu por vencido, vaticinou que o BC
havia errado, sim, e por mais que o Vidor insistisse, ele batia sempre
na mesma tecla, não cedendo um milímetro apesar da lógica irrefutável – e
humilde… – do jornalista. A coisa foi tão constrangedora, que ficou
parecendo "conversa de bêbado" e o Vidor se viu obrigado a mudar de
assunto.
Foi nesse instante, diante dessa cena, pequena em si mesma, grotesca,
banal, que percebi que há algumas semanas a mídia já vinha "batendo
cabeça" ao longo do ano, de modo sutil, e nessa questão de juros, um
constrangimento se plantou de vez. Porque, para atingir o governo mais
uma vez, realmente massacraram o BC naquele episódio. O governo estava
atacando a independência do Banco Central, Tombini era um fraco, a
inflação nos devoraria, a crise européia nem era tão grave, e mais um
bando de sandices, cujo único objetivo era ter algo a criticar no
governo Dilma.
Com o acerto absoluto da decisão, inclusive do motivo alegado, o que
se provou logo ali na frente, a mídia não fez a única coisa digna a ser
feita: reconhecer seu erro, e parabenizar o governo e o Banco Central
pela coragem de agir no momento certo. Alguns hipócritas falaram que
poderia ter começado antes, outros, que o ritmo deveria ser mais
prudente. O fato, é que pegos de surpresa, a coerência do discurso se
despedaçou, e os argumentos se fragmentaram, contra e a favor, outros
totalmente "em cima do muro" – o famoso "temos que esperar para ver se o
governo acertou…" – o que não quer dizer coisa alguma.
Só então, percebi a fragilidade absurda desse gigante imponente que
chamamos "grande mídia". Ao perder o foco no que é o alimento natural de
sua profissão, (o jornalismo), que é a busca da verdade, a mídia entrou
num caminho sem volta, de CRIAR UMA FICÇÃO E MANTÊ-LA A QUALQUER CUSTO!
Essa ficção se chama "vamos brincar de escrever e fazer qualquer coisa
que ferre o governo!" – Ora, é claro que uma ficção, dentro do mundo
real, não pode durar para sempre, por mais poderosos que sejam os
agentes por trás da tal ficção.
As paredes começam a ruir, óbvio! São de areia fofa, não do concreto da verdade, da argamassa do jornalismo honesto.
Então, percebe-se que suas pequenas vitórias – a queda de alguns
ministros, uma irritação provocada aqui ou ali – são "vitórias de
pirro", inconseqüentes, são "birras", não constroem e não construirão
nenhum perigo real para seu adversário – o governo.
Estão, na verdade, perdidos, sem discurso aprofundado, sem idéias
novas, sem ideologias a propor, e, agora, mesmo INTERNAMENTE, começam a
se desfacelar, a envergonhar a si próprios, quando não sabem explicar as
vitórias do governo e seus prognósticos furados, numa questão simples,
como essa do BC abaixar os juros.
Seu denuncismo continuado e exacerbado É PROVA DE SUA FRAQUEZA, NÃO
DE SUA FORÇA! Descobrir isso me deixou aliviado, porque demonstra sim,
que não têm outra arma para usar – o debate inteligente e honesto, por
exemplo… – por isso a repetição exaustiva da única que possuem.
Denúncias, denúncias, denúncias…
Antes disso, a tentativa canhestra de opor Dilma à Lula, e logo
depois, o deboche bobo de falar do constrangimento de Dilma com a
"herança maldita" de Lula – os ministros corruptos – como se Lula não
soubesse – e, com certeza, admira essa característica… – da
personalidade forte de Dilma, e de seu direito em mexer no ministério
sempre que necessário. Os tolos parecem não saber que se Lula quisesse
um "poste" ou fantoche, JAMAIS TERIA ESCOLHIDO DILMA PARA SUCEDÊ-LO! Não
compreendem que a lealdade inquestionável de Dilma não é posta à prova,
quando exerce seu também inquestionável direito, como presidente, de
governar segundo sua consciência.
O episódio "Privataria…" foi como o "fechar o caixão" da coerência e
dignidade de uma mídia que desonra há anos a palavra JORNALISMO, e em
seu desespero e confusão mental, dão mesmo a impressão de que não sabem
mais como se conduzir dentro da profissão que escolheram.
Termino dizendo algo que parece incoerente, mas não é. O mais indigno
adversário, só mantém alguma legitimidade, quando dentro da sua
indignidade ele se reserva ALGUMA DIGNIDADE, ALGUMA VERDADE, ALGUMA
IDEOLOGIA. Na velha parábola do rei nu, equivale a dizer que um rei
ainda é rei, se ao menos não está nu aos olhos do seu povo.
É nesse aspecto que digo que a mídia morreu, mesmo que dêem a volta
por cima, no sentido mercadológico, de triplicarem suas vendas, de
causarem a queda de trinta ministros. Estão nus! Ao perderem a verdade
do jornalismo de vez, toda e qualquer coerência, toda ou qualquer
dignidade, ao se focarem EXCLUSIVAMENTE EM ATACAR O GOVERNO E DEFENDER
SEUS ALIADOS POLÍTICOS, assumem-se publica e definitivamente, como
PANFLETOS, panfletos de papel, panfletos televisivos, panfletos
milionários, de alta penetração na sociedade, e com toda uma roupagem
tecnológica e de aparência profissional, tentando desesperadamente
mostrar o que já não são.
2011, para mim, estará sempre marcado, como o ano em que a grande mídia morreu.