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Adupé, Letieres! Por Renato Queiróz

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Letieres Leite, um nome que ressoa na alma da música brasileira. Nasceu Letieres dos Santos Leite, em Salvador, Bahia, em 8 de dezembro de 1959, e faleceu em 27 de outubro de 2021. Revolucionário e genial, Letieres levou o universo percussivo baiano para o mundo. Sua vida foi um tributo à música instrumental brasileira e à herança afro-brasileira, que ele tanto amava e promovia.

Senta que lá vem História!

Nascido e criado no Amparo do Tororó, bairro de Salvador, Letieres tornou-se pintor autodidata, exercendo sua arte na papelaria do pai. Entretanto, a música sempre chamou mais alto. Aos 12 anos, tornou-se aluno de percussão do mestre Moa Katendê, criador do Afoxê Badauê. Foi ali que começou a se interessar pela flauta, e logo depois, pelo sax tenor e sax soprano. Aos 19 anos, descobriu sua verdadeira vocação para os instrumentos de sopro, aprendendo de forma autodidata.

Com seus múltiplos talentos, seguiu inicialmente o caminho das artes plásticas, vivendo como artista plástico até os 19 anos e cursando Artes na Universidade Federal da Bahia. Na década de 1980, foi estudar música na Áustria, aprimorando seus conhecimentos musicais no Franz Schubert Konservatorium, onde começou a fundir as tradições afro-brasileiras com as orquestrações europeias.

Sua carreira musical profissional decolou com convites para tocar com diferentes artistas. Ao longo da carreira, Letieres fez parceria com artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Elba Ramalho, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Olodum, Ilê Aiyê, Nara Couto, Larissa Luz, Cascadura, Hermeto Pascoal, Elza Soares e outros. A lista sem fim mostra a importância de Letieres Leite para a música brasileira.

Em 2006, deu um passo decisivo ao criar a Orkestra Rumpilezz, um grupo dedicado a unir as tradições musicais baianas, africanas e da orquestração europeia. O nome “Rumpilezz” é uma homenagem aos três principais atabaques do candomblé: Rum, Pi e Lé, e às letras ZZ, que representam a sonoridade do jazz. Os atabaques são instrumentos sagrados nas religiões afro-brasileiras, usados para convocar os Orixás durante os rituais.

Em 2008, gravou o primeiro CD da Orkestra Rumpilezz, lançado no ano seguinte pelo selo Biscoito Fino. O CD, com oito músicas de sua autoria, foi aclamado pela crítica e rendeu à orquestra duas indicações para o prêmio brasileiro de música.

Em 2010, a Orkestra Rumpilezz ganhou o Prêmio Bravo! de Melhor Álbum Popular do Ano e o Prêmio da Música Brasileira nas categorias Melhor Grupo Instrumental e Melhor Artista Revelação. Em 2017, a Orkestra Rumpilezz venceu três prêmios da Música Brasileira: Melhor Álbum Instrumental (A Saga da Travessia), Melhor Grupo Instrumental e Melhor Arranjador.

O maestro Letieres Leite teve uma trajetória marcada pela dedicação à música e à educação. Suas influências musicais eram vastas e variadas: Moacyr Santos, Weather Report, Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, John Coltrane, Led Zeppelin e, principalmente, o universo percussivo baiano, com Ilê Aiyê, Olodum, Muzenza, Filhos de Gandhi, os toques das religiões de matrizes africanas e os sambas do recôncavo baiano.

Letieres Leite teve uma trajetória marcada pela dedicação à música e à educação.

Entre seus trabalhos de cunho social, destaca-se também a criação de uma escola de música em Salvador. E para perpetuar seu legado, foi criada (in memoriam) a Fundação Letieres Leite, que promove a educação musical e a valorização da cultura afro-brasileira. A fundação oferece cursos, workshops e outras atividades educativas, com o objetivo de formar novos músicos e preservar as tradições musicais afro-brasileiras.

Letieres Leite nasceu em 8 de dezembro de 1959. A data é o dia de uma das mais tradicionais festas populares da Bahia, a Festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia, padroeira do estado.

Em palavras de Letieres: “A música nunca acaba, a música não morre, ela é pra sempre”.

ADUPÉ, LETIERES!

Na Luz e em Paz!

SONZAÇO!
Renato Queiroz

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