Aldeia Nagô
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1ª Bienal de Performance da Bahia reúne mais de 30 artistas em Salvador e Jequié entre 13 e 17 de agosto

5 - 7 minutos de leituraModo Leitura

Serão realizadas performances, debates e ações formativas presenciais e virtuais 

A arte da performance toma as ruas, feiras, escolas e centros culturais de Salvador e Jequié na 1ª Bienal de Performance da Bahia, evento inédito dedicado exclusivamente à linguagem performática no estado. Com curadoria da artista e pesquisadora baiana Padmateo, a Bienal acontece de 13 a 17 de agosto e reúne mais de 30 artistas, pesquisadores e pensadores em uma programação que inclui performances urbanas, oficinas, falas públicas, vídeoarte e exposições.

O eixo curatorial parte da provocação “Isto é violência?”, uma pergunta que atravessa os corpos e propõe reflexões críticas sobre os modos como o cotidiano, a política e as marcas da história moldam as experiências da violência — sobretudo em contextos de marginalização. “Nos faltava um espaço que descentralizasse a performance das galerias e a colocasse no meio da rua, entre o povo. A Bienal nasce como um gesto de encontro e partilha”, afirma Padmateo.

A escolha por Salvador e Jequié como cidades-sede da primeira edição da Bienal não é aleatória. Ambas figuram entre os municípios com maiores índices de violência do país, segundo dados recentes do Atlas da Violência e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em 2023, Jequié apareceu no ranking das dez cidades mais violentas do Brasil, enquanto Salvador segue como uma das capitais com maior número de homicídios. 

Ao ocupar essas cidades com arte, a Bienal propõe uma escuta atenta às urgências locais e inscreve a performance como gesto de enfrentamento simbólico, afetivo e político. “Nos interessa tensionar esses territórios não apenas como espaços de dor, mas também de resistência, potência e imaginação coletiva”, afirma Padmateo.

Performances e intervenções em Jequié

Em Jequié, a programação começa no dia 13 com a abertura da exposição “Mandacaru: Aqui é um bairro”, de Alex Oliveira, na residência artística Casa 1145. No mesmo dia, na Casa 1145, Z Mário realiza no dia 13 de agosto, às 20h, uma intervenção simbólica e ancestral que busca conectar vida e morte, passado e presente. No dia seguinte, Marcel Diogo apresenta no Centro de Abastecimento Vicente Grillo a performance “Nem tudo que vai na parede é obra de arte”, em que o corpo encena o gesto de ser colocado contra a parede, evocando abordagens policiais.

Alex Oliveira retorna no dia 15 com a “Fotoperformance Popular” na Feira do Pau e no Colégio Milton Santos. Outros destaques em Jequié incluem “A Gangorra”, do artista simõesfilhense Augusto Leal, no dia 15, na Praça Ruy Barbosa, e “Me segura que eu vou dar um vogue”, de Otacílius José, na Avenida Rio Branco, onde o corpo queer se afirma em dança e liberdade. 

Já no dia 16, às 19h, gratuitamente, no Centro Cultural ACM, o espetáculo “Entrelinhas”, da coreógrafa Jack Elesbão, apresenta uma dramaturgia visual que evoca a figura da mulher negra silenciada na história. Finaliza este dia a performance coletiva e aberta “Bombas de Sementes”.

Corpo em trânsito no Centro Histórico de Salvador

Em Salvador, a Bienal ocupa o Pelourinho com caminhadas performáticas, debates e ações poéticas. Abrindo a programação, no dia 13, Tiê Francisco Maria conduz às 15h a performance “Ultrassom: ou toda cidade é uma partitura”, em que sons urbanos são captados e ressignificados como partitura viva. No dia seguinte, às 15h, Ângela Daltro apresenta “Noiva”, performance premiada que encarna uma prece laica contra violências de gênero e raça. Em 15 de agosto, Álex Ìgbó espalha pelas ruas a série de lambes “Oriente-se”, desafiando símbolos coloniais de gênero. Essas três primeiras performances tem como ponto de partida a Casa do Benin. Já no dia 16, a performance “Contagiar: conversas sobre HIV e AID$”, com Kako Arancíbia e Franclin Rocha, convida o público que transita pelo Terreiro de Jesus a experimentar o silêncio, o afeto e o diálogo como ato performativo.

Mostra de vídeoarte e ciclo de falas públicas

Durante os cinco dias de evento, uma mostra de vídeoarte com curadoria de Rogério Félix, em parceria com o acervo do Vídeo Brasil, será exibida em Jequié e Salvador, reunindo obras nacionais e internacionais sobre identidade, território e performatividade. Entre os títulos confirmados estão “O arco do medo” (Juan Rodrigues, 2017), “De dentro, pra fora, pra dentro” (Jono Lena, 2022) e “No le digas a mi mano derecha…” (2019).

No ambiente virtual, o ciclo Auto-Falante: Aulas Magnas promove falas ao vivo com transmissão pelo YouTube da Bienal, sempre às 11h e com Libras. O pesquisador Renan Marcondes abre o ciclo no dia 13 com a aula “Corpos dissipados”, sobre arte e dissidência. 

No dia 14 de agosto, Pêdra Costa realiza a aula “Vamos abrir a roda, enlarguecer: a abertura como fundamento para a performance arte”. 

Em seguida, no dia 15, Ramon Fontes apresenta “Traindo trauma, tramando vida”, inspirada em fabulações críticas negras. Já Waleff Dias encerra o ciclo no dia 16 com “Torcendo nossas línguas!”, em que propõe a performance como prática espiritual e estética de aparição.

Oficinas formativas presenciais e online

A Bienal também oferece oficinas e mesas de bate-papo gratuitas que versarão sobre o tema do evento e a própria prática da performance na Bahia. Para participar, os interessados devem se inscrever através de formulário disponível no perfil @bienalperformance, no Instagram. Em Jequié, nos dias 14 e 15, Ana Gábris ministra “Risco!: por uma modelagem viva”, um convite performativo para (re)pensar modelagem viva, que contará com partilha final entre os participantes. Em Salvador, Diego Alcântara conduz a oficina “Método Mamba” no dia 15 de agosto, das 15h às 18h, na Casa Mangabeira. No formato online, a artista Nina Caetano oferece no dia 13 a oficina “Práticas Performativas Feministas”, enquanto Kauê Garcia conduz a formação “Arte e Crime”, no dia 14 de agosto. 

Gesto político e desejo de permanência

Para Padmateo, “a rua é o lugar do embate, da escuta e da partilha com quem vive a violência no cotidiano”. E completa: “Que essa edição abra caminho para novos tensionamentos, para outras Bahias. Que as pessoas possam se apaixonar pela linguagem e usá-la como ferramenta de luta e liberdade.” A programação completa está disponível via Linktree da Bienal.

A Bienal se consolida como um gesto político, estético e territorial, deslocando o eixo da arte contemporânea para o interior e os centros populares da Bahia. Ao provocar a pergunta “Isto é violência?”, a edição estreia como espaço de aparição para corpos dissidentes, desejos plurais e novas formas de existir na arte.

A 1ª Bienal de Performance da Bahia é uma realização independente com apoio de instituições como a Escola de Belas Artes e da Pro-Reitoria de Extensão da UFBA, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Gpnec, Gap-Motus, Associação Cultural Vídeo Brasil, Casa 1145, Casa de Angola, Centro de Cultura ACM, Casa Gameleira, Ativa Ateliê, Hotel Bizzon, Hotel San Remo. 

Este projeto foi contemplado no Edital 07/2024 Cultura que Transforma da PNAB – Jequié e tem apoio financeiro da prefeitura de Jequié através da Secretaria de Cultura e Turismo, via Política Nacional Aldir Blanc PNAB, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal.

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