Aldeia Nagô
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Ramon Gonçalves lança décimo segundo álbum do projeto baiano Aurata: “E então, nada”

4 - 6 minutos de leituraModo Leitura

O projeto do multiartista Ramon Gonçalves explora, ao longo de mais de 10 anos de trajetória, muitos caminhos que a música em corpo eletrônico pode proporcionar

Quando estamos dormindo, passamos por um estado de consciência intermediário e semiconsciente, entre a vigília e o sono, caracterizado por fenômenos como alucinações visuais e auditivas, sensação de flutuação ou espasmos, fatores que classificam o que se convencionou chamar de Hipnagogia. A partir dessa base conceitual, o projeto baiano AURATA lança seu décimo segundo álbum, intitulado “E então, nada”, dia 27 de novembro, nas principais plataformas de streaming. O link estará disponível na bio do instagram @aurataexperimental

Essa consciência no estado hipnagógico oscila como pêndulo no espaço. O movimento fluido da imagem, a sobreposição inconsciente do sonho nos intermédios da chamada realidade. É no interior dessas flutuações que o álbum “E então, nada” parece residir. O álbum, entretanto, surge como um capítulo final para uma narrativa do zodíaco e seus respectivos pares sígnicos que engendraram o próprio projeto. 

O fim, a morte, o ciclo. São direções temáticas correspondentes às experiências de quase-morte do artista, à pneumonia e às veredas estranhas que a fumaça percorre em cada cigarro mal fumado. Ciclos intermitentes, misteriosos, como o próprio fazer sonoro e sua natureza acústica exata e incompreensível. Tudo desemboca em um trabalho que utiliza da síntese eletrônica como inquietação artística, e parte muito mais da busca por sentir, muito menos de um sentido.

Assim, ao longo de todo o trabalho sons eletrônicos firmes e sintetizadores inquietos permeiam. Na costura de um tecido frágil é que, não somente a voz de Gonçalvez murmura, como também sua própria música.

Uma mudança na construção sonora de Aurata são suas atmosferas sempre densas, mas que aqui se apresentam clarificadas de sons brilhosos e texturas imanentes. Apropriado ao que diz em ‘Adorna’ – “o recurso do timbre é a obsessão da palavra” -, há investigação de contornos, do limite de processos, o que faz das composições se apresentarem com intenções muito bem definidas, mesmo que a partir de sensos dúbios e complexas emoções.

O caráter de fim ganha ainda mais força no seu vocal em falsete e reverberação induzida, voz que norteia melodias em meio ao instrumental convoluto. Seu delineamento quase faz da sua natureza uma espécie de espectro, eco de angústias que o acometeram, ou do próprio fantasma Aurata, um dos ouros sujos e camisas brancas.

Mesmo apresentando constantes relações em discos anteriores ao Trip-Hop, Glitch, Ambient, Rock Alternativo e IDM, em “E Então, Nada”, Gonçalves difere movimentos muito confortáveis em todas essas direções, mas soa ainda mais agressivo. Talvez, pela euforia de um fim.

A iminência da própria obra de Aurata encontrar encerramentos narrativos traz para o álbum propriedades íntimas, que culminam em descrições de experiências pessoais, no que chama de “violência do sintoma”. Apesar de retratos difíceis de seu próprio processo, Gonçalves não permite somente o silêncio ser sua música.

Algumas histórias de Aurata podem estar mortas nos caminhos sobrepostos do sonho. Mas mesmo se estiverem, continuarão a murmurar sons e palavras como um fantasma de seu próprio tempo. 

É a fertilidade de um corpo, emaranhado em antigos desejos, preparado a continuar a crescer. Florescem desse fim a força do projeto de Gonçalves, que mesmo após 10 anos de trabalho, mantém pronto um lugar de produzir suas novas e próprias histórias.

+ SOBRE O AURATA

Oriundo de experimentos baseados em música minimalista, dispositivos eletrônicos, loops, ruído e sintetizadores, AURATA é um projeto multimídia desenvolvido desde 2014 pelo artista visual, poeta, músico e produtor Ramon Gonçalves. Em sua quase década de atividade, aproximou-se da paisagem sonora enquanto recurso norte, tendo mais de dez registros (entre EPS e álbuns), desdobrando-se também em propostas de composição para audiovisual/teatro os quais propiciaram composições para projetos premiados no Prêmio Braskem de Teatro e Panorama Coisa de Cinema e trilhas sonoras recorrentemente compostas em colaboração com a Companhia Teatro dos Novos e o Teatro Vila Velha, sob a direção de Marcio Meirelles.

AURATA tem seu currículo duas turnês nacionais, entre o centro oeste e sul/sudeste brasileiros. tendo se apresentado também no recôncavo baiano, Ciudad de México (MX) e regularmente em Salvador (BA), aproximando-se de espaços de arte e estruturas não convencionais para apresentação e imersão em suas faixas. BAHIA, seu mais recente registro, teve seu show/espetáculo de lançamento realizado no Cabaré dos Novos, no Teatro Vila velha, contando com participação de artistas de diferentes linguagens como dança, poesia e videomaking.

Na configuração atual para apresentações ao vivo de “Aurata.OSME” em quarteto, conta com Thiago Vinícius (baixo), Candioco (do projeto conquistense cajupitanga nas programações eletrônicas) e Pedro Oliveira (da banda BAGUM nos sintetizadores), colaborador recorrente do projeto. O show propõe mergulho em atmosferas e abstrações que atravessam diversos momentos e canções de AURATA, remodelando-os num campo/eco sensorial com dilatações da palavra, arranjos, improvisos e live sampling.

E ENTÃO, NADAFICHA TÉCNICA

composto, produzido, mixado e masterizado por: aurata (ramon gonçalves)

baixo de nesse instante por pedro oliveira

coros de hiru por pedro candioco (cajupitanga) & thiago vinicius

letra de im sry  por ramon gonçalves & thiago vinicius

fotografias por natália matos & ramon gonçalves

desenhos, colagens, projeto gráfico, design 

e audiovisual por ramon gonçalves (via estúdio arroyo, 2025)

filme conceito por ramon gonçalves 

com texto adaptado a partir da cena 11 de “por que hécuba”, de matéi vinsiec

fotografia e imagens por natália matos

direção, montagem e cor por ramon gonçalves

trilha sonora a partir das faixas hipnagogia, no fundo o tempo, 

sangra o céu e alrisha, aurata, 2025

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