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Maior retrospectiva de Vik Muniz chega a Salvador em dezembro

6 - 8 minutos de leituraModo Leitura

Mostra itinerante “A Olho Nu”, realizada pelo CCBB, reúne mais de 200 obras, algumas inéditas.

Depois de estrear no Instituto Ricardo Brennand, em Recife, onde recebeu mais de 70 mil visitantes, a maior retrospectiva de Vik Muniz, A olho nu, chega a Salvador, onde ocupa o Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC_BAHIA), na Graça, a partir de 12 de dezembro (com visitação iniciando no dia 13), permanecendo em cartaz até 29 de março de 2026. O Ministério da Cultura e a BB Asset apresentam a mostra itinerante, realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com curadoria de Daniel Rangel e produção da N+1 Arte Cultura.

Com uma relação de muitos anos com a Bahia, Vik Muniz volta agora em grande escala, brindando a população com sua maior exposição já realizada, reunindo obras fundamentais de diferentes fases da carreira uma seleção de mais de 200 peças distribuídas em 37 séries, sendo quatro delas ainda inéditas. Entre os destaques estão quatro obras que não estavam na exposição de Recife e são inéditas no MAC_BAHIA: Queijo (Cheese)Patins (Skates)Ninho de ouro (Golden nest) e Suvenir #18

Por toda a parte

O projeto se desdobra para dois espaços da cidade: o ateliê do artista, no Santo Antônio Além do Carmo (onde ocorrerão encontros e visitas), e a Galeria Lugar Comum, na Feira de São Joaquim, onde será apresentada uma instalação site-specific inédita (a partir da obra Nail Fetish) – será a primeira vez que Vik Muniz levará uma obra sua para o local.

“Essa é a primeira grande retrospectiva dedicada ao trabalho de Vik Muniz, com um recorte pensado para criar um diálogo entre suas obras e a cultura da região”, destaca o curador Daniel Rangel. Ele explica que a mostra segue uma linha do tempo que revela a evolução de sua criação artística: das esculturas iniciais à transição para a fotografia, chegando às séries atuais. 

Logo na entrada do MAC_BAHIA, o visitante será recebido pelas esculturas tridimensionais — ponto de partida da exposição e núcleo essencial para compreender o processo criativo do artista. A maior parte dessas peças pertence à série Relicário (1989–2025), não exibida desde 2014 e decisiva para entender a passagem de Muniz do objeto para a fotografia. O recorte curatorial privilegia montagens feitas para serem fotografadas e revela como o uso de objetos cotidianos aproxima sua obra da arte pop e popular.

Rangel observa que, ao iniciar sua carreira com esculturas, Vik passou a explorar massa, volume, volatilidade e suas relações com a percepção. A necessidade de fotografar esses trabalhos para registro despertou seu interesse pela fotografia — inicialmente por insatisfação com imagens produzidas por terceiros. Ao assumir a câmera, percebeu que podia construir cenas pensadas exclusivamente para serem fotografadas, marco que definiu um novo rumo para sua criação. Essa virada — da fotografia como registro à tridimensionalidade concebida para a lente — é um dos eixos centrais da exposição.

O curador também destaca a definição do artista canadense Jeff Wall sobre dois tipos de fotógrafos: o “caçador”, que espera o momento ideal, e o “agricultor”, que constrói a situação que deseja registrar. “Vik Muniz é um fotógrafo agricultor”, afirma Rangel. Um exemplo emblemático desse método é a série Crianças de açúcar (1996), marco conceitual de sua obra. Nela, o artista fotografou crianças caribenhas que trabalhavam em plantações de cana e depois recriou suas imagens usando apenas grãos de açúcar.

Obras inéditas no Brasil

A mostra apresenta ainda outras três obras até então nunca exibidas no país — OklahomaMenino 2 e Neurônios 2 — vistas anteriormente apenas na exposição de Nova York, em 2022, e recentemente no Instituto Ricardo Brennand. O percurso expositivo se encerra com a série Dinheiro vivo (2023), criada em parceria com a Casa da Moeda do Brasil a partir de fragmentos de papel-moeda.

O vasto repertório de materiais utilizados por Vik — que vai literalmente do lixo ao dinheiro — sustenta a poética da ilusão e da mimetização que marca sua produção, sempre permeada por humor, crítica social e surpresa. Elementos que, segundo o curador, “seduzem o olhar e convidam o público a despir-se de uma visão tradicional, permitindo enxergar tudo ‘a olho nu'”.

“Vik Muniz é um ilusionista”, resume Rangel. “Um mágico na construção de imagens que não existem, mas que se tornam reais, fazendo do espectador cúmplice de um fazer artístico que nos captura como em uma mágica.”

Sobre Vik Muniz

A obra de Vik Muniz (n. 1961, São Paulo, Brasil) questiona e tensiona os limites da representação. Apropriando-se de matérias-primas como algodão, açúcar, chocolate e até lixo, o artista meticulosamente compõe paisagens, retratos e imagens icônicas retiradas da história da arte e do imaginário da cultura visual ocidental, propondo outros significados para esses materiais e para as representações criadas. 

Para a crítica e curadora Luisa Duarte, “sua obra abriga uma espécie de método que solicita do público um olhar retrospectivo diante do trabalho. Para ‘ler’ uma de suas fotos, é preciso indagar o processo de feitura, os materiais empregados, identificar a imagem, para que possamos, enfim, nos aproximar do seu significado. A obra coloca em jogo uma série de perguntas para o olhar, e é nessa zona de dúvida que construímos nosso entendimento”. 

Muniz também se destaca pelos projetos sociais que coordena, partindo da arte e da criatividade como fator de transformação em comunidades brasileiras carentes e criando, ainda, trabalhos que buscam dar visibilidade a grupos marginalizados na nossa sociedade.

Sobre Daniel Rangel

Daniel Rangel é mestre em Artes Visuais pela USP, onde cursa o doutorado em poéticas visuais, e bacharel em Comunicação pela UCSal. Curador, pesquisador e gestor cultural com mais de duas décadas de atuação, dirige o Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC_BAHIA) e é sócio da N+1 Arte Cultura. Foi curador-chefe do Museu de Arte Moderna da Bahia (2021–2023), diretor artístico do Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo) e diretor da Diretoria de Museus da Secult-BA.

Assina a curadoria de A olho nu – Vik Muniz, maior retrospectiva do artista; REVER_Augusto de Campos, no Sesc Pompeia, eleita Melhor Exposição Individual de Artista Brasileiro (revista Select!); Palavra em Movimento, sobre Arnaldo Antunes, vencedora do APCA 2015; e My name is Ivald Granato, premiada no Arcanjo de Cultura. Participou de bienais e festivais no Brasil e no exterior, como a 8ª Bienal de Curitiba, as Bienais de Cerveira (Portugal), o Festival Art.br em Nova York e o World Biennial Forum.

É autor e organizador de publicações como Klaxon em RevistaMaking Biennials in Contemporary TimesLuzescritaReady Made in Brasil e Afonso Tostes: entre a cidade e a natureza. Também realizou curadorias individuais de nomes como Tunga, Waltercio Caldas, José Resende, Carlito Carvalhosa, Ayrson Heráclito e Rodrigo Braga, além de mostras coletivas como O Museu de Dona LinaEncruzilhadaUtopias e Distopias e Poesis in Praxis.

Sobre o Centro Cultural Banco do Brasil 

O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) é uma rede de espaços culturais gerida e mantida pelo Banco do Brasil, com o objetivo de ampliar a conexão dos brasileiros com a cultura e valorizar a produção cultural nacional. Presente no Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte, está em avançado processo de instalação de sua nova unidade em Salvador. Na capital baiana, passa a ocupar o Palácio da Aclamação, histórico edifício do início do século passado e que, durante mais de cinquenta anos, foi residência oficial dos governadores da Bahia. Mesmo antes de iniciar suas atividades no Palácio da Aclamação, o CCBB já realiza intervenções culturais em diversos espaços da cidade de Salvador.

Site: bb.com.br/cultura
Instagram:@ccbbsalvadorbahia
E-mail: ccbbsalvadorba@bb.com.br

Serviço:
Exposição Vik Muniz – A Olho Nu
MAC_BAHIA (Rua da Graça, 284 – Graça, Salvador – BA)
Período: de 13 de dezembro de 2025 a 29 de março de 2026
Acesso gratuito
Funcionamento: de terça a domingo, das 10h às 20h

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