Como Envelhecer Ativo. Entrevista com Dr. Moysés Paciornik
Ginecologista e obstetra que completou
93
anos dá dicas de alimentação e qualidade de vida
Ele completou 93
anos: ao contrário de muitos que chegam a esta idade, o médico ginecologista e
obstetra Moysés Paciornik tem muita disposição para viver, saúde que faz inveja
aos mais novos e muita, mas muita vontade de trabalhar. Isso mesmo, ele continua
batendo o cartão na Rua José Loureiro, no mesmo consultório onde começou a
atender as pacientes.
Deixou de fazer partos e cirurgias aos 90 anos,
mas ainda se dedica à clínica. No currículo, já ajudou mais de 60 mil crianças a
nascer. Ficou famoso em Curitiba e no mundo inteiro porque aprendeu a envelhecer
sem ficar velho. Com esse tema publicou, em 2000, um livro que trata do
envelhecimento e da geriatria. É membro da Academia Paranaense de Letras e da
Academia Brasileira de Médicos Escritores.
Em entrevista à Gazeta do
Povo, Paciornik conta alguns dos segredos para quem quer chegar aos 100 anos de
idade. Segundo ele, é preciso evitar os três pós brancos (açúcar, farinha e sal)
e praticar exercícios regularmente. Com a palavra, o Dr. Cócoras. Quem
desconhece o motivo desse apelido simpático, já vai entender o porquê.
Qual é a mensagem que o senhor pode passar às pessoas que desejam envelhecer
com saúde?
Elas precisam aprender a comer corretamente e fazer
exercícios. Na atualidade, esses dois assuntos são modernos e todo mundo sabe.
Devemos evitar os três pós brancos: o açúcar, a farinha e o sal. Isso já vem
sendo difundido há 40 anos. A questão é que muitas revistas falam hoje de como
comer certo com conselhos mais ou menos complicados. Eu sou prático. Evite os
pós brancos e a gordura animal. Mas vamos nos alimentar do quê? O que Deus
colocou no mundo precisa ser comido, que é o que o índio da mata come. Na mata,
ele não tem os pós brancos. Come verduras, frutas, carne magra resultado da
caça, tudo à vontade.
E o senhor leva essa dieta a sério? Consegue
evitar alimentos que fazem mal à saúde?
Gosto de chocolate, mas evito.
De um modo geral, qualquer doce é gostoso, contudo tem de ser evitado. De vez em
quando dá para comer uma sobremesa. Porém, eu procuro não comer qualquer tipo de
bolo, pão, bolacha e macarrão, tudo o que tem açúcar e farinha. O sal deve ser
usado moderadamente. Pela manhã, como duas qualidades de frutas e café com leite
magro sem açúcar. No almoço e jantar é salada, carne magra (suína em geral não
como, porque não gosto). Também incluo no cardápio arroz branco e feijão.
Qualquer qualidade de peixe está liberada.
Com essas dicas, é certo
concluir que somente as pessoas magras vão viver mais?
As magras estão
menos sujeitas a uma série de doenças. Se não comem gordura animal, evitam o
colesterol e os triglicerídios. Se retiram da alimentação o açúcar e a farinha,
previnem a diabete. Sem o sal, a pessoa não vai estar propensa a ter hipertensão
arterial.
Em relação aos exercícios físicos, ir à academia ou caminhar
todos os dias é suficiente?
Ambos são uma boa alternativa para
envelhecer, porque protegem o organismo. Mas aconselho subir e descer escadas.
Isso porque é um exercício econômico, eficiente e não custa nada. Até os meus 90
anos subia e descia as escadas dos 19 andares do meu prédio duas vezes ao dia.
Hoje só desço. Trabalho o corpo todo nessa atividade física, porque também
pratico o ‘up and down’ (em português, levantar e baixar), ou seja, fico de
cócoras e depois levanto, esticando todo o meu corpo. Faço isso duas vezes em
cada pavimento. O ‘up and down’ é barato, não custa nada e pode ser feito em
qualquer lugar. Não requer aparelhos e os resultados aparecem dentro de poucos
dias. Uma vez fui aos Estados Unidos visitar o Empire State Building e subi, sem
parar, os 120 pavimentos do edifício. Mas naquela época eu era mocinho, tinha 78
anos.
Quais os benefícios de ficar de cócoras ou fazer o ‘up and down’
algumas vezes ao dia?
Na década de 70, compreendemos porque as índias
caingangues não têm varizes, celulite e a pele do rosto é perfeita. Observamos
também o porquê das índias da mata conservarem o canal genital em muito melhor
estado do
que as mulheres civilizadas. A primeira questão está relacionada
ao parto de cócoras. No parto deitado, o canal vaginal se estreita cerca de 28%.
Então, esse canal estreito é mais fácil de rasgar e machucar a mulher. Ele é um
dos culpados. Porém, fomos ao Paraguai e descobrimos outra questão importante.
Por que as índias da mata que moram nesse país fazem o parto deitado e não estão
tão estragadas como as nossas? Naquela ocasião descobrimos que isto também
deve-se ao fato de as índias não usarem cadeira. Eis a chave de todo o problema.
A cadeira é prejudicial à saúde?
Tem uma lei de medicina que
explica que todo órgão em repouso prolongado enfraquece. Sentado na cadeira, o
corpo inteiro – da cabeça aos pés – está em repouso. Então tudo fica fraco e as
conseqüências são varizes, celulites, dores na coluna, problemas com prisão de
ventre. De cada 100 civilizados, 80 têm ou terão dor na coluna.
E o
que as pessoas que trabalham o dia todo sentadas devem fazer?
A cada
uma ou duas horas é preciso parar para fazer o ‘up and down’. O ideal é que se
pratique até cem vezes o ato de levantar e baixar. Já no sofá, na hora de
assistir televisão, as pessoas devem ficar em posição de ioga, com as pernas
cruzadas como os índios. Isso porque o sangue espremido é bombado para a cabeça
e o cérebro recebendo mais sangue funciona melhor. É uma boa dica para quem está
estudando e para quem quer evitar a celulite.
Dr. Moysés Paciornik,
médico