Aldeia Nagô
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TemBuBuBu no BBB por Maurício Tavares

4 - 6 minutos de leituraModo Leitura

Fui entrevistado pelo
Terra Magazine e falei que, na era das subcelebridades, ser inteligente é um
defeito. Marcelo Tas postou no Twitter que tinha começado a temporada do BBB e
de comentários "inteligentes" sobre o programa. 


Acho que, para ele, o CQC deve
ter o monopólio dos comentários inteligentes e engraçados entre aspas sobre
qualquer coisa.

Por que falar de BBB, um assunto tão exaurido pela mídia
e pelos intelectuais come sem aspas? Porque ele, contra todos os prognósticos,
continua atraindo milhões de pessoas, mesmo na sua 11ª edição. Quando escrevi
sobre o BBB para a Revista da TV de A TARDE, muitos anos atrás, também pensei
que esse besteirol entediante e repetitivo teria vida curta.

Hoje vejo
que o programa se manteve com alguma das suas irritantes características e
acrescentou novas. Em um texto antigo, Umberto Eco dizia que, na cultura de
massa, é preciso renovara fórmulas em mudála no essencial. Será que tem alguma
coisa essencial na tal fórmula BBB da Globo? Dupla Acredito que a sustentação do
programa hoje se dá em cima de dois personagens que fazem papéis opostos na
comédia: Pedro Bial e Boninho. Eles representam o good cop e o bad cop na
estrutura dramática do novelão.

Bial, o péssimo, e meloso, leitor do
texto Use filtro solar, é o amigão que tem sempre uma frase de apoio, um
citação, um conforto pra os "bróders" e sisters.

Comodiria Tia Hebe, "ele
éuma gracinha".

É impressionante como, no segundo dia,ele trata todos com
uma intimidade de coleguinha da academia. Patrícia vira Pa, Lucival vira Lu e
todos vão passear no bosque, enquanto seu Lobo não vem.

O Lobo mau da
história é o diretor Boninho. Famoso por atirar ovos na cabeça das pessoas que
passavam na calçada do prédio em que morava.

Ex-marido de Narcisa
Tamborindeguy e de uma tal Carol, ex-esposa do "conde" Chiquinho Scarpa,
currículo pra sustentar sua fama de mau ele tem de sobra.

Na fórmula
atual, todos esperam qual vai ser a próxima maldade que o Mefistófeles da
"poderosa" vai urdir no seu caldeirão de bruxo. É interessante como ele consegue
avançar em relação às telenovelas da mesma rede, que ainda se embaraçam com um
beijo gay.

No BBB pode quase tudo. Por pouco não liberaram agressões
físicas, como o guru do mal pretendia.

O departamento jurídico da
emissora deve ter sido consultado.

Isso derruba de vez aquela ilusão do
famoso padrão de qualidade global. Acho que de tal padrão só restou a qualidade
técnica. Que, por sinal derrapa na voz modificada do Big Fone, que parece de
filme de "terrir" de quinta.

Algumas coisas são particularmente babacas
no BBB. Parecem, às vezes, um comercial de canal pornô da TV por assinatura, que
mostrava várias coisas ridículas que as pessoas fariam para, no desespero,
conseguir sexo. Num dos comerciais, uma mulher sentada na garupa de uma moto,
sem capacete e toda descabelada pelo vento, paga seu "pedágio" pra conseguir
finalmente gozar.

Segurar um abacaxi vestido de boneca durante um dia
todo é talvez mais ridículo do que andar a mil por hora toda descabelada na
garupa de uma moto.

Talvez porque o gozo final do BBB (em dinheiro) seja
bem maior do que o obtido pela pobre carente de sexo.

Mas é preciso ser
desprovido de qualquer senso crítico pra enfrentar tais tarefas. As provas do
líder (ou qualquer coisa assim) são também de uma babaquice sem fim. Além de
serem intermináveis anúncios comerciais das empresas patrocinadoras.

O
que muda nessa edição atual em relação às outras edições do BBB? A vulgaridade
dos participantes é cada vez maior.

Esse é o espelho que milhões de
adolescentes terão durante alguns meses para se verem refletidas.

Terão
que engolir muita filosofia de beira de estrada das experientes dançarinas e dos
– quase? – go-go-boys do programa.

Malhem muito, cuidem da beleza e
esqueçam esse negócio de estudar que não dá camisa pra ninguém.

Baianos
Quanto aos participantes baianos, não sei o que se pode esperar.

Diogo,
que jogava futevôlei em frente ao meu prédio, aqui no Porto, é um bobo
alegre.

Estar nas areias do Porto ou no BBB, pra ele, tanto faz. Ele é
super à vontade, nunca deixa a peteca cair. Do pouco que vejo do programa
("quando dou uma passada no quarto da empregada" que não tenho), a sua excessiva
simpatia e "baianidade" me cansam horrores.

Já Lucival é a esperança de
um homem pensante na casa. Por enquanto, ele não tem se saído muito bem. Começou
usando um chapéu de malandro de gafieira carioca( uma homenagem a Madame Satã?)
e agora vive no sofá trocando fofoquinhas com o colega pernambucano.

Ai,
que loucura! Quando chegarmos ao BBB 69, espero estar vivo para dar minhas
impressões. Embora,ao contrário de um colega professor, eu consiga viver longe
da tela da Globo.

Maurício Tavares Professor
da Facom-Ufba 

mntavares@uol.com.br

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