Aldeia Nagô
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A Abril nos tribunais. Por Guilherme Scalzilli

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

O jornalista Luís Nassif está mobilizando a blogosfera com seu dossiê Veja,
série de artigos que denunciam o antijornalismo praticado pela revista nos
últimos anos. Envolve interesses corporativos, destruição de reputações, tráfico
de influência. Desmascara a diretoria editorial da revista e, principalmente,
Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi. Trata-se de estudo avassalador, embora não
surpreendente, que precisa ser lido e divulgado.


O material já causou estragos. A Veja esboça uma ligeira mudança de tom nas
suas edições semanais e há suspeitas de que ela tem obstruído as ferramentas de
busca eletrônica aos conteúdos de matérias e postagens antigas – especialmente
as que corroborariam as denúncias. A revista processa Nassif e, aparentemente,
utiliza funcionários anônimos (além dos supracitados) para espalhar ataques
pessoais a ele.

É compreensível que Nassif tente evitar conotações político-partidárias em
sua empreitada. Seria (e continua sendo) cômodo para a revista refugiar-se numa
batalha moral contra o "lulo-petismo". Quando se trata de ética jornalística,
entretanto, não cabem desculpas ideológicas.

E o respaldo da imprensa?

Mas o público sabe que esse comportamento da Veja também possui um viés
eleitoral. Ela é acusada de defender interesses que se beneficiam do poder
conferido pelas urnas a eles próprios ou a terceiros. Se alguém escancara essa
contaminação, direta ou indiretamente, mexe nas suas motivações. Por isso, é
importante não esquecer que o gesto de Nassif insere-se num contexto político,
pois assim será tratado pelos detratores.

Os grandes veículos, assim como a Associação Brasileira de Imprensa, fingem
que a querela não existe. Não querem se expor a exumações semelhantes,
principalmente depois que a Folha de S.Paulo foi envolvida num dos episódios
denunciados. Os comentaristas abordam a questão com cuidado, sabedores do poder
destrutivo de Veja.

Esse comportamento revela muito sobre a categoria. A manipulação teria sido
aberta, conhecida por todos, durante anos. E a revista só foi confrontada por
iniciativa de um indivíduo isolado que, apesar da força de sua biografia e de
seus argumentos, não angariou o respaldo de uma imprensa que se diz combativa e
independente (ou melhor, que é "combativa" e "independente" quando
interessa).

Precedente histórico

Imagina-se que a direção da revista tenha instruído seus advogados a causarem
o maior estrago possível, financeiro e pessoal, na vida de Nassif. As despesas
são altíssimas, os prazos dilatados, os resultados incertos e as primeiras
instâncias, imprevisíveis. A desigualdade de forças resvala na coerção do
gigante empresarial que tenta destruir exemplarmente seus desafetos
incômodos.

Mesmo assim, parece alvissareira a hipótese do Judiciário ser constrangido a
se manifestar. Passou o tempo de tratar falsos depoimentos, incriminações
indevidas, denúncias vazias, deturpações e mentiras como simples efeitos
colaterais da liberdade de imprensa. A integridade moral dos indivíduos e o
interesse coletivo são protegidos por leis que estão acima de couraças
retóricas.

A nobre iniciativa de Nassif não envolve apenas os leitores de Veja e talvez
nem o público genérico de periódicos. Trata-se de esclarecer o uso antiético e
quiçá ilegal da grande imprensa para favorecer determinadas facções corporativas
ou políticas. Tamanha abrangência só pode ser respeitada por um poder de
envergadura equivalente, conferindo máxima lisura ideológica à decisão.

O desejável sucesso da defesa do jornalista, ainda que custoso e demorado,
pode abrir um precedente histórico e contribuir para uma análise profunda sobre
o jornalismo nacional.

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