A audiência pública do ACM Neto e seu BRT. Por Waltere Takemoto
Ontem, 22/05, ocorreu no Ministério Público da Bahia uma audiência pública convocada pela promotoria de meio ambiente e de mobilidade urbana.
Estavam presentes representantes da universidade, associações profissionais, movimentos sociais e especialistas em mobilidade urbana e urbanismo, absolutamente todos contra o projeto de BRT que o prefeito pretende impor à cidade.
Do lado do ACM Neto, a prefeitura, como fazem os gestores públicos que querem impor a qualquer preço um projeto impopular e que representará danos irreversíveis para o bem comum, levou para a audiência pessoas que são notoriamente vinculadas a vereadores e contratadas pelo poder público, os chamados “cabos eleitorais”.
O trágico é que são pessoas da periferia da cidade, que pela exclusão histórica, a miséria e a opressão, são cooptadas pelos seus verdadeiros inimigos e algozes, para defenderem o que desconhecem, e que continuará a mantê-los na condição de subserviência e sob controle do poder econômico que transforma o espaço público em mercadoria.
Os representantes da prefeitura, secretário e assessores, foram incapazes de apresentar qualquer justificativa técnica para o projeto, expondo apenas slides de PPT que o prefeito já divulgou pela imprensa que controla. Nenhum dos questionamentos dos debatedores foram capazes de responder.
E é evidente para quem analisar os argumentos contra e a favor que:
– O trecho em construção do Parque da Cidade ao Iguatemi, com menos de 3 km, não tem demanda de passageiros que justifique a obra de quase R$ 300 milhões
– A maior demanda, trecho 2 Pituba/Iguatemi, não é prioridade da Prefeitura, pois não necessita de grandes obras que são cobiçadas pelas empreiteiras
– Menos de 30% dos recursos destinados a obra de R$ 800 milhões, é utilizada para o transporte coletivo e mais de 50% para o transporte individual por carros, ou seja, não é um projeto voltado para o transporte coletivo, mas para facilitar o deslocamento de quem não precisa de ônibus
– Sobre o inicio das obras, sem licenciamento e relatórios de impacto, que estão cortando dezenas de árvores, bambuzais, mata ciliar, atingindo a fauna existente, sem autorização para manejo, o silêncio é absoluto, seja do secretário que lá estava ou do procurador da prefeitura, a quem compete garantir a legalidade dos atos do poder público
– O secretário do prefeito disse que o ACM Neto estuda implantar na cidade ônibus elétrico, seria cômico se não estivéssemos diante de uma tragédia ambiental e urbanística. Se pensa em modal elétrico, porque é que está construindo um BRT elevado que não poderá no futuro ser substituído por um VLT ou VLP? Vai gastar centenas de milhões para daqui alguns anos derrubar tudo?
– O secretário disse que a obra do BRT vai possibilitar resolver o problema da enchente na região e acabar com os congestionamentos. É mentira, e explico:
Enchente: tamponar rios e impermeabilizar o solo aumentam a probabilidade de enchentes, dificultam ou impedem a manutenção e limpeza para garantir a vazão, portanto não só continuam as enchentes como pioram, e o Imbuí é uma prova. Se houvesse apenas a construção de BRT como solução para enchentes, então o prefeito vai construir BRT elevados em toda a cidade de Salvador, ou possuem outras medidas para resolver esse problema e o prefeito está utilizando o BRT como pretexto para tentar ganhar o apoio da população que mora na região?
Congestionamento: costuma-se dizer que para combater os congestionamentos a maioria dos prefeitos e governadores costumam alargar avenidas e ruas, construir viadutos e elevador, na mesma lógica da pessoa que engorda de tanto comer e ao invés de controlar o que come e fazer exercícios, prefere aumentar os furos do cinto. ACM Neto está fazendo isso com esses elevado e viaduto. Ao invés de investir em transporte público de qualidade, vai gastar milhões em viadutos e elevados para criar mais 4 pistas para automóveis e transferir o congestionamento para um pouco mais distante, ou seja, a Paralela e Tancredo. E daqui pouco tempo, o congestionamento vai estar em cima do elevado, como ocorreu no Minhocão de São Paulo. E mais: vai ter carros parados em cima do elevado do ACM Neto e embaixo dele também.
Poderia ficar aqui escrevendo outras tantas barbaridades ditas pelos representantes do prefeito ou pelos seus cabos eleitorais.
Mas não é necessário.
O que importa é que apesar do poder econômico, do controle da mídia, o movimento está crescendo, e o Ministério Público não pode ficar omisso ao crime que a prefeitura está cometendo, e muito menos o INEMA que até agora não se pronunciou sobre o desmatamento e a fauna, o dano a mata ciliar que atinge os rios.
Vamos continuar lutando e domingo, dia 27 as 9 horas da manha vamos estar de novo lá no canteiro central em frente ao Hospital Aliança para dizer não ao projeto criminoso do ACM Neto.