Aldeia Nagô
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A ausência de meios de comunicação de esquerda com audiência, por Alexandre Tambelli

7 - 9 minutos de leituraModo Leitura
ALEXANDRE_TAMBELLI

Torna-se preciso entender que as forças de esquerda, as forças progressistas e defensoras dos interesses nacionais estão desarticuladas e reféns de um Sistema de produção de narrativa do Brasil possível unificado e em defesa de uma só bandeira: o neoliberalismo radical e em aliança com os EUA.

Esse Sistema de produção de narrativa unificado é capitaneado pela Rede Globo de Televisão e mais algumas grandes mídias familiares do Brasil (menos de 10 famílias). É um Sistema que controla aproximadamente 90% das informações/ notícias que o brasileiro recebe sobre o cotidiano do Brasil e do Mundo em Língua Portuguesa.

Partes significativas do Judiciário, dos executivos e dos Legislativos do Brasil são cooptadas por esse Sistema, milhares são eleitos por esse Sistema de produção de narrativa unificado, milhões de brasileiros são reféns desse Sistema (hoje, muitos nem ousam ir contra ele por medo de uma Lava-Jato, de qualquer articulação mídia/Judiciário para assassinar suas reputações, até destruir seus patrimônios financeiros. Muitos se calam, esta é a pura realidade).

É uma grande ilusão acreditar que uma narrativa alternativa via Internet possa fazer frente a esse Sistema. Uma notícia veiculada no Jornal Nacional pode atingir ao mesmo tempo 30, 40 milhões de pessoas. Uma postagem da Internet tem, geralmente, se muito, 50 pessoas lendo ao mesmo tempo, e mesmo que se consiga veicular um texto que atinja 50 mil acessos e 10 mil compartilhamentos não se vai chegar a 500 mil leitores, penso eu. Clicks e leituras não são as mesmas coisas, tem esse detalhe.

E tem a questão de ser texto escrito ou ser a fala de um interlocutor que em muitos momentos é em uma linguagem acadêmica, com conteúdo de compreensão truncada para o cidadão comum – que não está ou pouco está por dentro do assunto. E quando com imagens, geralmente, elas estão pouco nítidas, feitas, quase sempre, de forma amadora. E tudo, parece ser levado a um público já determinado, ávido pelo diferente da mídia tradicional, mas próximo na Ideologia, uns mais à esquerda do que outros, porém, não mais que 20 ou 30% da sociedade e gente progressista e melhor informada/ mais “antenada” na disputa feroz entre as forças do Capital e a classe trabalhadora.

Uma pergunta:

Será que há possibilidade de crescimento para além dos 20, 30% habituais de brasileiros de esquerda, possíveis pessoas a acessar as postagens dos blogs progressistas, da Mídia Ninja, dos Jornalistas Livres e alguns poucos mais e aceita-las como informação correta no Brasil de outubro de 2016?

Voltando.

A Internet que importa, penso eu, é da manchete e da ideia de que nesse eu acredito. Se a gente observar 95% dos clicks e curtidas nas nossas postagens é de gente ideologicamente próxima a nós. Tem gente que exclui das amizades o outro lado, a direita, ai nem vai ter como difundir nada de contraditório e nem se terá a chance de alguém mudar de lado. Falará esta pessoa pros já convertidos apenas.

Do outro lado é idêntico. Porém, a outra Internet, a da direita, tem o Poder do Capital e tem por retaguarda os grandes portais da velha mídia com toda a tecnologia de imagens e suas manchetes garrafais, que caem como uma luva para as suas pretensões ideológicas, sem contar todos os outros meios de comunicação do Brasil: TV, rádio, Jornais, revistas, cinema, etc. que a direita controla, praticamente só, e que invadem sozinhos, quase todas as casas e estabelecimentos comerciais, e são as pontas de lança mais afiadas de uma narrativa do Brasil que seja favorável somente à direita política.

Pensemos no brasileiro comum. O click de compartilhar é, quase sempre, por uma manchete, e, não pelo conteúdo. Se não compartilhado foi acessado e, certamente, assimilado por centenas de milhares ao mesmo tempo, certo?

Quando eu posto que um Político/políticos conhecido(s) nacionalmente da direita, também, está(ão) citado(s) em planilhas da Odebrecht eu estou falando para 5 ou 10 amigos, o Brasil 247 para um tanto de gente e a Rede Globo, omitindo esta informação, está falando para milhões, ou melhor, deixando de falar para milhões.

É desigual. E imaginemos este processo de falar mal das esquerdas para milhões ao mesmo tempo e milhares de vezes seguidas e sonegar quase todas as coisas erradas que a direita faz. Só pode dar no que deu: Golpe de Estado e continuado o processo no voto em candidatos da direita, aliados na votação no Congresso Nacional do Golpe, nas eleições municipais.

Sem outra narrativa consistente, para além da Internet, tendo espaço na TV e no rádio dos brasileiros, nas manchetes e capas de revista das bancas de jornal, nós das esquerdas não temos como competir com mínimo equilíbrio, certo?

Divididos, muito menos ainda.

Defenestrados do Governo, então, é quase impossível.

Infelizmente, se torna necessário dizer que a Internet, apesar de ser um front de defesa das esquerdas e do Brasil independente e progressista, não é o front principal e por isso impera a narrativa da velha mídia. O principal se tem mostrado ser a propaganda televisa e do rádio + as manchetes de jornal e capas de revista, sem ilusões de ser diferente, penso eu.

Em São Paulo é absurdo a quantidade de televisores e rádios ligados nas emissoras pertencentes ao Sistema Globo de Comunicação, durante o dia todo e em todo lugar, em casa ou fora de casa.

A maioria das notícias que os brasileiros escutam e/ou veem, assimilam e comentam/discutem está na TV e no rádio e não na Internet.

Para enfrentar essa falta de comunicação além Internet as esquerdas terão de se articular daqui para frente nas suas bases sociais, nos movimentos sociais para ir de encontro, tête-à-tête com a população/eleitorado que não lê, não ouve, não vê nada da Internet progressista, que só se informa sobre o cotidiano do Brasil e do Mundo pela velha mídia, que não se interessa por Política, que não entende nada de Neoliberalismo e nem imagina o quanto prejudicial é o Governo Temer para os brasileiros e para um Brasil desenvolvido e com oportunidades de progresso social para todos.

Até para sair da crise econômica atual sabemos que o remédio não é o proposto pelo Governo do Golpe, a população em geral não tem muita noção do que vem por ai. Boa parte da população tem votado hierarquicamente no menos corrupto, alimentada pelo ódio, pela desinformação e pela ideia que foi sedimentada no seio da sociedade via velha mídia, que em retirando os corruptos do Poder a Vida delas melhora. Hierarquicamente o PT é o corrupto mor, na lógica da narrativa dos meios de comunicação oligopolizados, não no mundo real, então, não se vota nele, se vota em qualquer um ou em ninguém, mas no PT, não!

Mesmo que tenha alguma lucidez o eleitor, ele está sendo levado a esta forma de voto, anti alguma coisa e não pró alguma coisa nem que o pró seja por demais benéfico ao eleitor.

Nós das esquerdas não podemos mais acreditar que Poder é apenas vencer uma Eleição. E acreditar que podemos exercê-lo com o respeito dos perdedores pelo voto. Quem a direita brasileira eleita representa não tem limites e nem tem apreço por Democracia, Brasil e povo.

Porém, há uma observação importante.

Mesmo com toda a mídia possível, João Dória foi eleito com votos de 35% do eleitorado paulistano. 22% nem foi votar e 17% dos votos válidos foram brancos ou nulos. De 8.800.000 eleitores Dória teve 3.100.000 votos. 5.700.000 paulistanos não votaram nele em primeiro turno.

Não é unânime a votação em Dória. 65% dos eleitores não votaram nele.

Aqui na Vila Mariana, bairro de classe média alta paulistana, eleitorado em massa do PSDB, o voto em Dória foi envergonhado, nenhum buzinaço em comemoração por sua vitória e nem gritos das janelas dos prédios. Estranho esse comportamento no reduto eleitoral tucano.

A Eleição municipal fragmentou, em muito, os votos, dados para diferentes candidatos ou para ninguém, certo?

Que tenhamos unificação, Galera! Das esquerdas!

Podemos construir caminhos unificados em 2018 e, se houver eleições, vencer, unificados em candidatura única. Criemos soluções de Luta coletivas por outra realidade em breve: alternativas de baixo para cima, sem gabinetes e sem a preguiça dos ares-condicionados. E criemos mídias alternativas, mas de alcances plurais e acessíveis os conteúdos veiculados ao leitor comum.

A velha mídia não vai poder segurar a narrativa de que é maravilhoso o atraso econômico-social do neoliberalismo, agora, mais radical, em sua versão Plus 2.0, e que se avizinha voltar com tudo em terras brasileiras, pós-eleição municipal.

Está muito embaralhada a cabeça das pessoas.

Com organização e unificação podemos reverter o quadro eleitoral mais adiante.

E pensemos numa situação provável advinda da radicalidade neoliberal:

O povo desorganizado pode surpreender, se a direita pensar que pode tudo.

No momento que o Smartphone não der mais aquele click desejado e o povo desorganizado não puder trocar de celular quero ver quem segura essa gente toda. Quando a Miami sumir do mapa quero ver quem vai segurar a fúria verde-amarela na Paulista.

Enfim, um dado importante é que agora a direita precisa mostrar a que veio, reassumindo os poderes Federal e Municipal, além do Estadual, aqui em São Paulo está, assim, que ela já detém desde sempre.

Acabará em breve o mantra do Golpe de que tudo é culpa do PT.

Artigo publicado originalmente em http://jornalggn.com.br/blog/alexandre-tambelli/a-ausencia-de-meios-de-comunicacao-de-esquerda-com-audiencia-por-alexandre-tambelli

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