A cultura do jeitinho e a permissividade para além do folclore. Por Joatan Nascimento
Sim, é um traço nacional, a cultura do jeitinho, o famoso e malfadado “jeitinho brasileiro”. E como gostamos! Como nos locupletamos! Como patrocinamos entre risos acanhados e o ego inflado ao vermos atendida alguma demanda nossa, que pelas vias “normais”, não sairia ou demoraria tempo demais, já que o nosso tempo é mais urgente que o tempo dos demais.
Como damos ao mundo, exemplos inquestionáveis de como somos facilmente corrompidos pela oportunidade de nos sentirmos “especiais”, privilegiados ou espertos.
O fato é que não temos moral para criticar o inglês que, na Praia do Forte, dentro do mar, sacou para fora do calção o seu pênis e deu uma vistosa mijada em estilo chafariz, para riso dos compatriotas e horror das senhoras que ali estavam com suas crias. Ninguém pôde chegar e enquadar o sujeito, simplesmente porque isto é aceitável.
Ou ainda o músico alemão que chega no palco onde outros músicos estão tocando, e já finalizando o seu show, e simplesmente sobe no palco pra tocar o que bem lhe der na telha. Damos o exemplo ruim e teremos que aceitar.
O outro, italiano, acende o seu charuto e o fuma tranquilamente numa área de uma pizzaria onde outras pessoas estavam comendo, e simplesmente ouvimos da garçonete que era assim mesmo!
Outros povos não são mais evoluídos que nós. Guardam as mesmíssimas mazelas que qualquer humano tem. Porém, vivem em sociedades onde as regras e as leis são para todos. No Brasil, as leis funcionam para alguns. Maquiavel faz sucesso: “Aos amigos, os favores. Aos inimigos, a Lei!”
Em outros países, todos precisam se enquadrar porque as sociedades avançaram para garantir bem estar para todos. Bem estar somente alcançável através do cumprimento dos deveres a que todos são submetidos.
Temos muito o que andar! É notório que já avançamos, mas também o é, que a cultura gerada numa sociedade que nasceu escravocrata ainda patrocine a cultura dos privilégios, e privilégios não existem a não ser, em detrimento ao direito usurpado a alguém.
Joatan Nascimento é Professor de Música e Músico Profissional