A democracia por um fio: intelectuais chamam à rua
O Brasil vive horas decisivas. Aquelas em que o poder se decide nas ruas. Escolhas cruciais vão condicionar a sorte da sociedade, o destino da nação e a destinação do seu desenvolvimento por anos, talvez décadas adiante.
Um ciclo de crescimento se esgotou. Outro precisa ser construído.
Há perguntas que não podem se calar nessa hora: para quem, como e a que custo deve ser planejado o passo seguinte da vida brasileira?
Ecos de intolerância fascista, alimentados pela mídia, por parte do judiciário e de interesses conservadores operam para impedir que esse debate se realize em regime democrático, com direito ao contraditório, à informação isenta e ao imperativo da razão argumentativa.
Tudo é feito de modo a restringir essas escolhas nas mãos dos que preconizam para o país um ‘novo normal’: aquele baseado de regressão de direitos e alienação de riquezas.
Conspira-se abertamente para demolir o que o Brasil levou gerações para construir.
Os direitos abrigados na Constituição Cidadã de 1988 e as maiores jazidas de petróleo descobertas no mundo no século XXI, o pré-sal, são o alvo central e simbólico do cerco que se estreita.
O assalto é abafado pelo alarido de uma cruzada ética, liderada por um misto de dissimulação, vigarice e atentados ao Estado de direito. O juiz Sergio Moro usa o grampo que proibiu; o governador Geraldo Alckmin permite ato contra Dilma simultâneo à manifestação pró; o senador Aécio Neves veste a túnica da luta contra a corrupção; o ministro Gilmar Mendes antecipa cotidiamente sua sentença sobre o impeachment…
Nenhuma das questões essenciais que interessam a população brasileira encontra resposta nessa crispação da lógica conservadora.
No fundo, o que ela preconiza para os desequilíbrios nacionais –que não são poucos– é um regime de democracia seletiva e a restauração pura e simples da cartilha neoliberal, responsável pela maior crise do capitalismo mundial desde 1929.
É nesse ambiente de escolhas cruciais que um punhado de intelectuais e artistas brasileiros, a exemplo de Luiz Gonzaga Belluzzo, Jorge Furtado, Maria Victoria Benevides, Fabio Konder Comparato, Andre Singer, Leda Paulani, Rosa Maria Marques, Fernando Morais e mais centenas de outros, decidiram criar o Fórum 21.
Sua meta é romper a interdição ao debate do que é essencial e contribuir para a repactuação democrática do desenvolvimento e da nação.
No site do Fórum (www.forum21.org.br) você poderá ter mais informações de como se inscrever e participar das atividades organizados por esse braço da frente ampla, democrática e progressista que o Brasil necessita para redesenhar um futuro plural, a salvo das ameaças regressivas que pairam nesse momento.
A prefiguração de um país purificado por ‘moros & globos’ está nas ruas caçando ‘hereges’, espancando quem não adere aos seus símbolos e reafirmando mantras inquestionáveis — acima da ‘impureza da política’ e da tolerancia da convivência democracia.
A assustadora ressurgência dos instintos regressivos que acometem uma nação quando entregue ao arbítrio dos salvadores da pátria, da moral e da economia requer uma resposta dos que sabem o que choca esse ninho.
A memória dos anos de chumbo da ditadura militar deveria ser suficiente para evitar a recaída. Mas é preciso reavivá-la cada vez que é acuada pela estridência dos higienistas da história, da sociedade e do desenvolvimento entregue às ‘leis puras do mercado’.
É disso que se trata novamente agora.
Para que possamos ter o direito de debater os conflitos e a diversidade das escolhas e caminhos do desenvolvimento brasileiro é urgente defender a democracia contra o golpe dos que pretendem impor suas certezas esféricas à toda sociedade.
A meta dos intelectuais reunidos no Fórum 21 é clarear os interesses em jogo e defender o direito da população decidir o que é melhor para o seu futuro e o futuro da nação.
Hoje é preciso reafirmar esse direito nas ruas. E faze-lo de forma ao mesmo tempo ampla, firme e pacífica.