Aldeia Nagô
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A dimensão internacional da eleição brasileira por Emir Sader

3 - 5 minutos de leituraModo Leitura

No
calendário eleitoral do continente, a eleição brasileira deste ano
ganha relevância particular, não apenas pelo peso que o país tem do
ponto de vista econômico, mas também pelo dinamismo e pelas funções que a
política exterior brasileira foi tendo.


Depois da confirmação de rumo
das eleições de Evo Morales na Bolívia e de Pepe Mujica no Uruguai, a
brasileira reiteraria a popularidade das orientações dos governos que se
conduzem seus países pelo caminho do posneoliberalismo.

Para se ter uma
idéia da importância internacional dessa eleição, basta olhar para que
mudanças de linha representariam uma – hoje hipotética eleição – do
Serra. Uma matéria do Estadão aborda o que seria a linha internacional
dos tucanos e a primeira observação é de que o assunto "está longe de
ter um grande destaque nas propostas de governo dos dois candidatos da
oposição" (OESP, 9/8/2010, caderno Desafios, página H7).

Alinha as mudanças
apontadas aqui ali pelo discurso do tucano: o primeiro, rever o
Mercosul, liberando o Brasil para ter acordos bilaterais com outros
países (evidentemente, em primeiro lugar, com os EUA). Seria um começo
de "despolitização" (sic) da política exterior brasileira. (Existe
política exterior despolitizada? Parece que despolitizar é seguir nosso
"destino histórico" de ser subordinados aos EUA.)

Cita-se os
conspícuos eventuais papas da política exterior tucana, caso ganhassem,
as eleições: Rubens Barbosa, atual presidente do Conselho Superior de
Comércio da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento
de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp e Sérgio
Amaral, ex-porta voz de FHC, como os anteriores, ex-membros do governo
tucano.

Os tucanos
minimizam a diversificação das exportações brasileiras. Aliás, a China é
a maior ausente de qualquer proposta tucana, como se o comércio com a
China não fosse determinante no mundo atual. Ao invés disso, deveríamos
"intensificar as relações com os EUA".

O Mercosul foi
definido por Serra como "uma farsa", como "uma barreira para que nosso
país possa fazer acordos comerciais". "Giannetti e Barbosa defendem
retroceder (sic) a um estágio anterior, apenas de livre comércio,
liberalizando os países do bloco para fazer acordos bilaterais."

Na relação com a
Argentina, "os tucanos pregam um endurecimento", da mesma forma, seria
"outro exemplo da política de generosidade do governo" (para eles
generosidade não tem o sentido de solidariedade, mas tem sempre uma
conotação negativa, egoísta). Recorda-se as acusações do Serra ao
governo boliviano, que suscitaram o epíteto de "exterminador do futuro",
pelo grau de isolamento e de liquidação das políticas de alianças que a
orientação tucana representaria.

Rubens Barbosa diz
que está na hora de o Brasil reativar o relacionamento com os EUA.
Confirmando seu característico entreguismo e subserviência, ele diz:
"Podemos adotar uma política de confiança".

Bastaria isso para
termos consciência como um governo tucano seria o melhor representante
dos EUA na região, buscando desarticular as alianças e processos de
integração regional, para tentar substituí-los por um eixo com o Chile
de Piñera, o Peru de Alan Garcia, a Colômbia de Santos e o México de
Calderón. Promovendo o isolamento da Venezuela, da Bolívia, do Equador,
do Paraguai, da Argentina, do Uruguai e de El Salvador. Mudaria
radicalmente o panorama regional.

Não por acaso os
principais governantes da região estão de olho nas eleições brasileiras.
Não por acaso governos como os da Argentina, do Uruguai, da Bolívia, do
Equador, do Paraguai, da Venezuela, de El Salvador, não escondem sua
preferência pela vitória de Dilma, que representa a continuidade e o
aprofundamento das políticas que levaram a América Latina a reconquistar
projeção internacional, a conseguir sair rapidamente da crise e afirmar
sua soberania, seu desejo de integração regional e de alianças
prioritárias com os países do Sul do mundo.

Artigo publicado originalmente em

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