A direita joga verde por Valter Pomar
Não sei se a
senadora Marina Silva decidiu se fica ou sai do PT, se disputa ou não a
presidência da República. Mas sua eventual candidatura já está sendo comemorada
pela direita brasileira.
O troféu da
babação foi para Danuza Leão, autora de um artigo intitulado "Quem tem medo da
doutora Dilma" (Folha de S.Paulo, 16 de agosto). Segundo Danuza, "não existe em
Dilma um só traço de meiguice, doçura, ternura (….) Lembro de quando Regina
Duarte foi para a televisão dizer que tinha medo de Lula (….) Não lembro
exatamente de que Regina disse que tinha medo, mas de uma maneira geral era
medo de um possível governo Lula. Demorei um pouco para entender o quanto
Regina tinha razão. Hoje estamos numa situação pior, e da qual vai ser difícil
sair, pois o PT ocupou toda a máquina, como as tropas de um país que invade
outro. Com Dilma seria igual ou pior (…) Minha única esperança, atualmente, é
a entrada de Marina Silva na disputa eleitoral, para bagunçar a candidatura dos
pe tistas (….) Seja bem-vinda, Marina. Tem muito petista arrependido para
votar em você e impedir que (…) Dilma Roussef passe para o segundo turno".
De maneira
menos boçal, variantes deste raciocínio foram matéria de capa da Época ("Marina
embaralha o jogo eleitoral de 2010"), da IstoÉ ("o Brasil não é só PT e PSDB"),
bem como de textos publicados em Veja (que ainda não deu capa) e outras
publicações.
Os que
comemoram, não acreditam e geralmente não desejam que Marina possa ser
presidente; acham apenas que ela pode atrapalhar uma terceira vitória do PT. Ou
seja: sua candidatura é vista como linha auxiliar do PSDB, mais ou menos como o
Partido Verde se comporta em vários estados do Brasil.
Como ficaria
mal falar isto de maneira explícita, a grande imprensa faz três movimentos
diversionistas: a) apresenta Marina como candidata de quem "manteve viva a
utopia"; b) destaca a importância de incluir o meio ambiente no debate
presidencial; c) diz que o Brasil deve escapar da falsa polarização entre PT e
PSDB.
A verdade é
que a direita não se incomoda com a defesa das utopias e do meio ambiente,
desde que essa defesa não se materialize em atos de governo. Por isso, dirão o
que for necessário para impedir uma vitória do PT nas eleições de 2010, pois
sabem muito bem que nesta quadra da história não haverá presidente de esquerda,
nem defesa efetiva do meio ambiente, sem o Partido dos Trabalhadores.
Neste
sentido, a crítica à "falsa polarização PT e PSDB" tem o mesmo objetivo daquele
discurso que fala que não existem mais diferenças ideológicas: quem se beneficia
de ambos é a direita, que opera nos marcos do senso comum e das personalidades,
precisando demarcar diferenças, nem construir organizações coletivas.
Infelizmente,
existem setores do PT que alimentam este discurso. Por exemplo, não por
coincidência, a senadora Marina Silva, que em artigo intitulado "Renda básica
na política" (FSP, 9/2/ 2009) defende que PT e PSDB, que "têm sido as forças
mais estáveis no comando do país", se unam "pelo resgate da política e por meio
de um alinhamento ético". Política de alianças adotada no Acre, segundo consta.
Acontece que
estes dois partidos organizam a disputa política brasileira, exatamente porque
representam dois projetos nacionais opostos e contrapostos: o neoliberal e o
democrático-popular. Não é a disputa entre PT e PSDB que cria esta
contraposição; é esta contraposição na vida real (algo que nossos velhos
chamavam de luta de classes) que se traduz na disputa política entre os dois
partidos.
Que essa
disputa às vezes assuma formas mesquinhas, rebaixadas, pouco claras ou
elegantes, é outro assunto. Mas enquanto aquela contradição de projetos for
dominante na sociedade brasileira, enquanto petistas e tucanos representarem
projetos opostos, não haverá aliança estratégica entre eles.
Neste
sentido, quem tiver a ambição de construir uma terceira via entre PT e PSDB,
viverá o mesmo dilema do PSOL em 2006: no segundo turno, dividir-se entre
Alckmin e Lula. A direita sabe disto e joga verde apenas para colher serra.
Motoserra.