A extrema direita confia muito nas ‘liberdades’ e no Judiciário. Por Moisés Mendes
É mais cínico do que parece o choro de Monark, o cara do podcast Flow, o defensor da liberdade de organização e de expressão para os nazistas. Saiu no Twitter do sujeito esta semana:
“Estou sofrendo perseguição política. Eles me proibiram de criar um novo canal (no Youtube) para poder continuar minha vida, pessoas poderosas querem me destruir. Liberdade de expressão morreu”.
A extrema direita desmoralizou até o que antigamente chamavam de paradoxo. Um cara que exalta o direito de organização de quem ataca as liberdades insiste em defender as liberdades, para que também ele possa continuar defendendo pontos de vista favoráveis aos nazistas. E ganhando dinheiro com isso.
O nazismo que ele quer livre e solto não permitiria que ele atacasse os que tentam contê-lo exatamente por ser defensor do nazismo.
Monark é o imbecil pop, um tipo de gente perigosa criada pelo mundo virtual. É o que hoje chamam de influencer e que um dia chamaram de deformador de opinião.
Boa parte dos brasileiros de todas as classes sociais orienta hoje suas condutas pelas falas desses sujeitos. E a maioria não sabe mesmo o que foi o nazismo.
Essa maioria pega carona no que Monark defende muito mais por ignorância do que por ideologia. A ideologia é algo precário na cabeça dessa gente.
Por isso o Brasil do bolsonarismo é um país cada vez mais esdrúxulo. Defensores da liberdade para ideias nazistas, amigos de Monark, alguns com mandato e imunidade, acreditam tanto na Justiça que até ameaçam processar jornalistas que os criticam por serem defensores de ideias nazistas.
A claque do nazismo defende que nazistas possam se expressar e até se organizar para serem nazistas. Mas jornalistas não podem dizer que assim eles agem como os nazistas.
E também os sonegadores contumazes acreditam tanto no Judiciário que processam jornalistas que noticiam que eles são sonegadores contumazes de impostos, dedicados a todo tipo de falcatrua. E quase sempre impunes.
Os nazistas, os sonegadores, os lavadores de dinheiro, os que têm ou tinham contas secretas no Exterior, todos eles estão muito à vontade no Brasil, porque têm certeza de que o Judiciário poderá protegê-los. A extrema direita nunca agiu com tanta desenvoltura desde a ditadura.
Pilantras ouvidos pela CPI do Genocídio, todos encalacrados em denúncias de crimes graves, saíram da comissão anunciando processos contra os senadores. Porque eles têm certeza de que os denunciados pela CPI não serão indiciados.
Nazistas, fascistas, sonegadores, grileiros, intermediários de vacinas, todos eles recorrem à Justiça porque, claro, confiam na Justiça.
O nazista grandão tem tanta confiança no sistema de Justiça quanto o criminoso das facções da pandemia confia na Procuradoria-Geral da República.
É provável que um nazista declarado ou dissimulado tenha mais êxito ao tentar calar um crítico do nazismo do que um negro preso por erro policial ao tentar escapar das garras de um promotor e de um juiz. O negro só escapa se a família dele sair no Jornal Nacional.
Potencializamos a Síndrome de Tim Maia, em que tudo é subvertido e traficantes continuam se viciando, cafetões têm ciúme, militares traficam cocaína em avião da FAB, pobres são de extrema direita e Bolsonaro é aliado de Moscou.
No Brasil do bolsonarismo, nazistas e fascistas processam democratas, tudo pelo direito de desfrutar da liberdade de serem nazistas e fascistas e do privilégio de serem protegidos por parte do sistema de Justiça.
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
Artigo publicado em A extrema direita confia muito nas ‘liberdades’ e no Judiciário – Moisés Mendes – Brasil 247