A imperatriz do Acre (e eu) por Dimitri Ganzelevitch
A pequena notável veio um dia
visitar minha casa com sua corte – sorry, sua equipe – mirou tudo, de alto a
baixo, por traz de seus óculos de grife, e praticamente nunca me dirigiu a
palavra. Majestade é assim.
E naquela época, só tinha comprado 17 casas no
bairro de Santo Antônio. Imaginem hoje, com 35! Agora a vejo linda, rica e
famosa, na primeira página do jornal e uma fascinante entrevista onde ela
demonstra alto poder de análise e síntese. E ainda por cima, acompanhada da
Narcisa Tamborindeguy, também famosa no Rio por sua inteligência e cultura. E eu,
velho, careca e barrigudo, sempre de cuia na mão, que só consigo ser conhecido
até a esquina da minha rua… Que raiva! Vou já abrindo o jogo. Estou magoado e
decepcionado. Isto é, sem falar da minha incurável inveja.
O destino das 17, 28, 35 e amanhã
50 casas foi durante muito tempo um mistério para os moradores deslumbrados por
cornucópia tão abundante. Quais seriam as intenções da moça de cabelo comprido?
O plobrema é que, após leitura da longa entrevista, a incógnita continua, até
mais obscura.Para usar o palavreado em vigor, diria que
é um projeto shell. Ou
seja: oco. Não é um shopping, mas é um centro comercial. Ah, bom! Ainda bem. O
que não entendi, são os 40 milhões já gastos, dando uma média acima de um mi
para cada imóvel, ainda não restaurado, quando se sabe que a empresa não paga
mais de R$350 mil – e olhe lá – por cada. É mole? Por que ralo sumiu tanta grana? Para a compra do casario é que não foi.
Talvez incluindo festinhas de promoção e viagens a London onde trabalha o arquiteto do
projeto… Que chique, ter um british
architect! Não é o máximo? Talvez não muito prático para os acabamentos,
mas você tem razão, o plobrema não é meu.
Vai ser tão bom ver famílias
finíssimas inteiras passearem pela rua direita, entrando aqui para bebericar,
ali para provar um modelito, ir ao cinema ou comprar entradas para uma peça de
teatro. O plobrema é que lojas fecham. E depois? As ruas ficarão vazias. O chô
acabou. E não haverá vizinhança para puxar cadeira pro passeio. Duvidamos que
quem alugou da LGR alguma house,
seja do tipo de bater papo na rua. In
ze strit. Quanto às casas de frente para o mar, não entendi. O fundo é que
dá para a baía. A frente, sempre para a rua. Allways.
Pergunta boba: e o
estacionamento, vai resolver como?
Falou-se do plano inclinado do Pilar. Mas este vive
fechado "para manutenção". E aí?
Não duvido que Sua Majestade
tenha a cultura como proposta obsessiva de vida. A prova é
sua coleção, já que ela não tem medo de confrontar TatiMoreno com Tunga, que deve se sentir
profundamente lisonjeado. O que ela escondeu, inexplicavelmente, do jornalista
é o interessante projeto anunciado de um museu da música africana e diáspora.
Mas já começou bem, com a apresentação dos modelitos da Madame Betty viúva
Lagardère, fazendo um impressionante tripé com as exposições internacionais de
Yves Saint-Laurent e Ágata Ruiz de la Prada
A moça colocou seu Instituto Iris
na escola estadual Marques de Abrantes, talvez com a colaboração da
multinacional Monsanto – esta mesma, dos transgênicos – mas até a data
não se lembrou de consertar as janelas que estão caindo aos pedaços, nem de
sugerir a diretora para não buzinar quando quer estacionar o carro acima do
passeio sem respeito nem pudor ao desalojar anciões para o meio da rua.
Epa, mulher grossa, esta!
Quanto à criação da Associação
dos Amigos do Santo Antônio alem do Carmo, permito-me lembrar que existe outra
entidade de bairro, a AMABASA, muito mais antiga. Bom seria entender por que
não se filiaram a ela.
Por enquanto os membros da
AlémCarmo estão putos da vida porque não só têm que pagar uma suave mensalidade
de 50 paus mas veio pelo correio um aviso para pagar um doce retroativo de
outros 450 reais!
Mas que não se preocupem, pois como já falava São Francisco,
é dando que se recebe.
Salvador,
18 de outubro de 2009
PS.- Temos que admitir:
este Ronaldo Jacobina é fogo, pois a entrevista na Muito foi uma obra-prima de cerceamento!