A judicialização da política. Por Claudio Guedes
No centro do voto do desembargador João Pedro Gebran Neto está a argumentação sobre a nomeação de Paulo Roberto Costa para a diretoria da Petrobras. O magistrado reproduz um diálogo entre Lula e o então presidente da estatal José Eduardo Dutra.
Segundo o diálogo citado por Gebran, Lula estava sendo pressionado pelos partidos aliados (PP e PMDB) pela nomeação de Paulo Roberto. Os partidos estavam obstruindo projetos importantes do governo no Congresso. Lula teria cedido e autorizado a nomeação do diretor.
Segundo o magistrado, este fato mostra a cumplicidade de Lula com a corrupção, pois Paulo Roberto após nomeado montou esquemas de desvios de recursos da empresa.
Incrível.
Então Lula sabia que o profissional nomeado iria cometer atos de corrupção? Quantos diretores de empresas públicas foram nomeados pelo governo? Centenas, milhares. Como o presidente poderia saber quem ia se envolver com corrupção? Com bola de cristal?
A interpretação de Gebran não poderia ser o oposto?
Não poderia ser que Lula teve que ceder ao PP e PMDB, pois estava sendo chantageado, e que ele, como presidente da República não teria como acompanhar o trabalho de Paulo Roberto Costa, nem de qualquer outro diretor de empresa nomeado com aval do governo, já que as empresas em geral, e a Petrobras, em particular, em tese deveriam ter instrumentos de controle e gestão que impedissem atos de corrupção?
A narrativa de Gebran, comprada pelo TFR-4, é a da criminalização da política, o que não é função da justiça. A narrativa é uma narrativa política parcial, evidentemente manipulada, para criminalizar o réu.
À justiça caberia identificado os crimes cometidos, por quem quer que seja, apresentada a denúncia objetiva, identificada as provas e contra-provas, julgar os réus. Jamais fazer análises e considerações de natureza política que não cabem a tribunais criminais.
Lula está sendo julgado politicamente, a partir de uma narrativa construída previamente. O julgamento é o julgamento do presidente da República.
Um absurdo.
Claudio Guedes é empresário e professor universitário.