Aldeia Nagô
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A Mídia, a Política e a Cultura por Leonardo Brant

3 - 5 minutos de leituraModo Leitura

Tempos efervescentes estes em que a mídia, assim como toda a
indústria cultural dominante, se vê pateticamente fragilizada diante do
poder caótico e incontrolável das novas possibilidades de comunicação
da cultura digital.


Mas a grande mídia está longe de perder sua pompa e
poder. Ela ainda resiste e tenta dialogar com processos mais amplos e
participativos. Há muito mais entre a guerra entre Globo e Record, a
sucessão presidencial e cultura digital, do que pode imaginar a nossa
vã filosofia!
Da pífia sabatina do ministro da Cultura na Folha à guerra declarada
entre Globo e Record, não nos resta espaço para discutir, de maneira
abrangente, contemporânea, desdeologizada ou descontaminada de
interesses financeiros, a crise da mídia cultural no Brasil. Este tema
é fundamental para os gestores de cultura, pois toca diretamente na
constituição do nosso imaginário público e a nossa noção de Estado,
nação, povo e país.

O desprestígio e a falta de assunto dos cadernos de cultura é tão
grande, que as capas tem sido, sistematicamente, ocupadas por anúncios
gigantes da indústria da moda. Os conteúdos não diferem muito disso.
Muitas vezes o assunto mais relevante do caderno restringe-se às
tirinhas do Calvin ou o horóscopo.

Falta uma compreensão do funcionamento dos mecanismos de
financiamento e da lógica da cultura em sua função pública, tanto pela
dimensão econômica quanto pela sociocultural. Alguns veículos tentam,
feito cegos em tiroteiro, compreender e cobrir essa complexidade, mas
não há tempo nem espaço suficiente. Um debate mais profundo faz-se
necessário.

Não há como negar o quanto o ministro Juca Ferreira é astuto nesse
sentido. Provocou uma discussão rasteira, por saber que a mídia jamais
seria capaz de alcançar a sua sutileza e seus desdobramentos
conceituais, filosóficos e econômicos. De quebra projetou-se de maneira
ímpar na grande mídia, superando até mesmo o seu antecessor, que já era
um popstar.

Nos mesmos cadernos vejo com grande insistência o acompanhamento do
Ibope e a comparação pelo troféu da mediocriadade entre A Fazenda e o
BBB. Até o nosso festival de Gramado foi palco de badalação e disputa
entre "astros" da Record e da Globo. O pano de fundo dessa disputa por
nosso imaginário é composto por igrejas (sim, ninguém fala da relação
entre católicos e Globo), poderes instituídos (executivo, congresso,
judiciário, ministério público) e uma vindoura disputa presidencial,
capaz de mexer profundamente com todas as peças desse tabuleiro.

Vale observar de perto o tipo de cobertura que a pré-candidata
Marina Silva terá. A própria fala do ministro já serviu de ataque à
candidatura da ministra, tamanha ameaça ela prenuncia neste cenário de
miséria cultural. Isso já demonstra o grande potencial mitológico da
ex-ministra, papel amplamente ocupado pelo atual presidente, por sua
biografia até então única no cenário político nacional.

Marina foi a única ministra de Lula que
implementou políticas coerentes com o seu passado e o com momento
peculiar e favorável que o Brasil vive hoje. A única que saiu bem,
depois de dialogar ao máximo com todas as instâncias de poder. Note, no
entanto, que a repercussão internacional da saída de Marina do governo,
e agora do PT, foi mais importante que a cobertura interna.

Semana passada estive em Nova Iorque, gravando entrevistas para um
webdocumentário sobre a indústria cinematográfica. Além de ouvir e
debater com estudiosos no assunto, usei meu tempo livre para acompanhar
a mídia norte-americana, dos jornalões aos notíciários locais.

Percebi de perto o quanto a Era da Cultura Digital, que elegeu o
primeiro presidente negro dos Estados Unidos, influencia cada vez as
discussões públicas naquele país. Talvez seja um prenúncio de como
esses novas possibilidades podem se expandir e se consolidar aqui nas
Terra Papagallis.

Às novas possibilidades de participação política, o nosso apoio!

Artigo publicado originalmente em http://www.culturaemercado.com.br

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