A mídia na ditadura por Mauricio Dias
Patrões e empregados são testemunhas importantes de uma história que precisa ser passada a limpo. É necessário ir além do que já se sabe. Isso só ocorrerá com o depoimento daqueles que viveram os episódios ou estiverem próximos deles.
A ditadura “exerceu o terror de Estado e provocou medo na sociedade civil. Não há indícios, porém, de que o medo fosse a razão do consentimento” que a imprensa deu aos generais, como anota a cientista política Anne-Marie Smith, no livro Um Acordo Forçado.
Ela põe o dedo na ferida ainda aberta: “E se outros jornais tivessem protestado quando o general Abreu proibiu qualquer publicidade do governo no Jornal do Brasil em 1978?” E se aproxima da resposta: “Os obstáculos à solidariedade não foram criados, nem reforçados, nem explorados pelo regime. A falta de solidariedade foi uma desvantagem gerada pela própria imprensa”.
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Império da mídia brasileira, o apoio do Sistema Globo à ditadura nunca foi negado, embora hoje seja disfarçado. Uma das razões para esse comportamento passado, que se encaixa na reflexão de Smith, encontra explicação no livro Dossiê Geisel, de Celso Castro e Maria Celina D’Araujo.
No governo Geisel, o ministro das Comunicações, Euclides Quandt de Oliveira, vetou novas concessões ao nascente Sistema Globo por receio de que Roberto Marinho chegasse ao monopólio da opinião pública. Ele então foi ao ministro da Justiça, Armando Falcão, e falou “do constante apoio” que deu ao governo.
“Disse também que o comportamento da Rede Globo deveria fazê-la merecedora de atenção e favores especiais do governo”, registra o livro.
Marinho apelou sem constrangimentos. Ameaçou vender a Rede Globo, caso não tivesse apoio para continuar a crescer. O resto da história todo mundo sabe.
A mídia reage, hoje, ao projeto sobre a -atualização das leis de comunicação com o argumento falso e insensato de que o objetivo é censurar. No entanto, em plena ditadura, adotou a inércia e o silêncio diante dos atos concretos de restrição à liberdade de escrever. Não de escrever sobre tudo, mas somente sobre certos assuntos como tortura e assassinato nos porões da ditadura. Essa é a diferença em relação à genérica denúncia de restrição à festejada liberdade de imprensa.
A censura, nesse contexto, cumpria outro papel. Excluía a responsabilidade direta dos donos da mídia e de muitos editores autoritários coniventes, que sempre se desculparam ao apontar a censura governamental como a razão do silêncio.
A ditadura seria outra – talvez ditabranda – contada a partir do que foi publicado na ocasião.
Para a imprensa conservadora, reacionária nos anos de chumbo, esse tema dói. É um nervo exposto.
Andante mosso
Bom exemplo
Há quase 50 anos, em junho de 1963, o presidente João Goulart indicou ao Senado o nome do advogado Hermes Lima para o Supremo Tribunal Federal. A escolha era inconveniente à imprensa conservadora.
Hermes Lima, fundador do Partido Socialista Brasileiro (PSB), vinha de postos importantes no governo.
Em Travessias – Memórias, Hermes Lima lembra: “A ninguém pedi (…) O presidente também não trocara palavra com nenhum senador”.
É uma boa referência para a presidenta Dilma. Pela vaga no STF, como alguns fazem agora, não se trocava a honra pela mercê dos votos nem o presidente escondia sua preferência política, resguardado o saber jurídico do indicado.
Hermes Lima, em 1969, foi cassado do STF pela ditadura.
Vade-retro
Eleito com mais de 200 mil votos para a Câmara dos Deputados, Marcos Feliciano tem possibilidade de, em 2014, superar a votação que teve. Bom para ele, ruim para o partido.
Baixada a poeira, é bem possível que a bancada de 16 deputados do Partido Social Cristão perca três ou quatro integrantes na sequência.
A Resolução nº 2, de 2011, do diretório nacional, libera o desligamento, em caso de discordância com as diretrizes do partido, sem a perda do mandato. Ou seja, ninguém vai para o fogo do inferno se discordar da direção.
Limites do PT
Integrantes históricos e influentes do PT falam, na intimidade, de certos problemas do partido na disputa pelo governo paulista.
A vitória, em 2014, deixaria nas mãos dos petistas os orçamentos da União, com a reeleição de Dilma, da prefeitura paulistana, com Haddad, e a do estado de São Paulo. Poder demais, dizem, pode assombrar o eleitor.