A motivação do suspeito era a que todos já sabíamos por Paulo Nogueira
Tsarnaev afirmou que os atentados de Boston vieram das guerras do Iraque e do Afeganistão. Nenhuma surpresa na motivação de Dzhokhar Tsarnaev, 19 anos, para o atentado de Boston.
Em condições precárias no hospital, ele disse à polícia o que todos sabiam que iriam ouvir: a razão das bombas foram as guerras que os Estados Unidos movem no Iraque e no Afeganistão.
Os irmãos são apenas mais dois nomes que se somam à lista gigantesca de islâmicos que lamentavelmente aderem ao extremismo por causa da brutal política externa americana.
Ninguém estabeleceu um vínculo ainda, mas é presumível que os dez anos da Guerra do Iraque, tão noticiados há poucos dias, tenham tido um impacto forte nos dois.
Hoje são amplamente conhecidas as mentiras que estiveram por trás da guerra que Bush moveu ao Iraque até transformar o país em escombros.
Para começo de conversa, não havia as armas de destruição em massa que Bush – e seu cúmplice Tony Blair, então premiê britânico – dizia existirem no Iraque.
As imagens que o mundo recentemente viu das consequências da guerra para os iraquianos foram simplesmente chocantes.
Não há palavras fortes o bastante para descrever o que aconteceu particularmente com as crianças do Iraque sob as bombas americanas.
A Guerra do Iraque tem tudo para passar para a história como um daqueles episódios, a exemplo do holocausto judeu, em que a humanidade se pergunta, passado o tempo necessário para a reflexão: como nós deixamos isso acontecer?
Dez anos depois, nem um miserável pedido de desculpas foi oferecido pelos Estados Unidos a um povo destroçado.
Podemos imaginar como tudo isso chegou aos irmãos.
Numa célebre resposta ao rei Jaime I, Guy Fawkes, capturado na clássica Conspiração da Pólvora, no começo dos anos 1600, disse: “Tempos desesperadores reclamam medidas desesperadas”.
O rei queria saber de Fawkes – evocado em “V de Vingança” e adotado pelos hackers do Anonymous – por que ele e outros tinham juntado sob o Parlamento britânico pólvora suficiente para transformá-lo em pó.
A humanidade quer paz, como Lennon, Ghandi e Luther King tão bem disseram.
Os Estados Unidos são o oposto disso.
Lamentavelmente, inocentes pagam o preço – os três espectadores mortos em Boston e mais os 180 feridos.
E também dezenas, centenas de milhares de crianças, velhos, mulheres e civis em países como Iraque, Afeganistão, Iêmen, Paquistão etc.
A paz que a humanidade merece está hoje – não adianta fingir que não – na dependência de uma completa mudança na atitude predadora dos Estados Unidos, um império que conseguiu ser ainda pior, e isso é uma façanha, que a defunta União Soviética.
O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br