A nova encíclica de Bento XVI e o golpe militar em Honduras por Galindo Luma
Há uma história macabra,
registrada pelas vítimas da ditadura militar da Argentina, onde cerca de 30 mil
pessoas foram assassinadas pelos generais,
que a serviço do império americano e
a pretexto da a ameaça comunista, promoveram uma das maiores atrocidades da história recente
no mundo. Os familiares dos desaparecidos foram procurar a autoridade máxima da
igreja católica (a CNBB de lá) para pedir apoio ao fim das torturas e teve a
seguinte resposta do representante de deus no país: – não se arrancam confissões
com chocolate.
O Jornal A Tarde do dia
17/07, sobre o golpe militar em Honduras, estampou a seguinte manchete: "Igreja
apóia atual governo por temer chavismo". No conteúdo da matéria, se destaca o
"temor do modelo de socialismo e as táticas políticas do presidente
venezuelano" Reparem bem, a Venezuela foi um país sempre governado pelas elites
corruptas locais, que se enriqueceram às custas da riqueza do petróleo e da
exploração do povo, o condenando à miséria e à fome.
O país passa agora por
uma nova experiência, em que se inverte a lógica de a riqueza ser apropriada
por um punhado de espertos para servir à maioria da população. Em 2002, já com
o presidente Hugo Chaves no comando, houve um golpe de estado orquestrado pela
mídia e empresários com apoio da igreja. O povo pobre de Caracas desceu dos
morros e obrigou o retorno do presidente seqüestrado.
Nos dias que se seguiram
ao golpe em Honduras, a Igreja pediu ao povo para que não saísse às ruas como
forma de "evitar a violência", como se o golpe
que participaram não fosse um ato violento, covarde. Miguel Zelaya,
legítimo presidente hondurenho, assanhou a ira dos ricos de lá porque
propunha políticas públicas que beneficiavam a maioria da população pobre e
para tanto, retirava alguns privilégios dos ricos e milionários. Repito,
antes de prosseguir, o que já escrevi na coluna Variedade Mundana: todas
as vezes em que ocorre polarização na sociedade (entre ricos e pobres, entre
democratas e tiranos, entre patriotas e entreguistas) os representantes
oficiais de deus ficam ao lado dos inimigos do povo
Esta semana veio a
público mais uma encíclica (A verdadeira Caridade) do papa Bento XVI, que nunca
é demais lembrar, foi militante da juventude nazista. Entre outras coisas reconhece
o lucro como motor da economia e que "um mundo que se abdica da religião está
condenado a girar em falso, de crise em crise, porque não tem base moral" e que
as "precariedades das condições de trabalho para milhões de pessoas são por
falta de deus no dia a dia". Para o teólogo Mário de França Miranda, da
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Josefh Ratzinger deixa claro que não
há solução fora do capitalismo.
Bem, os cardeais do
Vaticano sabem que não há lucro fora do mundo trabalho, e que a geração desses
lucros é apropriada por uma pequena minoria. Sabem também que a precariedade no
trabalho para milhões é decorrente da brutal exploração dos trabalhadores por
essa mesma pequena minoria. E isso não tem nada a ver com "falta de deus no dia
a dia" e sim com a usura dos portadores do lucro sacralizado pelo papa. E
dizer que o mundo está condenado a viver de crise em crise por não ter base
moral é um insulto à inteligência humana. Essas crises, como se sabe, são
decorrentes da ganância dos ambiciosos, destes que agora usurparam o poder em
Honduras, amedrontados com uma sociedade mais humana, mais fraterna. Portanto,
se alguém não tem base moral nessa história
são justamente os prepostos de deus na terra.
(*) Geraldo
Galindo é palpiteiro