Aldeia Nagô
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A “nova” velha Internacional Fascista. Por Chico Teixeira

4 - 5 minutos de leituraModo Leitura

Até o começo dos anos de 1980 existiu uma “Internacional Fascista”, auto denominada de a “Internacional Negra” – vênia, movimento negro, eram eles que assim se denominavam -, em oposição a uma “Internacional Vermelha”, de opção socialista e social-democrata. A “Internacional Fascista” se reunia anualmente em Upsala, na (oportunamente) neutra e rica Suécia. Era formada, na base, pelas “ruínas” do fascismo histórico. Os fascistas italianos do MSI, os franquistas, os neonazistas alemães, holandeses e belgas. De vez em quando, uns “malucos” – pois é, quem levaria a sério isso -, americanos que se diziam supremacistas brancos ou filhos de uma “Aryan Nation”. O francês Alain de Benoît, com suas proposições de uma “Nouvelle Droite” era o principal intelectual da organização e tinha em Julius Evola seu grande ídolo. 

Com os testemunhos do Holocausto ainda vivos, envergonhadamente, se diziam “Nova Direita”, embora os emblemas, medalhas e bandeiras do Terceiro Reich fossem bem visíveis. Com o apogeu do neoliberalismo e o fim da União Soviética, depois de 1989, ficaram, entretanto, sem bandeira e a Internacional “Negra” de Upsala fechou as portas.  Afinal grande parte do programa social e econômico da Nova Direita, como o desmonte do dito “socialismo”. Quer dizer, a extinção do Estado de Bem-Estar Social, seria obra da própria deriva direitista da social-democracia. Assim, os social-democratas e diversos “trabalhistas”  já realizavam o programa “sujo” do fascismo. Menos Estado, Economia darwinista e desmonte dos anteparos sociais correram soltos e lado a lado com a “nova liberdade”. No entanto, o avanço do identitarismo, que substitui boa parte das lutas sociais, também precisava ser detido. A maioria das organizações fascistas trocou de roupa: saía de cena o uniforme preto de Hugo Boss, típico das SS, e subiam ao palco os ternos brilhosos de Armani. Ninguém se diz mais “fascista” – são “apenas” ultras. Ultranacionalistas, ultradireitistas, ou por vezes, “populistas de Direita”. Como as tias velhas, a mídia empresarial tem horror de dizer o nome do demo: fascismo. Em seu lugar instala-se o reino das metáforas e perífrases.

A ideia de uma ressurgência e que estamos em frente de fascistas é negada com um ar de superior sabedoria. A realidade, são simplesmente neofascistas, é  apagada ou negada. Bem, foi assim em 1922 e 1933: “- no poder eles vão se moderar!”. No coração dos Estados Unidos e na Europa se organizam e se propõe, agora, a nova tomada de poder, seja eleitoral, com fraude e/sedução ou simplesmente pela via do golpe de Estado. Mas, será na periferia, onde o capitalismo se faz ainda mais feroz, que os novos experimentos fascistas farão seu laboratório. Chile, Filipinas, Indonésia, Brasil, Argentina. E é na periferia que se articularia uma Nova Internacional Fascista. “Nova” em termos, posto ser o seu programa velho e muito similar à “Carta de Verona”, de 1943, de Mussolini, fonte de inspiração de toda ressurgência fascista. Agora emerge uma nova “carta”, dita de Madri, proposta pelos órfãos de Franco, cujo cadáver-múmia foi expulso do Vale de Los Caídos, pelo PSOE. 

A grande novidade da nova Internacional é ter lido Gramsci, via Benoît, e organizar, desta feita, uma “guerra cultural global” contra as Esquerdas. Sua fundação formal se dá na reunião de Madri, em 2020, organizada pelo Vox. Assinam as “atas” – ah, las actas! – Santiago Abascal, José Maria Kast, Maria Corina Machado, Eduardo Bolsonaro, Javier Milei, Bia Kicis entre outros. Fundada em Madri – “Carta de Madrid” é publicada em todos os jornais da “iberoesfera”, em 2020. Ricos e detentores de meios financeiros organizam reuniões em Washington, Bogotá, Lima, Camboriú/SC e agora Buenos Aires. Criou-se o conceito de “iberoesfera” para o núcleo da guerra cultural contra as Esquerdas e os liberais progressistas e identitários. 

É uma organização sustentada pelo governo Netanyahu, pelos republicanos norte-americanos, diretamente pelo Trump, a Fundação Disenso, do Partido neofranquista Vox, por Eduardo Bolsonaro e Bia Kicis, com o indizível Ernesto Araújo como intelectual “mediador” e pelo próprio Milei. Pois é, se algo pode piorar, com certeza ficará bem pior. A substituição de Alain de Benoît por Ernesto Araújo como intelectual mediador do neofascismo é risível. E trágica. A mídia empresarial continua seu papel de gerar opacidade política e intelectual. A prova maior é o “Contorcionismo” teórico em falar que são partidos e personagens de “ultradireita”, “integristas” ou “conservadores” – o que de fato não são, já que defendem não a manutenção do status quo, o que então os faria “conservadores” da ordem. Na verdade defendem uma “re”-“ação”, um retorno ao passado ainda mais desigual, falocrata, misógino e heteronormativo, num capitalismo selvagem e desregulado. São, pois, reacionários e fascistas, o já conhecido bloco histórico do fascismo, como em 1922 e 1933. 

Ante a organizada guerra cultural Internacional Fascista, as Esquerdas permanecem inertes. Ora abandonam a praça pública por conchavos eleitorais, ora se digladiam entre pautas sociais versus pautas identitárias. Poucos entendem que num mundo global toda exploração é sempre de classe, de gênero, de etnia e etária. Ao som dos tambores de Buenos Aires caminha a Humanidade para cumprir o seu passado. 

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