Aldeia Nagô
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A solução Dilma por Miguel do Rosário

7 - 9 minutos de leituraModo Leitura
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Reproduzo outro artigo do Nassif porque acho que ele reflete, com muita propriedade, o momento atual. E também porque gostaria de acrescentar alguns comentários.

Há uma coisa estranha no ar. O desemprego nunca foi tão baixo. Nunca houve tantas obras estruturantes em andamento: refinarias, hidrelétricas, ferrovias, estradas, mobilidade urbana, aeroportos, portos, etc. A luta contra a inflação continua renhida, mas os gráficos mostram que ela tem se mantido sob controle durante toda a gestão petista.

Os programas sociais nunca foram tão vastos, e com tantos recursos. Educação e saúde, que tem muito a melhorar, sempre, nunca receberam tanto dinheiro. Hoje crianças recebem material escolar, uniforme, merenda, transporte universal. Há programas estruturantes na saúde, como as UPAs, o Mais Médicos, o Brasil Sorridente. Nada disso existia há pouco tempo. Dilma ampliou profundamente os programas sociais criados por Lula. E criou novos.

No entanto, vive-se um clima pesado, negativo, de pessimismo e insatisfação, motivado, por um lado, pela ansiedade natural de uma sociedade que exige mais e mais de governos; mas também por uma verdadeira crise de comunicação, que o governo ainda parece querer domar com marketing institucional.

A ansiedade atinge o governo, mas é um fator social positivo. Afeta todas as formas de poder: governo, mídia, empresas. Os brasileiros estão mais críticos, mais desconfiados, mais exigentes. Esta é a razão da avaliação do governo cair e a oposição continuar estagnada nas pesquisas.

Mas a crise da comunicação, por outro lado, é fruto da despolitização do governo. A estratégia de resolver tudo via marketing não dá mais resultados para uma população que hoje desconfia da mídia e mais ainda da propaganda institucional. Não dá mais resultados hoje mostrar, por exemplo, no caso da Petrobrás, os petroleiros sorridentes embarcando numa plataforma, sob um céu magnificamente azul. Tornou-se irritante ver propagandas institucionais. As pessoas querem ver críticas, querem informação, querem debate. E o atual governo, que tem a faca e o queijo na mão, que ainda é visto, pela grande maioria, como a melhor opção dentre os postulantes ao poder, não está oferecendo isso.

A comunicação se tornou uma questão econômica. Nassif conta uma coisa que já sabíamos, mas que ele testemunhou pessoalmente nos seminários de que participa. Os empresários, que nunca ganharam tanto dinheiro, e nunca tiveram tantas oportunidades, estão pessimistas. Por que? Porque estão confusos diante do silêncio do governo, de um lado, e da balbúrdia midiática, de outro. A mídia está conseguindo produzir uma realidade paralela, uma impressão de caos, que está logrando seu objetivo: fazer o empresariado segurar investimentos, com medo, por incrível que pareça, de algum tipo de “comunismo”.

A armadilha que vai se montando tem uma lógica maquiavélica. Quanto mais o governo silencia, mas a mídia logra passar a impressão de um suposto “intervencionismo” autoritário do Estado, e daí, quando o governo quiser reagir, nem que seja apenas verbalmente, esta reação será mostrada como prova de autoritarismo.

Entretanto, há saídas. O governo tem apoio de milhões de pessoas. A presidente pode reconquistar a sua popularidade em dois tempos. Basta falar olho no olho com a população, sem fórmulas de marketing, sem pose, sem artificialismos. Por que Dilma não tem um programa semanal de TV, onde conversaria com pessoas da sociedade civil para falar de suas realizações, dos desafios, dos problemas, para fazer autocríticas e cobrar do próprio governo? Todos os ministros poderiam fazer isso. Para que serve a EBC? Não é justamente para isso? Dilma conversaria com empresários, sindicalistas, trabalhadores, pessoas do movimento social, diante de todos. As redes sociais precisam ser usadas com muito mais energia pelo governo, para escutar as demandas e as críticas.

Está cada vez mais evidente que a presidenta precisa fugir da lógica opressiva da comunicação institucional, de um lado, e ter um papel protagonista da guerra da comunicação travada entre mídia e governo. Dilma tem o melhor capital possível: mesmo quem a crítica, acredita em sua integridade moral. Nos tempos de hoje, esse é um bem político primordial, sobretudo porque a oposição não tem ninguém com esse capital. Tinha a Marinha, mas que não é candidata.

Ninguém espera que Dilma se torne um Chávez de saias e ataque a “mídia golpista” com invectivas furiosas. Que mal haveria, porém, em vermos a presidenta da república, num programa de debates no qual participariam empresários, trabalhadores, com presença talvez de alguns ministros, realizado pela EBC, rebatendo, elegantemente, o clima de pessimismo vendido diariamente pela mídia? Isto seria algum “atentado contra a democracia”?

Dilma foi sequestrada, sem disso ter consciência, por uma lógica antidemocrática em termos de comunicação. Diante da virulência da mídia, ela não fala nada, e quando o faz é dentro de moldes rígidos, em eventos de inauguração de obras, onde a vemos agradecendo governadores e fazendo aqueles velhos discursos pomposos que os políticos fazem há séculos. Ou então, em programas fúteis na grande mídia, onde assistimos, estarrecidos, a presidenta da república fazendo omeletes com Ana Maria Braga ou fazendo comentários sobre o Zorra Total com Jorge Bastos. Queremos ver a Dilma séria, durona, debatendo com a sociedade, com seus ministros, com a imprensa.

A principal lição é a eleição de 2010. Enquanto ouvia os marketeiros, Dilma começou a perder cada vez mais votos para Serra e Marina (como hoje); a virada só aconteceu quando ela foi ela mesmo e enfrentou seus adversários num debate. Eu lembro de um bar cheio de gente, todos batendo palmas, entusiasticamente, para Dilma Rousseff, num dos últimos debates na TV entre ela e Serra.

O dia em que se libertar de seus marketeiros e começar a fazer política, em público, na televisão, não através de pronunciamentos solenes, mas conversando de maneira informal com a população, ouvindo as pessoas, respondendo aos ataques, Dilma dará um cheque-mate na mídia e na oposição. A sociedade se politizará, o que é ótimo, porque é justamente o que os jovens querem: querem participar mais, querem fazer política. Neste momento, Dilma deixará de ser uma administradora honesta, esforçada e… medíocre, para se tornar uma grande estadista, admirada no Brasil e no mundo.

*

Dilma tem o rumo, mas não tem o método

sex, 25/04/2014 – 06:00 – Atualizado em 25/04/2014 – 06:00

Por Luis Nassif, em seu blog

Ontem participei de um evento de empresa que atua no mercado de alimentos. Sua divisão de alimentos cresceu 10% no ano passado, mais que o mercado. Está bem posicionada nas grandes redes de supermercados, tem liderança nos pequenos estabelecimentos, e começa a crescer nos restaurantes populares. Ou seja, está otimamente posicionada para capturar o enorme crescimento da renda e da inclusão laboral da classe C.

No entanto, havia um clima pesado de pessimismo no ar por parte de seus revendedores. Medo que o Brasil se torne uma Venezuela. Medo que venha um confisco de poupança como Collor. Medo que, se Dilma for reeleita, o país entre na mesma espiral que em 2002. Um medo supersticioso que os dirigentes da empresa diagnosticaram como “midiatite”: doença que provoca mal estar e depressão devido à ingestão excessiva de manchetes econômicas pessimistas.

Trata-se do chamado tiro no pé.

Primeiro, por derrubar o estado de espirito nacional, impactando diretamente as campanhas publicitárias. Depois, por desmoralizar algo que nunca foi tão necessário quanto agora: a crítica consistente.

A crítica a ser feita é contra o estilo centralizador e voluntarista da presidente Dilma Rousseff, com um norte consistente mas um modelo desanimador de implementação de políticas.

Por exemplo, há o diagnóstico claro de que um dos principais problemas das obras públicas é a ausência de uma metodologia de preparação do projeto executivo.

A Empresa de Planejamento e Logística (EPL) foi criada justamente para oferecer essa estrutura. Seu criador, Bernardo Figueiredo prometia que o avião conseguiria velocidade de cruzeiro a partir de 2015. Foi atropelado pela pressa de Dilma em obter resultados.

No PAC, Dilma montou sistemas de avaliação, modelos exemplares de interação com estados e municípios, despertando a esperança de arejar a administração pública. O mesmo ocorreu com o plano de recriação da indústria naval.

O modelo de partilha do pre-sal e o papel conferido à Petrobras, de centro de uma política industrial do petróleo, ainda serão reconhecidos como dois feitos estruturantes do futuro.

Em todos esses casos, a ação tinha foco e estava ao alcance dos olhos de seu principal gestor, a própria Dilma.

Quando tornou-se presidente, Dilma quis preservar a primazia da autoria, mas agora trabalhando em uma realidade extremamente complexa. A ela não basta o fato de que o presidente tem mérito em qualquer realização de seus ministros. Ela quer a participação direta em todos os planos e o mérito de todos os feitos do seu governo.

Não dá.

Atrasou inúmeros projetos por pretender opinar em detalhes. Não deu liberdade a nenhum Ministro para construir sua própria obra e voar. Não deu voz aos fóruns criados para definir políticas de desenvolvimento. Tomou decisões intempestivas em áreas de extrema complexidade – como o modelo elétrico – sem ouvir as partes envolvidas. Tomou decisões de profundo impacto fiscal – como desoneração do IPI para o setor automobilístico – sem encaixá-las em uma política setorial.

Dilma tem o rumo, mais que seus competidores. Mas não tem o método. E não se trata de falta de conhecimento, mas da sua própria incapacidade para domar seu temperamento.

Bastaria sinais firmes de mudança de estilo para recuperar a esperança perdida.

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