A tática dos sem votos. Por Claudio Guedes
Aproxima-se a data de julgamento do ex-presidente Lula pelo TRF-4. Com isto vemos dia sim, outro também, uma enxurrada de artigos, editoriais, entrevistas de tucanos e seus aliados na grande mídia, todos, sem exceção, batendo na mesma tecla: as manifestações de protesto contra a justiça e de apoio a Lula são uma “afronta” aos juízes e ao poder judiciário brasileiro.
Segundo os autores de tal formulação, como vivemos em uma democracia, não faz sentido protestar contra a justiça. Uma afirmação que é estúpida e contraditória mas que, pelo simplismo que possui, acaba por conquistar milhares de apoiadores.
É claro que é exatamente porque o nosso regime é democrático e constitucional – e na Carta Magna está gravado o direito à livre manifestação – que o direito de protestar é garantido. Todos que entendem que o comportamento da justiça, no caso MPF x Lula (Triplex do Guarujá), é reprovável possuem direito de se manifestar.
Numa democracia todos os poderes da República são, em princípio, criticáveis pelos cidadãos. E estes têm o direito de manifestar publicamente o que pensam. Essa é a própria essência do regime democrático.
Um Intelectual, outrora um homem de esquerda, mas que há muito faz da sua pena a defesa enrustida dos tucanos e faz do antipetismo uma razão de ser, sequer se ruboriza ao afirmar: “A ideia [das manifestações] é intimidar os juízes e mostrar o prestígio de Lula para a plateia.”
Ora, ora, quer dizer que um protesto organizado, por forças políticas e movimentos sociais, democrático, contra o que muitos entendem como perseguição à uma liderança política é “intimidação”? Por quê?
Ou seja, no fundo, o que a formulação contém é que é
proibido protestar. É isso, ou não é?
Toda essa bateria, organizada, de editoriais, de artigos, de declarações, não passa de uma missão partidária, algo regido pelo líder intelectual dos tucanos, o ex-presidente FHC, que expõe semana sim, semana não, no Globo, Folha ou Estadão, o mesmo argumento com outras palavras. Para FHC, Lula deve prestar contas à justiça, pouco importando para ele que os processos movidos contra o ex-presidente sejam forçados e farsescos. É como se a justiça fosse, no país, impoluta e republicana. Infelizmente essa não é a nossa realidade.
O que pretendem os que buscam criminalizar protestos e manifestações? Apenas intimidar – eles sim, trabalham com a tática da intimidação – os milhares de brasileiros que, independentemente de apoiarem ou não Lula e o PT, reconhecem que a perseguição a ambos, por parte do poder judiciário, possui objetivo político. E não aceitam tal comportamento.
Qualificar como radicalismo as manifestações em defesa do ex-presidente visa tão somente construir o pano de fundo para justificar a judicialização da política no país, que possui intento definido: alijar do processo eleitoral de 2018 a maior liderança popular petista.
A tática da direita é, neste sentido, de uma transparência cristalina. Impedir Lula de participar do pleito de forma a facilitar a transferência do poder federal a tucanos e liberais, estes que, julgam eles próprios, possuem um projeto para o país mas – oh, céus, oh, mar! – não dispõem de votos para conquistar o poder nos marcos da democracia, na disputa franca nas urnas, tendo como protagonista central o povo brasileiro.
Sim, o povo, essa abstração sociológica para tucanos e liberais brasileiros mas que, a despeito deles, a Constituição Federal insiste em colocar como a fonte de todo poder da República.
Claudio Guedes é empresário e professor