A UNE no rumo certo por Tiago Ventura e Joanna Paroli*
A imprensa brasileira
não quis informar à sociedade que o apoio da Petrobras se deu também no
50º Congresso da UNE, realizado em 2007. Neste encontro, a entidade
levou, em parceria com a Coordenação dos Movimentos Sociais, mais de 8
mil estudantes às ruas exigindo o "Fora Meirelles", demarcando a sua
posição de discordância com a política econômica do Governo Federal e a
sua autonomia política
Nos
dias 15 a 19 de julho, jovens de todos os estados do País se reuniram
para realizar o 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes.
Contando com a participação de mais de 10 mil estudantes, com delegados
eleitos em 92 por cento das universidades brasileiras, o encontro
entrou para história como o mais representativo da entidade, reforçando
a história de lutas e legitimidade da UNE no seio dos estudantes e do
movimento social brasileiro.
O 51º Congresso da UNE teve como
marco comemorativo os 30 anos do Congresso da UNE de Salvador,
realizado em meio à ditadura militar na perspectiva de refundar a
entidade, até então fechada e perseguida pelo governo militar,
colocando-a ativamente na luta pela redemocratização do País. Dessa
forma, um dos pontos altos do 51º CONUNE se deu em torno do direito à
memória dos estudantes perseguidos e mortos durante a ditadura, como o
presidente da UNE “desaparecido” Honestino Guimarães, e dos militantes
envolvidos nos processos de contestação dos anos de chumbo, como a
guerrilha do Araguaia.
Outros momentos importantes fizeram parte
desse Congresso. A realização do ato público em defesa da Petrobras,
que se desdobrava na campanha contrária à CPI instaurada pela direita
privatista contra a empresa, pelo fim dos leilões de petróleo e pela
criação de uma empresa estatal para exploração da camada pré-sal. O ato
reforçava a luta histórica da UNE por uma nova concepção de Estado, na
qual bens estratégicos como o petróleo devem ser encarados e explorados
a partir do seu caráter público, tendo como finalidade o combate às
desigualdades sociais, em contrapartida ao desejo da direita, que
gostaria de ver a Petrobras privatizada nas mãos do capital financeiro
mundial. A UNE continua na vanguarda dos movimentos sociais quando
colocou, na última gestão, a Campanha pela Legalização do Aborto como
pauta prioritária e a construiu nas universidades de todo o país. Nesse
Congresso, dezenas de estudantes uniram-se ao Ato contra a CPI do
Aborto, instaurada na Câmara Federal, reafirmando o compromisso da UNE
com a luta feminista e por uma educação libertária e livre de todas as
opressões.
Por fim, o 51º CONUNE reafirmou, ao longo de todas as
suas atividades, principalmente nas resoluções aprovadas na plenária
final, a opção acertada de diálogo com a sociedade brasileira que a UNE
trilhou no último período, reconhecendo os avanços e as contradições do
Governo Lula, e dos governos populares da América Latina, entendendo
que somente por meio da mobilização e pressão dos movimentos sociais é
possível aprofundar as mudanças e construir alternativas ao mercado e
ao sistema capitalista consolidado na sociedade mundial.
Foi
precisamente no sentido de reforçar o diálogo e a necessária disputa de
rumos que ocorreu a participação do Presidente Lula, a primeira
participação de um presidente da República em um congresso estudantil
na história do país. A atividade foi marcada pelo tom crítico dado pela
intervenção da ex-presidente da entidade Lúcia Stumpf, exigindo
assistência estudantil aos estudantes do Prouni, a ampliação e
aplicação do programa somente em universidades que possuam pesquisa e
extensão e a auditoria das contas das universidades que recebem a
isenção, reforçando a inclusão de parcelas expressivas da população no
ensino superior e construindo marcos regulatórios importantes do ensino
privado.
Como era de se esperar, no decorrer do Congresso, e,
principalmente, ao seu final, a grande mídia conservadora e monopolista
– com destaque negativo para a Folha de São Paulo e as Organizações
Globo – produziu uma série de matérias questionando as atividades
construídas ao longo do evento, acusando a entidade de estar atrelada
ao Governo Federal por receber apoio para realização do Congresso da
Petrobras e de ter “abandonado a educação e as bandeiras históricas”,
ignorando as resoluções aprovadas após cinco dias de debates. Os
ataques chegaram ao cúmulo de tentar desmoralizar individualmente o
estudante Augusto Chagas, recém-eleito presidente da UNE.
Trata-se
de uma nítida tentativa de criminalizar e desqualificar a atuação de
uma entidade que possui 72 anos de história em defesa do povo e da
juventude brasileira, exemplificada na campanha do "Petróleo é nosso",
na luta pelas reformas de base e contra a ditadura militar, nas lutas
pelas "Diretas Já" e pelo "Fora Collor" e na resistência à privatização
da Universidade Pública, organizada pelo Governo FHC na década de 90.
Enquadra-se no contexto de perseguição organizada pelos setores
conservadores, com braços infiltrados desde o Poder Judiciário até o
Senado Federal, aos movimentos sociais combativos da sociedade
brasileira, como os lançados recentemente contra o MST e o MAB,
enxergando-os como organizações terroristas, organizadas pelo Governo a
partir da liberação de verbas públicas. O enredo é sempre o mesmo, pois
ao lado dos movimentos sociais se encontra a UNE, e do outro lado se
encontra a aliança Demo-Tucana, que tem a imprensa monopolista como
grande porta-voz.
A imprensa brasileira não quis informar à
sociedade que o apoio da Petrobras se deu também no 50º Congresso da
UNE, realizado em 2007. Neste encontro, a entidade levou, em parceria
com a Coordenação dos Movimentos Sociais, mais de 8 mil estudantes às
ruas exigindo o "Fora Meirelles", demarcando a sua posição de
discordância com a política econômica do Governo Federal e a sua
autonomia política, que é constantemente reafirmada na política de
boicote ao ENADE, nas críticas à política de comunicação e nas
exigências de se avançar cada vez mais nos investimentos e
democratização da Universidade brasileira, derrubando, por exemplo, os
vetos dados pelo Governo FHC ao Plano Nacional de Educação e a
manutenção da Desvinculação da Receita da União na área da educação.
As
críticas e a perseguição por parte da imprensa são resultados sobretudo
da política acertada da entidade e das resoluções aprovadas no
Congresso. Ocorrem porque a imprensa das elites brasileiras é contra a
inclusão do setor privado no Sistema Nacional de Educação e a ampliação
de vagas nas Universidades Públicas, em especial para os negros e
negras filhos da classe trabalhadora; é contra a luta pela autonomia
das mulheres e obtêm lucro com a mercantilização de seus corpos e suas
vidas; é contra a realização da Conferência Nacional de Comunicação e a
construção de um sistema público de comunicação; é contra a abertura
dos arquivos da ditadura militar, porque se encontra envolvida com os
porões da chamada "ditabranda", conforme editorial da Folha de São
Paulo; e, acima de tudo, ataca a Petrobras e a UNE por ser contrária à
criação de uma Estatal para a exploração da camada pré-sal com seus
lucros voltados prioritariamente para educação, saúde e desenvolvimento
social.
À imprensa conservadora resta a UNE responder: se assim
não fosse, estaríamos preocupados, se estivessem contentes, estaríamos
no caminho errado. Vida longa aos 72 anos de luta e combatividade da
União Nacional dos Estudantes.
*Tiago Ventura é Vice-Presidente da UNE e Joanna Paroli é Diretora da UNE, ambos eleitos no 51º CONUNE
Artigo publicado originalmente em http://www.cartamaior.com.br