Acho que tenho vocação pra desenhista. Por José Mamede
Acho que tenho vocação pra desenhista… Segue, com alguma edição, resposta ao comentário de Ricardo B. Tibau em uma postagem que fiz antes do perverso 2017 ir embora, sem deixar saudades.
Acho louvável qualquer interesse pela política. É assim que os indivíduos de um país começam a chamar para si a responsabilidade pela sua soberania. Contra ela existem interesses muito bem articulados do capital globalizado. Agora veja. É importante separar o pensamento político, e suas ideologias, das ações políticas, e suas estratégias. No seu comentário, que está na esfera do pensamento, aparecem muitas ideias difíceis de se sustentar.
Não existe a rigor, a figura de um eleitor que acredite em um “mundo maravilhoso do PT e do Lula”. Em um país tão desigual quanto o Brasil não existe mundo maravilhoso para quem vive com menos de 5 salários mínimos por mês. A concentração de renda nas mãos dos mais ricos é maior que em qualquer outro lugar do mundo. E o fosso que separa esses dos mais pobres só se compara ao de países da África. São mais de 500 anos de exploração dos mais pobres. A América Latina ainda está longe de se livrar da exploração do capital estrangeiro.
Os minguados 8 anos de Lula foram só um sopro de esperança na vontade de começar a mudar essa realidade. Durante os três governos completos do PT a desigualdade e a pobreza caíram muito mais do que nos governos anteriores. É simbólico que em 2003 Lula tenha escolhido a cidade de Redenção para lançar a maior ação política contra o trabalho escravo no Brasil.
Foram mais de 32 mil trabalhadores resgatados a partir do endurecimento das leis e da fiscalização (o governo PMDB/PSDB/DEM acabou de reverter esse avanço em lei sancionada agora na virada do ano). Nas áreas que atuo, educação e cultura, nunca vi, em mais de 20 anos de trabalho, qualquer gestão pública que ampliasse e normatizasse esses setores como aquelas do PT.
Não vou nem entrar no que foi feito na saúde, na economia e na habitação para não me estender demais. Como disse antes, foram avanços que nos deram esperança. E quem votou em Lula e em Dilma, mesmo não acompanhando de perto as ações políticas, sentiu isso. O problema foi que o outro lado, aqueles que queriam um país governado por Aécio, também sentiu e não gostou nada do que viu.
Não gostou de ver as universidades, os shoppings e os aeroportos mais coloridos, com gente de todas as cores. O resultado foi a Av. Paulista e o Porto da Barra, para ficar em apenas dois exemplos significativos, cheios de gente que nunca se interessou por política partidária protestando contra as conquistas da classe trabalhadora.
Chamaram esse movimento de luta contra a corrupção, mas hoje a gente sabe que não era nada disso, não é? Enfim, pra concluir, todos têm o direito de se manifestar e escolher seus candidatos. Mas chega uma hora que é preciso sair das ideias e ir para as estratégias. Tomar partido. Em quem vc vai votar? Com quem vai fazer alianças? O que vc espera conseguir com elas? Fazer como o PSOL, que defende uma esquerda “pura”, sem coalizões com partidos do centro, é uma opção legítima.
Mas é preciso assumir e verbalizar as consequências desse isolamento diante de um pensamento liberal que, como estamos vendo, só está interessado em ampliar o lucro. Aliás, quem defende a venda de estatais, o sucateamento da saúde e da educação, a retirada de direitos trabalhistas etc, tem mais é que votar em Aécio, Huck, Alckmin, Dória, ACM Neto e demais candidatos que representam a concentração de renda e o consumismo exagerado. Outra opção é ficar falando mal de tudo e não apresentar opções estratégicas viáveis.
Ainda mais se vc for um privilegiado, porque assim as coisas continuam do jeito que estão por mais 500 anos. Independente de qual seja o seu perfil, tenha um ótimo 2018
José Mamede é Jornalista e Professor