Ai, minha coluna cervical!!! Por Franciel Cruz
Basta Antonio Risério se envolver em alguma polêmica que eu já fico logo preocupado com minha frágil saúde.
Como assim? Assim, ó.
O cidadão comete tantos malabarismos retóricos que sou obrigado a me contorcer todo pra tentar compreender seus, vá lá, argumentos. E dói.
Eis, abaixo, uns rabiscos que escrevi há pouco mais de uma década sobre o indigitado e seu modo de agir/pensar/citar. Recebam.
RISÉRIO, TENHA DÓ DE MINHA COLUNA CERVICAL
Sei que este espaço não deveria ser destinado às confissões, mas hoje, em edição extraordinária, abro uma exceção. E conto um pouco sobre minha vida.
Seguinte.
Em meados da década de 90, sofri um grave acidente que quase me deixou paraplégico. O plantão foi rigoroso, sopa de tamanco. Porém, ao contrário de muitas pessoas que nestas ocasiões procuram culpados, confesso: tudo aconteceu por causa de minha incurável teimosia.
Seguinte foi este.
Alguns amigos já haviam me alertado de que era preciso ter muito cuidado ao me aventurar nas, digamos assim, obras de Antonio Risério. Mas, teimoso, não dei ouvidos à bondade alheia – e resolvi atravessar um livro do referido (Textos e Tribos) sem tomar as devidas precauções. Não deu outra. Sai tropeçando nas infindáveis citações. Em uma página eu me livrava de Malinowski, Otto Jespersen, Edward Sapir, Abraham Moles e, já na seguinte, tinha que driblar Lévy-Bruhl, Saussure, Ernest Haeckel, Lévi-Strauss, Kristeva, Hölderin, Wilhelm Schlegel, Durkheim, Maurice Leroy, Derrida, Sílvio Romero… Pronto, quando ele meteu Sílvio Romero neste bolo acabei entortando minha coluna cervical.
Agora, passados 15 anos, e depois de ter escapado de algumas balas e de muitos vícios, quase morro de susto.
Seguinte de novo.
A Bahia e uma banda de Sergipe são testemunhas de que tentei manter uma distância razoável do escritor, filósofo, compositor, poeta, antropólogo e veranista de São Tomé de Paripe. Mas, não sei se para penitenciar-me por alguns parcos pecados, decidi novamente encarar outro texto do referido publicado no Terra Magazine. Às aspas.
“Aquário é ou deveria ser, pura e simplesmente, reservatório de água. E piscina vem de “piscis” – peixe, em latim. Piscina é viveiro de peixes. Ou seja: o que chamamos de aquário seria, na verdade, uma piscina – e o que chamamos de piscina é certamente um aquário. Como se explica isso? A poesia talvez ajude. Em sua composição “Baby”, obra-prima da poemúsica brasileira, Caetano canta: “você precisa saber da piscina, de Amaralina, da gasolina…”. Concluo então, facilmente, que, entre a piscina e a praia de Amaralina, o poeta desejou que a gata em questão se resolvesse a ser uma sereia. Para se deixar levar pelo seu canto. O que quer a gasolina no cenário? Sei lá. Talvez ela esteja ali porque, na época, o poeta morava em São Paulo. Paulista é quem sabe desse negócio de carro, gasolina e trânsito”.
Aspas fechadas eu, abismado, pergunto em caixa alta: AMARALINA, Risério? Que porra a querida, amada, idolatrada, salve, salve Amaralina tá fazendo aí? Esta era também a indagação que todos fizeram aqui no Bar de Caveira, no Alto da Alegria, onde o morro no pacato Nordeste roça com Amaralina.
Afinal, todos os bebuns aqui sabem que na referida canção, a Vedete de Santo Amaro botou margarina e Carolina e outras inas, mas, Amaralina, não.
Pois bem.
Depois de muitos debates, concluímos que o rapaz, que traz a contradição no próprio sobrenome (Ri Sério), continua um expert em citações, distribuindo-as à mancheia. Não importa se, para isso, tenha que trocar Margarina e Carolina por Amaralina.
E, na hora em que já íamos pedir a saideira e a conta, um amigo especialista na análise semiótica da poemúsica antropoética decifrou o enigma.
“França, Risério confundiu Baby com Tropicália: “No pátio interno há uma piscina com água azul de Amaralina…”.
Ô, DESGRÓRIA!
Porém, noves foras as confusões, o engraçado é que ele cita errado e logo depois larga a seguinte: “Concluo, facilmente…”.
Sem dúvida. As conclusões do estudioso, não raras vezes, são muito fáceis.
Franciel Cruz é Jornalista