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Alternativa verde? por José Dirceu

4 - 5 minutos de leituraModo Leitura

A história de Marina é um patrimônio do país e de nosso partido. A vida política, porém, é plena de armadilhas






O VEREADOR
carioca Alfredo Sirkis, dirigente do Partido Verde, começou o artigo nesta
página do dia 9 de agosto ("A hipótese Marina") afirmando a
legitimidade da causa ambientalista e da eventual candidatura presidencial pelo
PV da senadora Marina Silva, que anunciou seu desligamento do PT na semana
passada. São colocações com as quais estamos de pleno acordo. Mas, como tudo na
política, devemos sempre averiguar os interesses que animam seus agentes.
Não paira nenhuma dúvida sobre o caráter, a biografia e os compromissos da
senadora Marina Silva, companheira de tantas lutas e trincheiras.
Senadora acriana, eleita pelo PT, construtora de nosso programa ambiental e
ministra do governo Lula durante cinco anos.
A história de Marina é um patrimônio do país e de nosso partido. Ao lado de
bravos companheiros como Chico Mendes, Jorge e Tião Viana, entre tantos outros,
dedicou o melhor de sua vida para defender os povos da floresta e a causa
ambientalista.
Cabocla, seringueira, Marina é o sal da terra. Seu papel nas batalhas pela
emancipação de nossa gente lhe garante o direito de disputar qualquer função
pública em nosso país.
A vida política, porém, é plena de armadilhas. Até os mais nobres e valorosos
militantes podem ser arrastados a situações com as quais, no futuro, não
concordem ideologicamente.
Os feitos recentes do PV no Rio, liderado por Sirkis, por exemplo, são bastante
reveladores: o partido integrou todas as gestões do prefeito César Maia e
contou com o apoio do DEM a Fernando Gabeira no segundo turno da eleição de
2008.
Essa conduta é partilhada pelo PV paulista, que faz parte da base de
sustentação dos governos Serra e Kassab. Enfim, os setores do Partido Verde
liderados por Sirkis e Gabeira não são uma voz progressista em busca de uma
alternativa para aprofundar o processo de mudanças iniciado no Brasil em 2002,
mas representantes minoritários do bloco conservador que dá tratos à bola para
achar saída diante da desidratação político-ideológica da coalizão demo-tucana,
à qual pertence com galhardia.
Analisemos os argumentos acerca da possível candidatura presidencial de Marina
Silva. Sirkis apresenta essa hipótese como uma alternativa à "compulsória
aliança das duas vertentes da social-democracia com as oligarquias políticas na
busca da governabilidade", referindo-se a uma suposta e nefasta
consequência da disputa entre PT e PSDB.
E vai além, ressaltando que "Marina é bem talhada para promover uma nova
governabilidade (…) que, enfim, supere essa polarização bizarra".
O vereador carioca redesenha a realidade, possivelmente para pavimentar a
terceira via que propõe. O PSDB fez uma opção, há quase 15 anos, por ser o partido
das elites financeiras, quando a transição conservadora entrou em colapso após
o impeachment de Collor.
A velha direita, desgastada pela longa ditadura militar, não era mais capaz de
protagonizar a engenharia do Estado neoliberal.
Esse foi o vácuo preenchido pelos tucanos, que se aliaram às velhas oligarquias
do PFL-DEM para levar a cabo um programa de privatizações e desregulamentações
que desmontou a economia do país e colocou em xeque a soberania nacional. Esse
foi o papel exercido por FHC, cujo custo social o levou à derrocada em 2002.
O PT foi a vanguarda da mobilização contra esse programa. Quando o presidente
Lula assumiu, mesmo em condições políticas precárias, pois minoritário no
Congresso e às voltas com uma herança maldita, travou o programa
tucano-liberal, interrompeu as privatizações e deu início à reconstrução do
Estado como condutor de uma economia baseada na produção, no mercado interno e
na distribuição de renda.
São, portanto, dois projetos antagônicos, inconciliáveis, cuja contraposição só
pode ser considerada "bizarra" se forem outros os interesses que não
o retrato da realidade. Muitos arautos conservadores se deram conta de que, no
caso de não ser superada ou esmaecida a polarização entre os dois projetos,
tudo indica que o condomínio PSDB-PFL terá ralas chances em 2010, naufragando
outra vez com seu velho programa privatista.
Uma das possibilidades para tentar essa superação passou a ser a construção de
uma alternativa que apresente novo discurso e nova imagem que tentem sangrar o
bloco popular liderado pelo presidente Lula e pelo PT.
Esse é o esforço ao qual aparentemente se filiam setores do PV, em manobra que
busca atrair os anseios legítimos e as contrariedades respeitáveis da
companheira Marina Silva com a execução da agenda ambiental, que ela tanto
ajudou a construir.



JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA, 63, é advogado. Foi
ministro-chefe da Casa Civil (governo Lula) e presidente do PT.
Artigo publicado originalmente em www.folhadesaopaulo.com.br

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