Aldeia Nagô
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Banda Larga no Brasil. Uma piada de mau gosto por Jomar Silva

7 - 10 minutos de leituraModo Leitura


algumas semanas, tive acesso a um relatório sobre a situação atual dos acessos
de banda larga no mundo todo, e não me surpreendi em ver o Brasil classificado
como um dos acessos mais caros e de pior qualidade.





O que chamamos de banda larga no Brasil, na verdade é uma grande piada, contada
pelas falaciosas empresas de telecomunicações, que são reguladas por uma
entidade que simplesmente não cumpre com suas obrigações e ninguém faz nada
sobre isso. Quer ver como eles mentem e te enganam descaradamente?

Vocês sabiam que a velocidade da banda larga que contrataram é apenas
"ilustrativa", e que o valor real garantido em contrato é, em
média, 10% disso? Sabia que esta velocidade "ilustrativa" não é
bidirecional?

Trocando por miúdos, quando você fica todo feliz em ter 2MB de banda larga, na
verdade seu contrato diz que você tem direito a 200kbps de banda, extensível
(quando possível) a 2Mbps. Claro que esta "tremenda velocidade" é
apenas no sentido chamado de downstream (da Internet para seu computador), pois
no sentido contrário (upstream ou do seu computador para a Internet), a
velocidade raramente passa dos 256 kbps (sendo 128kpbs o valor comumente
utilizado). Esta última explicação pode agora te ajudar a entender o motivo
pelo qual você consegue baixar muito rápido um e-mail com um anexo grande, mas
demora muito para, por exemplo, re-enviar este e-mail para outras pessoas.

O que me deixa mais indignado ainda com as operadoras, é a constância com que
cometem "erros de configuração" nas conexões dos usuários (já vi este
"problema acidental" em inúmeras conexões ADSL, Cabo e 3G). Este
"problema acidental" ocorre com frequência pois a maioria dos
usuários não sabe como verificar a largura de banda que lhe está
verdadeiramente sendo entregue. Por isso, gosto sempre de ensinar a todos como
faze-lo:  www.speedtest.net (basta
acessar o site e seguir as instruções que ele vai te fornecer… em poucos
segundos você vai descobrir quão honesta é sua operadora, ops… ato falho…
quer dizer, quão bem configurada está sua conexão).

O caso mais grave que já vi foi de um parente que havia comprado um computador
novo dual core, com 4Gb de RAM (um baita maquinão mesmo) e vivia se queixando
que seu computador estava "lento na internet". Detalhe adicional: ele
era assinante de banda larga ADSL de uma certa operadora espanhola em São Paulo
(que prefiro não citar o nome para não infectar e poluir este blog) e é um mero
usuário (não tem conhecimento técnico algum, com a imensa maioria dos usuários
de Banda Larga no Brasil).

Depois de tanta reclamação (mais de um mês), resolvi dar uma passada na casa
dele para ver o que estava acontecendo. Quando usei o SpeedTest lá, descobri
que os 2Mbps que ele estava pagando eram na verdade 128kps. Ele ligou para o
suporte técnico da tal operadora e o atendente insistia com ele que estava tudo
certo e que o computador dele estava com o problema (a mesma ladainha que ele
já havia ouvido algumas dezenas de vezes). Fui obrigado a pegar o telefone e
conversar com o tal "técnico". Quando avisei a ele que eu sabia o que
estava fazendo e falando (já trabalhei em centros de Pesquisa e Desenvolvimento
de telecomunicações, banda larga e multimídia), e que a tal empresa
espanhola estava cometendo uma fraude gravíssima, a voz do atendente
tremulou… ele então se desculpou e passou a seu supervisor, que gentilmente
se desculpou pois havia detectado um "erro de configuração" no modem
ADSL e me pediu "por gentileza" para resetar o modem… Reset feito e
modem navegando a 2M
 bps… Já vi "erros de configuração" idênticos a esse em
operadoras de cabo e 3G, mas confesso que a tal operadora espanhola é
recordista nestes erros (testem suas conexões e veremos os resultados).

Falando em 3G, mais uma vez, uma falácia gigantesca. Já vi até operadora
vendendo largura de banda que nem em laboratório se conseguiu colocar para
funcionar direito ainda (tudo bem.. eles devem pensar que os usuários
brasileiros são mesmo um bando de ignorantes fáceis de enganar, não é mesmo?).

Um exemplo interessante das maravilhas do mundo 3G é a minha magnífica conexão
3G do BlackBerry Bold da Claro (já fiz um review bem legal do BB Bold aqui no
blog, e confesso que não vivo mais sem meu BlackBerry). Quando comprei, assinei
o serviço de dados todo empolgado, pois teria uma conexão 3G (que no Brasil
virou erroneamente sinônimo de Banda Larga Móvel), e não atentei ao detalhe que
3G é a tecnologia de transmissão, e isso em nada se relaciona com a banda. Meu
BlackBerry Bold 3G da Claro não passa dos humilhantes 128kpbs, e nem adianta
ligar lá para reclamar, pois nos contratos que assinei (como todo bom
brasileiro, sem ler com a devida atenção), não existe nada sobre a largura de
banda… sou um trouxa mesmo, não é? (no momento em que escrevo fiz um teste e minha
super conexão 3G atingiu um pico de 31 Kbps… me deu saudades do meu modem U.
S. Robotics Courier 33.600).

Em uma coisa, todas as operadoras se nivelam: atendimento ridículo quando
ocorrem problemas.

Estou a 3 dias sem a minha conexão de banda larga (via cabo), e já fiquei
plantado feito um imbecil por uma manhã inteira aguardando o
"técnico" que nunca chegou… quem sabe amanhã.

Interessante é notar que ontem, o segundo dia do meu "apagão", acabei
dando uma passada no consultório da minha irmã e ela estava aflita pois sua
conexão 3G da Claro não funcionava. Ligamos para o suporte técnico e após
alguns minutos de conversa (e eu explicar para o "especialista"
deles) que na área onde ela estava o 3G estava fora do ar, pois meu BlackBerry
também da Claro só se conectava via EDGE por lá, ele insistia que "a rede
não possui problema algum"… antes que me esqueça, as luzes do modem 3G
indicavam isso mesmo: sinal fraco e intermitente.

A ligação terminou quando ele me pediu para fazer qualquer coisa no "menu
iniciar" do computador, e eu avisei que o computador da minha irmã roda
Linux (sim, uma Nutricionista que usa Linux… e diga-se de passagem o adora,
após ter perdido algumas semanas de trabalho com um tal Vista que simplesmente
não funcionava). Voltando ao assunto, já viram a reação de um vampiro quando vê
a cruz? A do "especialista" da Claro foi idêntica: "sr, nossos
modems não funcionam em Linux e não damos suporte". Quando fui explicar a
ele que o "modem deles" estava funcionando em Linux há singelos 12
meses, recebi como resposta "estou encerrando a ligação, pois o Sr não usa
um sistema suportado"... resultado: SE VOCÊ USA LINUX, NÃO CONTRATE
3G COM A CLARO !!! (minha irmã está indo hoje contratar uma nova conexão com
outra operadora).

Contei esta história, pois passei pelo consultório dela para bater um papo e
ver se ela estava mesmo contente com o 3G, pois depois de dois dias (agora
três) sem minha Banda Lerda via cabo, eu estava pensando mesmo em cancela-la e
contratar um 3G… acho que ainda não dá para fazer isso.

Me sobrou o bom e velho ADSL… quer dizer, tinha sobrado, pois alguns minutos
depois do bate boca com o "especialista" da Claro, recebi um
telefonema do meu pai, nervoso pois precisava enviar um e-mail com urgência e
sua conexão ADSL (da tal operadora espanhola) não estava funcionando (me doeu,
mas tive que orienta-lo a ligar para o suporte técnico da operadora, apesar de
saber que ele sofre de pressão alta 🙂 )… alguns minutos depois li num portal
da Internet que a tal operadora estava sofrendo mais um apagão (o segundo do
mês), desta vez nos ADSL de algumas regiões de São Paulo (e claro, eles negavam
o apagão e assumiam alguns "problemas isolados" (se esse pessoal
fosse da OMS a gripe do porco seria classificada como "alguns meros resfriados
localizados").

Sendo assim, num mesmo dia, todas as possibilidades de conexão "banda
larga" que conheço estavam fora do ar, e todos os usuários tendo que
aguentar os "especialistas e técnicos" das operadoras (aliás, se você
que está lendo ainda não é formado e queria se especializar com rapidez, não
vai para a escola não bobo: Arrume um emprego em um call center… você vira
"especialista" e "técnico" em algumas horas… é sério).

 Jomar Silva é engenheiro eletrônico, pós graduado em
gestão de projetos e desenvolvimento de sistemas e Diretor Geral da ODF
Alliance Chapter Brasil. Atua no mercado de TI desde 1996, com ênfase no
desenvolvimento de software em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento para
empresas do setor de Telecomunicações e Tecnologia da Informação. Atua
ainda como "advisor" em padrões abertos junto a indústria de
software. É coordenador do Grupo e Trabalho na ABNT que tratou da adoção do ODF
como norma brasileira e membro do OASIS ODF TC (comitê internacional que desenvolve
o padrão ODF).

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