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Bisnetos, netos e filhos de golpistas. Por Mário Augusto Jakobskind

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O Brasil atravessa um momento de muitas dificuldades, não há dúvidas. No plano econômico, diariamente as informações que aparecem são as piores possíveis, inclusive a de que o país encontra-se em recessão.

 

No caso, está na hora de mudar a política econômica, tão reverenciada pela direita, que se assumisse o governo adotaria medidas ainda mais duras e perniciosas aos trabalhadores.

No plano político, a oposição de direita, leia-se PSDB, DEM e PPS, aumenta a pressão com o objetivo de antecipar o fim do mandato da Presidenta Dilma Roussef.

Nesse sentido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu a renúncia de Dilma. Apareceu até o líder estudantil dos anos 60, Vladimir Palmeira, hoje no PSB, pregando o mesmo que Cardoso acrescentando na sugestão que o povo vá às ruas fazer o pedido.

Alguns setores da esquerda fazem lembrar a ação em anos anteriores da história brasileira, como agosto de 1954, quando a extrema direita tentava derrubar o Presidente Getúlio Vargas.

Na ocasião, no dia 24 de agosto, os jornais do Partido Comunista e dos golpistas da UDN acantonados na Tribuna da Imprensa circularam com a mesma manchete pedindo o afastamento de Vargas, que respondeu com o suicídio, evitando na ocasião o bote dos seguidores de Carlos Lacerda.

O PC fez autocrítica, mas Lacerda continuou sua pregação que culminou no retrocesso de abril de 1964. Depois, quando perdeu a oportunidade de se tornar Presidente rompeu com os que tomaram o poder a força. Mas aí é outra história, que a academia pode se dedicar ainda mais para contar.

Hoje, a “esquerda”, sobretudo o PSTU, garante que se difere da direita defensora do fim do mandato de Dilma Rousseff, mas na prática defende também a renúncia de Dilma Rousseff.

Se Darcy Ribeiro ainda estivesse entre nós voltaria a dizer que se trata de uma “esquerda que a direita gosta”. No caso atual, pregar a renúncia de Dilma, dizendo que o pedido é feito em nome dos trabalhadores, é falsear os fatos e na prática estimular um retrocesso, já que essa tal “esquerda” não tem força para apresentar alguma outra opção de governo.

Hoje, na Justiça, há quem desencave o golpista de 54 e de abril de 64, Carlos Lacerda, como fez o Ministro Celso de Mello, decano do Superior Tribunal Federal, a instância máxima da Justiça brasileira.

No julgamento de um habeas corpus para um envolvido na Operação Lava Jato, Mello citou Lacerda, reproduzindo uma manifestação do golpista que afirmava em agosto de 1954 ter o Brasil “um governo de ladrões”.

O velho papo da UDN enfrentado heroicamente por Vargas, que evitou um golpe de estado dando um tiro no coração que provocou o adiamento do banquete da direita, que lamentavelmente acabou acontecendo em abril de 64 com o apoio ostensivo da CIA.

Como a direita não se emenda, os bisnetos dos golpistas de 54, os netos dos apoiadores do golpe de 64, os filhos dos defensores do regime repressivo empresarial militar que dominou o Brasil por 21 anos reaparecem em 2015 pregando o ódio nas ruas e nas redes sociais.

Alguns pregadores da antecipação do mandato de Dilma Rousseff chegam até a pedir o retorno do regime ditatorial que infelicitou o Brasil.
Parlamentares como Jair Bolsonaro não escondem a defesa do regime que foi o responsável pelo assassinato de opositores em quartéis e outras dependências do estado.

Bolsonaro se aproveita da democracia para na prática solapá-la. Pode-se imaginar o que aconteceria na Alemanha se aparecesse algum parlamentar defendendo as atrocidades cometidas durante o III Reich? Com certeza teria de responder na Justiça pela pregação.  Mas aqui, o boquirroto Bolsonaro exala ódio por todos os poros e nada acontece.

E se algum leitor eventualmente acreditar que o autor destas linhas exagera, vale mencionar a recente advertência do senador uruguaio e ex-presidente José Pepe Mujica.

Em sua passagem pelo Rio de Janeiro, Mujica disse acreditar na existência de fenômenos capazes de desestabilizar governos democraticamente eleitos na América Latina. E defendeu o governo Dilma Rousseff, que Mujica também admite, está sendo vítima de desestabilização pela direita.

No mais, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha segue por aí também exalando ódio por todos os lados. Ele continua a ocupar o cargo a que foi galgado com o apoio de seus pares conservadores desde o início do ano e já avisou que não sai apesar do Procurador Geral da República Rodrigo Janot  ter enviado ao STF denúncia sobre o recebimento de propina em uma transação na Petrobras.

Cunha ainda não é réu, mas pode vir a sê-lo no caso do STF aceitar as ponderações de Janot. O que se espera agora é que se ele virar mesmo réu não utilize as mesmas estratégias de outros processos para conseguir sair pela tangente na base de ações dos advogados, como aconteceu no processo que respondia acusado de corrupção, na Companhia Estadual de Habitação do Estado do Rio de Janeiro (CEHAB-RJ). Nem foi julgado, porque o processo se esgotou por decurso de prazo.

Trocando em miúdos, todo acusado de alto poder aquisitivo contrata bons advogados que se valem de manobras protelatórias visando exatamente que o acusado seja beneficiado não sendo julgado.

O Poder Legislativo, claro, se desmoraliza com o fato de Eduardo Cunha seguir no cargo, como se nada estivesse acontecendo. Até o Senador Aécio Neves Cunha percebeu que Eduardo Cunha perdeu força e então passou a afirmar que o deputado deve deixar a presidência da Câmara no caso de o STF decidir que ele será mesmo réu.

Aécio Neves Cunha joga para a plateia e já percebeu que o presidente da Câmara dos Deputados não tem mais poder de pouco tempo atrás e pode virar réu.

O Senador Fernando Collor de Mello já cumpriu a sua parte e ninguém deu bola para a sua defesa quando Rodrigo Janot estava sendo sabatinado. Tanto assim que somente um parlamentar, provavelmente o próprio Collor, votou contra a indicação de Janot.

Agora, resta aguardar o desenrolar dos acontecimentos e torcer para que não haja retrocessos no Brasil, que provavelmente atingiria toda a América Latina. É o que mais quer a direita, seja gênero Aécio Neves Cunha ou Jair Bolsonaro.

Mário Augusto Jakobskindjornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil). Consultor de História do IDEA Programa de TV trasnmitido pelo Canal Universitário de Niterói, Sede UFF – Universidade Federal Fluminense Seus livros mais recentes: Líbia – Barrados na Fronteira; Cuba, Apesar do Bloqueio e Parla , lançado no Rio de Janeiro.

Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.  

Artigo publicado originalmente em http://correiodobrasil.com.br/bisnetos-netos-e-filhos-de-golpistas/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20150901

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