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Carlismo versus carlismo por Juarez D. Bomfim

5 - 6 minutos de leituraModo Leitura

O carlismo é uma política baiano-nacional nascida de aspirações modernizantes de uma elite regional, nos marcos da chamada revolução passiva brasileira e na perspectiva de um autoritarismo instrumental.


A um mês das eleições municipais em
Salvador, dois candidatos, faces da mesma moeda, se destacam nos primeiros
lugares na intenção de voto do eleitor soteropolitano: ACM Neto e Antonio
Imbassahy.

Digo duas faces da mesma moeda porque
ambos simbolizam e significam a sobrevivência de uma política regional, quiçá
nacional, denominada "carlismo".

O que é o carlismo? Esse substantivo
sufixado deriva-se do nome de conhecido político baiano, que se destacou por
cinco décadas na condição de deputado estadual e federal, prefeito de Salvador,
governador da Bahia, ministro de Estado e senador da República – e
"desempregado" político (segundo Escariz), nas raras vezes que se alijou do
poder.

Na dificuldade de definir tal fenômeno político, comecemos por
dizer o que o carlismo não é: não é uma ideologia, uma doutrina, uma teoria ou
escola filosófica… Então, que é o neologismo carlismo?

Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
foi um "homo politicus" na acepção maquiavélica do termo. Aquele que para
conquistar e manter o poder é capaz de utilizar de todos os recursos imagináveis
(ou inimagináveis) . "Os fins justificam os meios". Porém, isso não é suficiente
para compreender ACM, porque (quase) todos os políticos são assim, alguns com
maior ou menor competência. O rei do mensalão José Dirceu é um desastroso
exemplo do segundo tipo (incompetência) .

O cientista político Paulo Fábio
Dantas Neto, na douta e culta linguagem acadêmica assim o define: "O carlismo é
uma política baiano-nacional nascida de aspirações modernizantes de uma elite
regional, nos marcos da chamada revolução passiva brasileira e na perspectiva de
um autoritarismo instrumental" .

Vamos tentar "debulhar esse milho"…
O carlismo adota, como diretriz, atuação na política partidária institucional,
na máquina pública e a sua interface com a atividade econômica privada, sendo
uma espécie de "lobby" das grandes corporações nacionais e transnacionais nas
suas relações com o Estado brasileiro. Assim, liga-se pragmaticamente com o
campo político liberal.

Através da ação e dos vínculos da Administração
estadual com o setor privado, isso ao qual se dá o nome de carlismo, será uma
tentativa nos marcos do autoritarismo brasileiro, de retirar a Bahia da letargia
econômica de décadas, o "enigma Baiano", que se beneficiará dos ciclos
desenvolvimentistas capitaneados pela Ditadura Militar, particularmente o II PND
do Governo Geisel – a implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari será um marco
nos anos 1970. Já na fase democrática, o Complexo Ford será significativa
referência posterior.

O carlismo é uma força que vai além
do falecido senador, pois está enraizada em vários segmentos da sociedade. Mesmo
antes da morte física do criador, a criatura (carlismo) já não dependia da
figura do seu líder. O carlismo vai além de ACM, pois se constitui como
estratégias adaptativas de uma elite política estadual para se manter e
beneficiar-se do poder.

O carlismo está entranhado em muitos
setores da sociedade. Daí que não seria errôneo dizer que em torno desse jeito e
estilo construiu-se uma "cultura política".

Podemos identificar algumas
características do carlismo. Não sendo ideológico e se organizando dentro da
estrutura da administração pública, o carlismo é fisiológico; clientelista;
nepotista. Daí a dificuldade em ser oposição: não poder se locupletar da viúva,
digo, dos recursos públicos.

O carlismo investe na cooptação de
indivíduos investidos de cargos públicos, num processo de arregimentação com
recursos do poder. Funciona através de padrão vertical de comando no contato da
cúpula com suas bases, municípios e bancadas legislativas; os processos
decisórios são realizados na cúpula com base em acordos.

Na sua estratégia de conquistar o
poder a qualquer custo, arquitetando o fracasso de um governo que não seja seu,
o carlismo age contrário ao interesse público, pois ao sufocar financeiramente a
administração municipal de Lídice da Mata e apostar no fracasso do governo
Wagner, atua contra a coletividade baiana e soteropolitana.

O surgimento de novos líderes
encerrou o ciclo do comando único que prevaleceu por décadas, inaugurando o
comando compartilhado. Isso abre a possibilidade de, em havendo conflito de
interesses político-eleitoral, representantes do carlismo buscarem alçar vôo
próprio, como é o caso do ex-prefeito Imbassahy.

O cientista político Paulo Fábio
considera que ACM Neto não se coloca como herdeiro de ACM. Porém, vai querer
herdar o espólio, mesmo não se colocando nessa posição. Tenta convencer o
eleitorado de que herdou do avô apenas as suas possíveis "qualidades".

Pode-se falar de um "carlismo
pós-carlista", que é pós no sentido de ser pós-ACM, mas carlista na tentativa de
manutenção de todos os elos da organização – no caso de ACM Neto.

Quanto a Imbassahy, há a ambição de
se tornar o principal expoente de um "Carlismo do B", dissidência fisiológica da
matriz original.

Reafirmando o que foi dito no início
dessa breve comunicação, consideramos que os dois candidatos melhor colocados na
intenção de voto nas pesquisas eleitorais de agosto, ACM Neto e Antonio
Imbassahy, são faces da mesma moeda. Cabe ao eleitor reconhecer.

Texto: Prof. Dr. Juarez Duarte Bomfim
– Dchf/Uefs / Postado em: 29/08/2008 às 14:07

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