Aldeia Nagô
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Carta a uma senhora que descansa em Inema, por Jorge Portugal

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

Presidenta querida, aqui lhe escreve um admirador de
primeiríssima fila ( lembra-se da expressão na Pousada do Carmo por
ocasião do Afro 21? A senhora me disse que adorou e até gostaria de
usá-la) e que tem a remota esperança de que estas mal traçadas cheguem
ao seu conhecimento.Mas o faço como os náufragos que jogavam garrafas ao
mar.


Longe de mim perturbar seu sossego, afinal se existe paraíso de
verdade, o Criador deve ter-se inspirado em Inema para fazer a praia de
lá.Contudo, o assunto que me traz aqui é um desses impulsos
insuportáveis que ficam perturbando nossa indignação até que a gente
desabafe.

Li, hoje num desses jornalões sudestinos, que a irreprovável FGV,
em pesquisa recente, chegou à conclusão de que um professor no Brasil
ganha sempre 40% a menos que qualquer outro profissional com o mesmo
nível de graduação.Ou seja, o profissional que é ponto de partida para
todos os demais profissionais tem o seu salário quase sempre reduzido à
metade do que ganham os outros.Escárnio? Ironia?Requinte de crueldade?
Será que não está aí a chave de todos os nossos gargalos no campo do
desenvolvimento social já que educação de qualidade é a única arquiteta e
provedora do futuro?Não sou educateca (obrigado, Gaspari), não escrevo e
nem falo pedagogês complicado, sou apenas um educador a cujo trabalho a
Bahia( e parte do Brasil) assiste todos os dias e, ao que eu saiba,
aprova.

Sei da sua paixão pela educação – aliás, a única presidente da
nação que utilizou cadeia nacional de rádio e TV para saudar o início do
ano letivo.Estou eufórico com o Pronatec, com a ampliação dos campi
federais de ensino superior, adoro-a revelando seus livros prediletos e
acompanhei – discreto mas extasiado – a senhora cantando todo o
repertório de Gilberto Gil, conhecendo as letras de cor, naquela mesma
Pousada do Carmo no Afro 21. "Essa é do ramo", pensei comigo!

Por isso, retorno ao assunto: que recém-formado(a) terá estímulo
para abraçar uma profissão que, de cara, já o deixará economicamente
inferiorizado ante as demais profissões? Num mundo cada vez mais regido
pelo dinheiro, que estudante genial ( de Química, Matemática, Física,
Inglês) , mas sem o ideal de nossa geração, sairá aos pulos da
universidade para reger classe no ensino médio?

Vem aí um novo PNE e eu lhe peço encarecidamente: ponha a mão
nisso.Chegue junto com autoridade e paixão e não deixe que a área
econômica trate com descaso os 10% do PIB para educação.China e Índia
não estão brincando.Não aceite brincadeiras também.Lembre-se de mestre
Anísio Teixeira: " O ensino público de qualidade é a única máquina de
fazer democracia".Com professores ganhando dignamente, essa máquina pode
até voar.

Abraço baiano cordial,

Jorge Portugal

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