Como ficam as oposições depois da eleição por Marcos Coimbra
Os resultados das eleições foram ruins para as oposições. E a
catástrofe só não foi maior porque uma de suas principais lideranças
ficou preservada. Se não fosse a vitória de Aécio em Minas, o panorama
seria pior.
As eleições para os governos estaduais não são um
consolo. O fato de o PSDB ter mantido o controle do Executivo em São
Paulo, Minas, Alagoas e Roraima, tê-lo conseguido no Paraná e o
recuperado em Goiás, no Pará e em Tocantins, é relevante, mas não muda o
quadro. Assim como não o alteram as vitórias do DEM em Santa Catarina e
no Rio Grande do Norte.
Nenhum desses resultados tem projeção
significativa fora das fronteiras de cada estado, a não ser, talvez, a
mudança de status de Beto Richa, que passou de ator municipal a
estadual. Em São Paulo e Minas, a troca de guarda nas administrações
tucanas se deu com a substituição de personagens nacionais (Serra e
Aécio) por figuras de expressão menos abrangente ou em início de
carreira (Alckmin e Anastasia). Nos demais estados, o fato de um partido
estar ou não no governo quer dizer pouco para a vida política
brasileira (por mais relevante que seja no plano local).
As
oposições se estadualizaram e perderam importância nacional. No Senado,
diminuíram de tamanho e de capacidade de expressão, com a derrota de
alguns de seus representantes mais emblemáticos. Na Câmara, seu recuo
foi ainda mais dolorido, pois não era esperado.
Na nova
Legislatura, as oposições não conseguirão impedir mudanças
constitucionais, e nem instaurar ou bloquear CPIs, duas das
prerrogativas que possuem. A menos que consigam se aproveitar das
fissuras que existem no condomínio governista, pouco lhes resta, a não
ser um papel simbólico.
Não é sempre ruim, para uma oposição, ser
pequena. No autoritarismo, pode até ser motivo de orgulho, sinal de como
é difícil resistir e da coragem de seus integrantes, como nos mostrou,
em passado recente, Ulysses Guimarães. Na democracia, contudo, o caso é
outro. Oposição pequena é apenas consequência da indiferença da maioria
para com suas propostas e candidatos, e da preferência dos eleitores
pelo governo.
O resultado da eleição presidencial é o pior. Perder
pela terceira vez consecutiva é preocupante, pois mostra que faz muito
tempo que ela não consegue responder ao sentimento majoritário das
pessoas. Ficar 12 anos longe do poder quer dizer, entre outras coisas,
ir sumindo da referência do cidadão comum, deixar de ser uma alternativa
concreta e real. Começa a ser um jogo em que você só tem chance se o
adversário errar.
Ter perdido como perderam é ainda mais negativo.
Sozinhas, as oposições fizeram menos de 30% do voto total no primeiro
turno e só foram ao segundo por obra de Marina Silva. Voltando às
metáforas futebolísticas, foi como um gol em que a bola é mal chutada,
mas entra, depois de esbarrar no juiz, desviar no defensor e tocar na
trave. O gol vale, ainda que o atacante comemore cheio de vergonha.
Do
final do primeiro turno ao segundo, a campanha Serra fez um desserviço
ao país e prejudicou as oposições no longo prazo. Procurando navegar nos
sentimentos mais retrógrados de nossa sociedade, apostou no atraso e se
esqueceu de sua biografia. Acabou protagonista de cenas lamentáveis.
Foi
uma candidatura errada do começo ao fim. E que quer, agora, uma
sobrevida errada. Com ela, as oposições perderam a possibilidade de se
renovar e se apresentar ao eleitorado com conteúdo e imagem nova.
Antes
de partir em viagem de descanso, Serra disse que não considerava
cumprida sua missão e que se despedia com apenas um "até breve". Para
ele, ao que parece, seria natural assumir a liderança das oposições ao
governo Dilma e voltar a ser candidato a presidente em 2014.
Talvez
para ele. Mas não para toda a oposição e, muito menos, para a
importante parcela da opinião pública que se identifica com ela.
Só
os mal informados achavam que Serra era a solução para as oposições nas
eleições deste ano. Agora, qualquer um vê que ele é o problema. Não é o
único, mas um dos maiores.
* Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi