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Como o Phubbing, ato de conversar checando celular, tem afetado as relações. Por Louisa Wright

4 - 6 minutos de leituraModo Leitura
Louisa_Wright

Você não verá Thseen Nazir checando seu telefone durante suas aulas na Universidade Ibn Haldun, em Istambul, na Turquia. Professor assistente do Departamento de Aconselhamento e Orientação Psicológica, ele pesquisa o impacto da tecnologia nas interações sociais, incluindo o efeito do “phubbing” – uma combinação das palavras phone (telefone) e snubbing (esnobar).

Se você está conversando com alguém e a pessoa continua checando seu telefone ou respondendo mensagens, você está sendo “phubbed”. O que pode parecer uma atividade inofensiva pode ter um impacto real nos relacionamentos. “Isso está nos roubando bons momentos”, diz Nazir. “E nós nem percebemos.”

Em alguns aspectos, os celulares ajudam a iniciar e manter relacionamentos: eles ajudam a encontrar companhia, permitem que as pessoas olhem nos olhos de familiares e amigos que estão longe e conectam apaixonados à distância. Mas o uso e até mesmo a presença de um celular durante as interações pessoais pode diminuir a qualidade desses momentos.

“Os celulares permitem que nos conectemos com nossos entes queridos facilmente por meio de mensagens de texto e ligações, mas às vezes podem ser um problema quando interferem em nossas conversas cara a cara” afirma Genavee Brown, professora de Psicologia da Universidade Northumbria, no Reino Unido.

Bons momentos

prejudicados O grau de problema pode depender da idade das pessoas envolvidas na interação. Em 2020, Nazir conduziu uma pesquisa com professores mais velhos e mais jovens em sua universidade e perguntou como eles se sentiam quando estudantes usavam seus telefones durante as aulas. “A percepção que eles tinham sobre esse comportamento era totalmente diferente”, frisou.

Ele descobriu que a maioria dos professores mais velhos via o uso de celulares como desrespeitoso; já os mais jovens começavam a se autoavaliar e se perguntar se suas habilidades de ensino eram a razão pela qual os estudantes não estavam interessados em suas aulas.

Mas não é apenas a pessoa que está sendo “phubbed” que vivencia os efeitos negativos do uso do telefone. A pesquisa de Brown, publicada na revista “Emerging Adulthood” em 2016, mostrou que quanto mais tempo pares de amigos usavam seus telefones, menor era a qualidade de suas interações. O estudo descobriu que todos os participantes tiveram interações piores quando usaram seus telefones, independentemente de quão próximos eram como amigos.

Outro estudo com 300 pessoas, publicado no “Journal of Experimental Psychology” em 2017, descobriu que aqueles que colocavam seu telefone sobre a mesa durante um jantar com a família ou amigos se sentiam mais distraídos, o que os fazia aproveitar menos o tempo com os outros.

O motivo importa.

Mas para muitas pessoas, especialmente as gerações mais jovens, ter o telefone sempre à vista é a norma. “Na conversa informal, é padrão que todos tenham o telefone na mão”, contou a alemã Milena, de 17 anos, à DW. “Como os jovens normalizaram isso, eu não acho rude, mas também não acho agradável. Pessoalmente, não gosto quando outra pessoa está falando, e os outros estão checando seus celulares no meio [da conversa]”.

Sua amiga Pauline, também de 17 anos, disse que o motivo pelo qual alguém está checando o telefone faz a diferença. “Não é agradável, mas eu pessoalmente não acho tão ruim”, afirmou Pauline. “Depende da razão e se é algo importante para a pessoa.”

Os participantes de um estudo recente nos EUA, publicado na revista “Human Behavior and Emerging Technologies”, concordam com essa hipótese. Descobriu-se que as pessoas se sentiam menos próximas de seu interlocutor quando o parceiro de conversação usava seu telefone por uma razão trivial, como fazer planos com amigos, em comparação com uma situação importante.

Mas os participantes também perceberam que seu interlocutor estava menos distraído se usassem o telefone por uma razão importante.

Mensagem subliminar.

Quando Nazir levou recentemente sua mãe para um exame, o médico checou seu telefone durante toda a consulta. Ao saírem do consultório, ele perguntou à mãe como ela se sentiu a respeito da visita.

“Acho que ele não me examinou”, afirma Nazir, citando sua mãe. “Ele estava ocupado com o celular.”

Nazir explica que a comunicação com alguém é muito mais do que apenas o aspecto verbal.

“Esquecemos que, quando estamos falando com alguém, precisamos prestar atenção não apenas à parte verbal, mas também nos concentrar em sua linguagem corporal.

“Thseen NazirProfessor, professor assistente do Departamento de Aconselhamento e Orientação Psicológica da Universidade Ibn Haldun.

Quando escolhemos priorizar nossos telefones em relação à pessoa à nossa frente, estamos enviando a ela uma mensagem subliminar. “Quando alguém está ‘phubbing’ diante você, a mensagem subliminar que você está recebendo é: ele tem prioridades, e essa prioridade agora é seu celular”, diz o pesquisador.

Quando uma pessoa compartilha uma história emocionante com alguém que começa a checar seu telefone, isso pode fazer com que ela sinta que seu interlocutor não se importa com o que ela tem a dizer.

“Isso definitivamente o fará sentir que: ‘Eu não sou importante, não valho [a pena]. Minha história, qualquer dor que eu esteja tendo agora, qualquer coisa que eu esteja compartilhando agora, para essa pessoa não importa'”, aponta Nazir.

Soluções para quebrar o hábito

Existem algumas soluções criativas para as pessoas que querem usar menos o telefone durante as interações pessoais. Algumas pessoas usam bloqueadores de aplicativos ou de internet, enquanto outras trancam seus telefones em um contêiner com um temporizador. Uma empresa até projetou uma fita que pode ser colocada em torno do smartphone com o lembrete “olhe para cima”.

Mas Brown disse que sua recomendação sobre boas maneiras em relação ao uso do telefone seria a comunicação: ela sugere refletir sobre o porquê de preferir usar o telefone a passar tempo com amigos ou o parceiro.

Se é seu amigo ou parceiro que costuma usar o telefone, a sugestão é conversar sobre o assunto e perguntar por que fazem isso. “Você poderia então compartilhar como se sente quando ele usa o telefone e tentar trabalhar em conjunto para uma solução”, conclui Brown.

Artigo publicadoo em https://www.uol.com.br/tilt/ultimas-noticias/deutschewelle/2021/05/16/como-o-phubbing-ato-de-conversar-checando-celular-tem-afetado-as-relacoes.htm

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