Aldeia Nagô
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Como operar a transição do velho para o novo paradigma por Leonardo Boff

4 - 5 minutos de leituraModo Leitura

Damos por já
realizada a demolição crítica do sistema de consumo e de produção
capitalista
com a cultura materialista que o  acompanha. Ou o superamos
historicamente ou
porá em grande risco a espécie humana.
A solução para a crise não
pode vir
do próprio sistema que a provocou. Como dizia Einstein:"o pensamento que
criou o
problema não pode ser o mesmo que o solucionará". Somos obrigados a
pensar
diferente se quisermos ter futuro para nós e para a biosfera. Por mais
que se
agravem as crises, como na zona do Euro, a voracidade especulativa não
arrefece.


O dramático de nossa
situação reside no fato de que não possuimos nenhuma alternativa
suficientemente
vigororosa e elaborada que venha substituir o atual sistema. Nem por
isso,
devemos desistir do sonho de um outro mundo possível e necessário. A
sensação
que vivenciamos foi bem expressa pelo pensador italiano Antônio
Gramsci:"o velho
resiste em morrer e o novo não consegue nascer".

Mas por todas as partes
no mundo há uma vasta semeadura de alternativas, de estilos novos de
convivência, de formas diferentes de produção e de consumo. Projetam-se
sonhos
de outro tipo de geosociedade, mobilizando muitos grupos e movimentos,
com a
esperança de que algo de novo poderá eclodir no bojo do velho sistema em
erosão.
Esse movimento mundial ganha visibilidade nos Fórums Sociais Mundiais e
recentemente na Cúpula dos Povos pelos direitos da Mãe Terra, realizada
em abril
de 2010 em Conchabamba  na Bolivia.

A história não é linear.
Ela se faz por rupturas provocadas pela acumulação de energias, de
idéias e de
projetos que num dado momento introduzem uma ruptura e então  o novo
irrompe com
vigor a ponto de  ganhar a hegemonia sobre todas as outras forças.
Instaura-se
então outro tempo e começa nova história.

Enquanto
isso não
ocorrer, temos que ser realistas. Por um lado, devemos buscar
alternativas para
não ficarmos reféns do velho sistema e, por outro, somos obrigados a
estar
dentro dele, continuar a produzir, não obstante as constradições, para
atender
as demandas humanas. Caso contrário, não  evitaríamos um colapso
coletivo com
efeitos dramáticos.

Devemos, portanto, andar
sobre as duas pernas: uma no chão do velho sistema e a outra no novo
chão, dando
ênfase a este último. O grande desafio é como processar a transição
entre um
sistema consumista que estressa a natureza e sacrifica as pessoas e um
sistema
de sustentação de toda vida em harmonia com a Mãe Terra, com respeito
aos
limites de cada ecossistema e com uma distribuição equitativa dos bens
naturais
e industriais que tivermos produzido. Trocando idéias em Cochabamba com o
conhecido sociólogo belga François Houtart, um dos bons observadores das
atuais
transformações, convergimos nestes pontos para a  transição do velho
para o
novo.

Nossos paises do Sul devem em primeiro lugar,
lutar, ainda
dentro do sistema vigente, por normas ecológicas e regulações que
preservem o
mais possível os bens e os serviços naturais ou trate sua utilização de
forma
socialmente responsável.

Em segundo lugar,
que os paises do grande Sul, especialmente o Brasil,  não sejam
reduzidos a
meros exportadores de matérias primas, mas que incorporem tecnologias
que dêem
valor agregado a seus produtos, criem inovações tecnologias e orientem a
economia para o mercado interno.

Em terceiro lugar,
que exijam dos paises importadores  que poluam o menos possível e que
contribuam
financeiramente para a preservação e regeneração ecológica dos bens
naturais que
importam.

Em quarto lugar,
que cobrem uma legislação ambiental internacional mais rigorosa para
aqueles
 que menos respeitam os preceitos de uma produção ecologicamente
sustentável,
socialmente justa, aqueles que relaxam na adaptação e na mitigação dos
efeitos
do aquecimento global e que introduzem medidas protecionistas em suas
economias.

O mais importante de
tudo, no entanto, é formar uma coalizão de forças a partir de governos,
instituições, igrejas, centros de pesquisa e pensamento, movimentos
sociais,
ONGs e todo tipo de pessoas ao redor de valores e princípios
coletivamente
partilhados, bem expressos na Carta da Terra, na Declaração dos Direitos
da Mãe
Terra ou na Declaração Universal do Bem Comum da Terra e da Humanidade
(texto
básico do incipiente projeto da reinvenção da ONU) e no Bem Viver das
culturas
originárias das Américas.

Destes valores e
principios se espera a criação de instituições globais e, quem sabe, se
organize
a governança planetária que tenha como propósito preservar a integridade
e
vitalidade da Mãe Terra, garantir as condições do sistema-vida,
erradicar a
fome, as doenças letais e forjar as condições para uma paz duradoura
entre os
povos e com a Mãe Terra.

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