Como retornam a países emergentes alunos de Universidades dos EUA? Por André Araújo
A influência americana sobre corações e mentes não se dá por um plano estruturado de determinado governo ou Presidência, e sim por um sistema de atração intelectual que vem dos anos 20, com o cinema e a disseminação do “american way of life”, como sendo o modo mais elevado de vida na Terra.
Esse “imã” atrator funciona em qualquer governo americano, Democrata ou Republicano, é automático e os países emergentes caem na rede da aranha como insetos, sentem uma atração inexplicável para cair nessa rede, uma espécie de néctar: os induz a ser catequizados.?
O sistema influencia muito mais as pessoas de origem simples, não influencia as pessoas de elite, que são, em geral, criticas do “american way of life”, motivo de piadas nas altas rodas do mundo. Sobre mentes simples, o sistema produz um efeito religioso e os convertidos passam a agir como americanos, sem uma visão crítica dos muitos defeitos do “american way of life”, um modelo de vida que tem pontos positivos e muitos, cada vez mais, pontos negativos.
A grande arma são os “cursos e treinamentos’ nos EUA. Há um aproveitamento bom nos cursos de Ciências Exatas e muito ruim nas Ciências Humanas, especialmente Economia e Direito. Os economistas formados nos EUA são devastadores para os países que lhes enviaram, economia é uma ciência que exige compreensão histórica de alto nivel, o método americano de ensino de economia dava (hoje já está mudando) maior valor a formulas matematizadas e padrões fixos, formando viés para os que retornam com a cabeça cheia de padrões, que podem ser lógicos na economia americana, mas são estranhos nas economias emergentes.
E os que fazem Direito para uso no mundo corporativo privado pensam viver em função de multinacionais, único universo onde o aprendizado se aplica, especialmente na área de contratos, os cursos LLM atraem brasileios que forçosamente se convertem ao “ethos” cultural subliminar dos EUA. Mas o mais grave de todos esses treinamentos é quando o aluno vem e volta para o Direito Público, aí o ensino americano é trágico para o País que mandou o aluno. E o pior é que o Estado geralmente paga esse custoso treinamento, após o qual o “treinado” passa a operar dentro da “teia” de relacionamentos e influência cultural do sistema americano, que é COMPLETAMENTE diferente do sólido e muito mais profundo sistema jurídico brasileiro, baseado no direito romano e no sistema de direito positivo do Código Napoleão, mais sofisticado do que o “Common Law” anglo-americano.
No caso dos economistas, a devastação causada nos países emergentes é lendária, países foram destruídos por esses economistas, que voltam totalmente “lavados” pelos seus mestres e sem a capacidade de fazer adaptações críticas a seus países. Passam a ser críticos de tudo o que existe e acontece em seus locais de origem, querem empurrar reformas à força para chegar o mais perto possivel do que aprenderam, e o padrão de tudo passa a ser o modelo que lhes carimbaram na cabeça. O pior é que muitos desses convertidos fazem cursos pagos pelo Estado brasileiro.
Essa atração pela matriz é impressionante. Um caso emblemático foram os últimos dois capitães da equipe econômica do Governo Dilma: Joaquim Levy e Alexandre Tombini. O primeiro Ministro da Fazenda e o segundo Presidente do Banco Central, um governo de esquerda e que se presume que deveria ter comandantes com uma visão nacional. Ambos deixaram seus cargos e imediatamente foram morar e trabalhar aonde: nos Estados Unidos, impressionante.
As equipes econômicas desde o Plano Real se encaixam nesse padrão inteiramente americanizado no pior sentido do termo. Presume-se (é falso) que os “mercados” só aceitam economistas deste perfil. Na verdade, os mercados aceitam qualquer coisa, eles sempre se adaptam, até em guerras e revoluções. Delfim Neto jamais teve esse perfil e comandava o mercado, é uma questão de personalidade e postura. Um País não precisa ser subserviente para ser respeitado pelos mercados, os comandantes das economias da Russia, India e China não têm perfil “americanizado” e são respeitados pelo que são seus países, como potências econômicas.
O livro clássico de Maria Rita Loureiro “Economistas no Governo” explora esse filão da americanização da politica econômica brasileira, é essa a maior devastação da colonização cultural que, depois disso, atravessou a ponte e passou a contaminar também o Direito, área tradicionalmente nacional na História brasileira, hoje também colonizada.
Os EUA souberam vender muito bem seus “cursos” para brasileiros basbaques, o Brasil é o País que mais manda alunos para universidades americanas. Atualmente, 220.000 grandes universidades americanas tem escritórios em São Paulo para atrair alunos-clientes. O Estado brasileiro chegou a pagar, em um mesmo ano, 10.000 cursos no exterior, alguns desses poderes “autônomos” pagam seus membros para cursos infindáveis, um emendado no outro. Pagam o curso e mantêm o emprego e salário no Brasil, assim os alunos voltam catequizados contra o Estado que lhes pagou o curso.
Artigo publicado originalmene em http://jornalggn.com.br/noticia/como-retornam-a-paises-emergentes-alunos-de-universidades-dos-eua-por-andre-araujo