Aldeia Nagô
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Consumo solidário e responsável. Por Leonardo Boff

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

O consumismo que a cultura do capital gestou está na base da fome de bilhões de
pessoas e da atual falta de alimentos da humanidade. Face a tal situação como
deveria ser o consumo humano?


Em primeiro lugar o consumo deve ser
adequado à natureza do ser humano. Esta, por um lado, é material,
enraizada na natureza e precisamos de bens materiais para subsistir. Por outro
lado, é espiritual que se alimenta com bens intangíveis como a solidariedade, o
amor, a acolhida e a abertura ao Infinito. Se estas duas dimensões não forem
atendidas nos tornaremos anêmicos no corpo e no espírito.  Em segundo lugar, o
consumo precisa ser justo e equitativo. A Declaração dos Direitos
Humanos afirma que a alimentação é uma necessidade vital e por isso um direito
fundamental de cada pessoa humana (justiça) e conforme as singularidades de cada
um (equidade). Não atendido este direito, a pessoa se confronta diretamente com
a morte.

Em terceiro lugar, o consumo deve ser solidário. É
solidário aquele consumo que supera o individualismo e se auto-limita por causa
do amor e da compaixão para com aqueles que não podem consumir o necessário. A
solidariedade se expressa pela partilha, pela participação e pelo apoio aos
movimentos que buscam os meios de vida, como terra, moradia e saúde. Implica
também a disposição de sofrer e de correr riscos que tal solidariedade comporta.

Em quarto lugar, o consumo há de ser responsável. É responsável o
consumidor que se dá conta das consequências do padrão de consumo que pratica,
se suficiente e decente ou sofisticado e suntuoso. Consome o que precisa ou
disperdiça aquilo que vai faltar na mesa dos outros. A responsabilidade se
traduz por um estilo sóbrio, capaz de renunciar não por acetismo  mas por amor e
em solidariedade para com os que sofrem necessidades. Trata-se de uma opção pela
simplicidade voluntária e por um padrão conscientemente contido, que não se
submete aos reclamos do desejo nem às solicitações da propaganda. Mesmo que não
tenha consequências imediatas e visíveis, esta atitude vale por ela mesma.
Mostra uma convicção que não se mede pelos efeitos esperados mas pelo valor que
esta atitude humana possui em si mesma.

Por fim, o consumo deve ser
realizador da integralidade do ser humano. Este tem necessidade de
conheciemento e então consumimos os muitos saberes com o discernimento sobre
qual deles convém e edifica. Temos necessidade de comunicação e de
relacionamentos e satisfazemos esta necessidade alimentando relações pessoais e
 sociais que nos permitem dar e receber e nesta troca nos complementamos e
crescermos. Às vezes esta comunicação se realiza participando de manifestações
em favor da justiça, da reforma agrária, do cuidado pela água potável, da
preservação da natureza, ou também vendo um filme, assistindo a um concerto,
indo a um teatro, visitando uma exposição artística, participando de algum
debate. Temos necessidade de amar e de sermos amados. Satisfazemos esta
necessidade amando com gratuidade as pessoas e os diferentes de nós. Temos
necessidade de transcendência, de ousarmos e de estarmos para além de qualquer
limite imposto, de mergurlharmos em Deus com quem podemos comungar. Todas estas
formas de consumo realizam a existência humana em suas múltiplas dimensões.

Estas formas de consumo não custam e não gastam energia, pressupõem
apenas o empenho e a abertura para  a solidariedade, para a compaixão e para a
beleza.

Tudo isso não traduz aquilo que pensamos quando falamos em
felicidade?

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