Contra o Projeto do BRT Salvador. Por Jean Wyllys
Salvador iniciou a obra do seu BRT, um tipo de ônibus articulado que circula por via exclusiva. Iniciativa importante para o transporte coletivo, mas que chama a atenção por certos indícios de irregularidades e pela verdadeira devastação que produzirá.
A obra, tocada pela prefeitura de ACM Neto, foi financiada a toque de caixa às vésperas da votação da admissibilidade de um dos processos contra Temer no Congresso Nacional. O Democratas, partido de Neto, é parte da base governista e também se aproveitou do balcão de negócios pela impunidade presidencial.
ACM Neto tem muito a explicar a respeito: primeiro, porque o custo por quilômetro chega a ser três vezes maior do que o do BRT de Brasília, ou duas vezes maior que o do Rio de Janeiro. O primeiro trecho, de menos de três quilômetros, custa quase 400 milhões, e liga dois pontos da cidade que já são satisfatoriamente atendidos por linhas de ônibus e de metrô, enquanto outras áreas onde há real necessidade não verão o BRT passar.
O projeto, reclamam os especialistas, é atrasado e predatório: ao invés de circular em uma faixa exclusiva em vias já existentes, com intervenções mínimas e custo muito menor, o BRT circulará por uma nova via, com diversos viadutos e elevados. A construção de pistas elevadas é um problema urbano sério, que está começando a deixar de fazer parte da vista das cidades. No Brasil, o Rio de Janeiro já eliminou um deles, o Perimetral, cuja presença foi responsável pela degradação da vizinhança. Nos tempos atuais, ninguém os pode considerar uma solução viável!
Há ainda outra questão grave e urgente: as obras, como previstas no estudo de impacto ambiental encomendado pela própria prefeitura, implicarão na remoção de mais de quinhentas árvores, muitas centenárias, e o tamponamento de dois rios. Não há discussão com a sociedade civil, e nem há uma definição clara a respeito do Dique do Tororó, outro monumento histórico ameaçado pelas obras. Não houve sequer consulta ao Iphan, confirmando que o planejamento prévio das ações foi substituído pela pressa e pela canetada, coisas típicas em obras eleitoreiras. Caras, ineficientes e, quase sempre, marcadas pelo superfaturamento e corrupção.
Da forma como está, há um enorme risco à cidade de Salvador. Cidade onde vivi grande parte da minha vida, e que conheço muito bem em suas profundas desigualdades. Risco concreto de que as intervenções urbanas previstas tenham um efeito perigoso no microclima, nas políticas urbanas e na perpetuação de um modelo danoso que já era tocado há décadas por Antônio Carlos Magalhães e que está ainda em prática por ação de seu neto. Há um movimento de resistência à ação da prefeitura, ao qual dou profundo apoio. O movimento NÃO AO BRT SALVADOR sairá às ruas, no domingo, às 9h, no canteiro em frente ao Hospital Aliança.
É preciso e urgente!