Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Crítica de Haddad à mídia não inclui os próprios erros. Por Gabriel Priolli

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura
gabriel-priolli2

Depreende-se do texto que Haddad sofre da mesma soberba que critica em Dilma, corretamente, embora a sua tenha mais a configuração de vaidade acadêmica. Ambos parecem ter dificuldade de enxergar o próprio papel nos fatos de que participaram em posição-chave, imputando as derrotas que sofreram apenas a fatores externos e nunca a seus próprios erros.

O depoimento-ensaio de Fernando Haddad, publicado na revista piauí e reproduzido aqui no Nocaute, é certamente um texto político de alta octanagem, razão pela qual, com toda justiça, ele já incendeia o debate público.

O texto contém inúmeros temas que merecem ser dissecados e no mínimo um furo jornalístico – a informação de que os presidentes Putin e Erdogan, da Rússia e da Turquia, telefonaram para Dilma em 2013, para alertá-la sobre a possível orquestração externa das chamadas Jornadas de Junho.

Depreende-se do texto que Haddad sofre da mesma soberba que critica em Dilma, corretamente, embora a sua tenha mais a configuração de vaidade acadêmica.

Ambos parecem ter dificuldade de enxergar o próprio papel nos fatos de que participaram em posição-chave, imputando as derrotas que sofreram apenas a fatores externos e nunca a seus próprios erros.

A análise que Haddad faz da imprensa é um bom exemplo disso. O depoimento é precioso ao traduzir em experiência concreta, fatos palpáveis, tudo que os críticos apontam de partidarismo, manipulação e uso interesseiro dos meios de comunicação, pela elite que os controla.

Ficamos sabendo que um dos irmãos Marinho tentou convencer Lula a disputar a eleição em 2014, negando a vaga de reeleição a Dilma. Assim como o seu pai procurou direcionar a política brasileira desde 1925, quando assumiu a direção de O Globo.

Ficamos sabendo que a Record fez campanha contra Haddad na prefeitura porque construiu o Templo de Salomão de forma irregular, e teve despesa alta para regularizá-lo.

Soubemos que a Bandeirantes também partiu para o ataque quando Haddad vetou a Fórmula Indy no Anhembi, que atrapalhava o trânsito na cidade e não trazia recursos significativos para o turismo.

Vimos como a Folha, ciosa do seu progressismo, serviu à demolição do projeto de educação e de tolerância com a diversidade sexual lançado por Haddad no Ministério da Educação, contribuindo para reforçar o preconceito ao difundí-lo como um terrível “kit gay”. Apenas para não valorizar uma boa iniciativa petista.

Haddad também nos divertiu bastante ao incluir Estadão, Record, Bandeirantes e rádio Jovem Pan na “segunda divisão” da mídia paulista, que é a série em que, efetivamente, elas disputam o poder midiático – embora sejam muito boas de ataque.

Ocorre, entretanto, que assim como o PT é historicamente incompetente e negligente com a comunicação, Fernando Haddad também foi, nas suas passagens pelo poder federal e municipal.

Ao tempo do MEC, Haddad desconsiderou totalmente a rede de televisão universitária que eu e colegas de todo o país organizamos, e que poderia articular 150 canais para fortalecer a educação em todos os níveis, sobretudo a educação de cidadania.  Ele nunca nos deu o apoio que tanto solicitamos.

Na Prefeitura, Haddad foi ingênuo ao não fazer publicidade, em nome da economia de recursos, erro que João Dória não comete.

Também desconsiderou outra fabulosa ferramenta à sua mão, o Canal da Cidadania, previsto na regulamentação da TV digital, que custaria pouco implantar e daria à Prefeitura uma voz autônoma de comunicação com a cidade de São Paulo.

Só lembrou dele na campanha eleitoral de 2016, depois de anos de apelos angustiados que tantos lhe fizeram.

As mazelas da mídia brasileira estão cada vez mais expostas e vão exigir uma reforma séria, quando a democracia e a republicanismo voltarem ao país.

Mas é também indispensável que os erros e vacilações da esquerda, nesse campo da comunicação, sejam igualmente expostos e criticados, para que, em caso dela voltar ao poder, não nos ofereça mais do mesmo.

Artigo publicado originalmente em http://www.nocaute.blog.br/brasil/critica-de-haddad-midia-nao-inclui-os-proprios-erros.html

Compartilhar:

Mais lidas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *